Memórias de uma bruxa



 

                                      

ELA: "Feiticeira e guardiã do dia... Entre o cair da noite e o nascer do sol... Posso enfeitiçar minhas letras tornando-as em poesias e seduzindo além das ultimas fronteiras...

Diálogo 1º


Tudo tem inicio numa época distante onde os campos eram de um verde intenso e luminoso, havia vozes que ecoavam além daquelas florestas, eram minhas amiga no labirinto onde eu caminhava todos os dias.
Eu era uma menina simples, uma plebeia...
Vivi ali por toda minha história, era filha da lua, dona das almas e assim fui chamada.
Nasci no bosque das rosas escarlates e delas ganhei meu perfume.
Voltar aqui, é como viver novamente...

Diálogo 2º

Incrível como algumas pessoas insistem em não acreditar em vidas passadas, mesmo assim eu contar-lhes-ei a minha historia de um passado longínquo, contar-lhes-ei daqueles dias cheios de grandes e ousadas aventuras...
O ano era 1.119 D.C.

Eu era uma jovem Camponesa filha da grande mãe, a época não me era favorável, os cavalheiros de Deus nos perseguiam por termos outra crenças, por isso me separei de minhas irmãs e fui viver longe da cidade, num lugar que chamo de meu.
Meu quintal meu jardim tinha quase tudo que precisava, cultivava minhas rosas para vender na cidade e trocar por coisas que não podia tirar da natureza.
Mas aquele dia foi diferente, senti em meu sangue que nada seria mais como antes, a chuva que molhava meu corpo e a terra que tocava meus pés me confirmavam que tudo mudaria.
Teria chegado para meu bem e meu mal o que eu mais temia, uma alegria misturada a uma tristeza invadiu minha alma e estática sorri para ele, relembrando um passado e um futuro distante.
E fechei meus olhos, e disse para minha grande mãe: Sim eu o aceito...
E fiquei ali estática vendo ele descer de sua montaria, e como se nunca tivesse afastado de min, toquei sua malha, delicadamente toquei sua face, e respondendo sua pergunta disse: Me chamo Alma das Rosas, e o conduzi entre minhas rosas...

Diálogo 3º

Sei como devo me portar á chegada de um cavaleiro, mesmo sabendo dentro do meu sangue que ele era diferente agi naturalmente, conduzindo para dentro de minha cabana oferecendo abrigo a ele e seu cavalo...

Senhor, nada tenho de valioso em minha casa. 
Sou filha de bastarda de algum cavaleiro com uma empregada camponesa, fui abandonada ao nascer e criada pela parteira com outros e outras que ela sempre socorreu.
Com ela aprendi tudo que sei vivo da terra.
Com sua morte meus irmãos e irmãs se foram e eu fiquei com a casa, como não pude mante-la por conta dos impostos para pagar me deitei com vários cavaleiros, não querendo mais isto para minha vida, vim para cá e volto apenas para vender minhas flores, alguns remédios caseiros e fazer alguns partos.
Posso lhe oferecer água, um prato de sopa quente, e um lugar para passar a noite, ao seu cavalo tem um abrigo atrás da casa onde ele pode passar a noite seco, água e algumas frutas, se isto não for o suficiente apenas tenho meu corpo, peço apenas que seja gentil comigo e não conte aos cobradores onde vivo.
Senhor isto é tudo que tenho...

Diálogo 4º

Senhor,
Entenda minha reserva como lhe disse minha vida foi dura até hoje.
Contei-lhe tudo sobre minha história, que ele ouviu como se alimentasse dela.
Aceitou o alimento que partilhei com prazer, era bom se sentir acompanhada e no intimo me sentia protegida. Ele tinha nos olhos fogo, água, terra e ar...
Jamais conheci alguém que tivesse os quatro elementos e me rendi ao seu olhar, e enquanto lhe contava minha história levantou-se e veio até mim e me abraçou beijando-me a fronte. 
Senti meu coração se aquecer e sabia que estava perdida nos braços do homem que mudaria minha vida, me agarrei ao seu abraço como pudesse me purificar do peso dos outros que tive de suportar...
Ele me conduziu até minha cama me dando um beijo no rosto e sem nada dizer supliquei com olhos para que se deitasse comigo, dormi tranquila em seus braços entre lágrimas e beijos...
Eu o amava, sim já o amava como nunca amei ninguém.
Amanhecemos abraçados como os amantes que eu já ouvira em histórias, e desejei toca-lo.
Desejei ter seu peso sobre mim, mas ele tinha seus votos coisa que me explicara com muita devoção e resolvi me guardar, mas não pude deixa-lo ir e pedi para me ajudar com alguns afazeres o qual me ajudou nos dias que se sucederam, em sua companhia os tempos passavam rápidos demais.
O jeito de como cortava a lenha era sublime e intocável...
E feliz voltei a cantar e dançar para minhas rosas...
Até que algo aconteceu, e ele me disse que deveria partir, servir seu Deus...
Sem mais sai de sua frente e fui chorar no lugar onde minhas lágrimas são insignificantes, nas águas do rio que passava logo atrás da cabana.
Me despi e mergulhei, chorando baixinho...

Diálogo 5º

Chorei em meio as águas toda dor pela separação, não quis me despedir, não fui vê-lo partir....
Depois de corpo e alma lavada agradeci a grande mãe por me deixar chorar em seu leito e sai, apenas ouvi de longe o galopar de seu cavalo, sabia que não poderia prende-lo comigo, sabia que não poderia toca-lo e enxugando minhas lágrimas fui colher minhas rosas...
Era tempo de ir vende-las na cidade, precisava encontrar  algumas mães que já estavam em tempo de dar a luz.
Eu era responsável por ajudar a trazer algumas vidas ao mundo e não poderia deixar de fazer lo...
Um dia caminhando até a cidade.
Chego e vou primeiramente a casa de uma irmã de espírito nos abraçamos e conto a ela sobre o viajante, não digo que faz parte das cruzadas pois ela me recriminaria, muitas de nós foram mortas e abusadas por eles, proibidas de louvar a grande mãe então não nos reuníamos mais para celebrações e dizer isso a ela seria um afronto mais precisava dizer que meu coração estava triste por sua partida, ela me abraçou e disse que o que é nosso sempre volta...
Os dias se passaram sem mais problemas, vendi minhas flores, trouxe algumas vidas ao mundo, comemorei o equinócio de Mabon junto a minha irmã com fartura da colheita.
Mabon é o Deus do amor, por isso neste sabbat devemos pedir felicidade amorosa pelas pessoas que temos especial afeição.
E ela me presenteou com um lindo vestido que cerziu com carinho como presente por mais um ano de vida completado, não sei a data precisa de quando nasci então comemoro junto ao equinócio mas completei 18 anos.
Torcan torrach, torcan torrach
Sonas curran corr orm!
Micheal mil a bhi dha’m chonuil
Bríde gheal dha’m chòmhnadh.
Piseach linn gach piseach,
Piseach dha mo bhroinn;
Piseach linn gach piseach,
Piseach dha mo chloinn!

Então, me despedi e parti voltando para minha cabana solitária pelos caminhos da estrada junto a margem do rio e vê-lo correr senti saudade por saber que poderia estar em qualquer parte deste mundo a fora...

Dialogo 6º

Eu estava voltando para minha cabana, nas margens das águas cristalinas do rio ao qual parei para molhar os pés.
E uma brisa tocou minha face, levantei os olhos lentamente, meus olhos o fitaram no horizonte e pude vê-lo partindo na pequena embarcação e não sei bem porque desejei que ele me visse...
Percebi que ele olhava para dentro da minha alma, que sentia o que trazia no peito e por impulso viria até mim, mas não era o momento, recuando  assenti com a cabeça deixando-o partir para seu mundo...
Olhando-o com os espelhos da minha alma, acariciei a sua dizendo vá meu amado estarei a sua espera dure o tempo que durar.
Me fez uma reverência a qual pude saber que estava em paz e partiu, e o amei mais por isso, e acreditei mais nele por isso, e o desejei mais por isso.
Por ele ser quem é, por saber o que deve fazer, por me entender além das palavras, por me sentir...
Sem olhar para traz parti para minha cabana, mas agora feliz, com o coração leve, e cantei por todo o caminho com coração e espírito.
A noite dancei para a lua, abri o círculo mágico e nele entrei com a rosa mais linda que colhi, nua por completo para oferecer toda minha pureza e felicidade para minha mãe e beijando a rosa mandei meu perfume a ele que já deveria estar léguas dali...

Dialogo 7º

Os dias se passavam lentos na cabana, mas eu aprendi a viver a cada dia como se fosse o ultimo.
A saudade era grande mas eu a transformava em amor por cada ato que fazia, pois não estava mais só, não vivia mais apenas para mim.
Tinha por quem esperar, e mesmo sem dizer a ele volte para mim com palavras, eu disse em meu coração e sabia que ele voltaria, sim eu estava feliz e olhava para minhas rosas com outros olhos, os olhos de uma criança quando admira algo belo, e me pegava cantarolando e dançando pois meu coração estava alegre.
Meus afazeres tinham mais sentido, minha comida mais sabor, e enfeitei a casa com flores, e colori os lençóis, tudo com mais vida e mais cor e desta vez me vi no espelho, não como antes, não com os mesmos olhos e me vi mulher...
Admirada com a beleza diante do espelho, era eu, não só por fora, não só física, era eu por dentro, a beleza material e física apenas é o retrato de nossa alma, e a minha estava acesa, vistosa, e me senti bela, os olhos mais negros e profundos a ponto de me perder em meu olhar, os cabelos longos e negros mais sedosos a cair pelo corpo, a pele mais alva e sedosa, a boca mais vermelha, o colo mais vistoso, eu era mulher enfim, e sorri para mim diante do velho espelho e coloquei uma rosa vermelha no cabelo contemplando-me...
Sabia que sua jornada era dura e cruel e a noite meu sono não vinha pensando nele, e ficava a olhar as estrelas. E pedia a grande mãe para acalmar seu coração levando meu beijo para ele poder dormir e descansar, não entendia porque seu Deus era tão severo, mas me restava esperar por ele, pela volta de sua batalha...
Os dias aqui se passavam assim, com saudade, mas feliz por quem ter saudade...
Mas um dia senti um aperto cruel em meu peito, e o medo e a dor vinha de longe, acordei molhada em suor e lágrimas, e choro entre soluços assustada....



Diálogo 8º

Corri para fora da cabana ainda em prantos e soluços de joelhos cai na terra o medo foi passando.
Senti a brisa quente em meu rosto como quem me dizia: Calma está tudo bem... aos poucos meu coração foi se aquetando, mas a saudade e o medo por sua segurança era palpável não pude mais dormir naquela noite voltei para a varanda e fiquei vendo o dia nascer abraçada a mim mesma, e mais uma vez meu coração me confirmava.
Você o ama, para seu bem e seu mal você o ama...
O Sol nasce e é lindo, e vou colher algumas frutas e ervas com a saudade como minha companheira, nunca quis ser ou ter nada mas agora quero...


Diálogo 9º

Estou cozinhando, e ouço uma confusão lá fora... 
As galinhas se debatem, gritos, saio correndo para ver o que acontece, são alguns bárbaros por volta de uns quatro.
Dois saltam dos cavalos, sinto medo, ninguém além dele tinha chegado ali, tinha achado minha cabana, mas grito: 
O que querem aqui, não há nada !
O mais velho gargalha solta o cavalo e me pega pelo pulso, me debato tento me soltar sem conseguir, ele me cheira e diz aos outros que cheiro a rosas...
O mais moço me pergunta o que tenho de valioso, respondo que nada.
Os que ainda estão montados destroem minhas rosas apenas por diversão...
O mais velho diz aos outros que quer uma diversão já que não tenho nada a oferecer, entro em pânico minha dor ultrapassa o corpo só de pensar em pertencer a outro se não ao meu amor, me desespero, luto enquanto ele tenta me agarrar, os outros apenas olham e riem...

Dialogo 10º

O velho me arrastava puxando-me pelos braços e cabelos, os outros nos seguem rindo e se divertindo.
Estão todos bêbados, me debato e grito para ninguém ouvir.
Ele me bate e me joga no chão da varanda, o desespero é pavoroso,..
Medo e ódio invadem minha alma, eles gargalham estão a minha volta se despindo e enquanto o velho me segura pelos pulsos me prendendo ao chão.
Rasgam meu vestido e um se deita sobre mim, mordo-lhe a orelha com toda força dos meus dentes arrancando um pedaço ele grita e me soca o rosto, sinto os pontapés dos outros violentando meu corpo...
Fecho os olhos bem forte  penso no meu amado, chamo pela grande mãe que não me abandona me tirando do corpo físico, não sou mais matéria, não estou mais ali, só há silêncio, nada mais...
 Acordo com muita dor, não sei dizer quantas horas ou dias fiquei ali.
O rosto no chão em uma poça seca de meu sangue, tento levantar a cabeça a procura deles, mas não há mais ninguém, é noite e chove muito...
A chuva é todo meu choro, não derramo nenhuma lágrima, me levanto.
Meu braço direito dói demais, acho que está torcido, minhas pernas roxas, as costas e o estomago doem demais.
Sei que fui usada, mas não quero pensar nisso, minha mãe não me deixou ali para ver então não cobro isso de minha memória.
Penso apenas em sair dali, rastejo para dentro da casa com dificuldade, está tudo revirado, destruído, me enrolo no lençol esperando amanhecer...
Mancando vou até o rio, jogo o lençol sujo no chão e chamando pela deusa em sua fase mãe entro na água e deixo que ela me lave e me cure, levando toda a impureza, fico por horas até me sentir limpa...
Me visto e vou procurar algumas ervas para os machucados, estou toda roxa, a boca inchada, tenho um galo na cabeça, preciso de um chá para não gerar nenhum fruto desta perversa violência.
Não há mais nada aqui, apenas destruição, voltando para cabana olho para minhas rosas destruídas, recolho uma que teima em permanecer intacta, coloco nos cabelos e volto para cabana, começo a cuidar de mim, dos cortes abertos, do corpo dolorido, do braço torcido, da dor no ventre...
Meu amor onde você está? 

Diálogo 11º

Entro no que restou da casa.
Sinto frio, muito frio, acho que estou com febre.
Estou também com fome e fraca, me sinto tonta, não tenho forças nem para cozinhar, usei todas que restavam nos remédios que preparei.
Tenho medo de dormir de reviver a violência em meus sonhos.
Enrolo o braço torcido e machucado com as ervas o cansaço faz com que eu adormeça por algumas horas.
Tenho pesadelos cruéis e eles não me são gratuitos, sei que é um aviso que meus malfeitores voltariam e estariam em maior número.
O vento lá fora ruma para o norte, junto o que posso rapidamente!
Estou fraca porém preciso ir, não deixarei que mais ninguém me toque...
Desço para o rio vou caminhando por dentro dele para não deixar pegadas para não virem atrás de mim, vou ao contrário da cidade.
Mata a dentro, longe das estradas, onde dormem os lobos, tenho mais medo dos homens do que qualquer animal.
Meus pés estão feridos mas andei por quase cinco horas, está escuro preciso parar e descansar.
Não acendo uma fogueira para não chamar a atenção, me abrigo próximo a uma arvore retorcida aos olhos dos deuses da mata.
Como algumas frutas e pão que trouxe.
Limpo os ferimentos e passo a noite ouvindo os uivos dos lobos e a lua tomando conta de mim, não tenho mais febre as ervas estão fazendo efeito...
Sinto uma tristeza tomando conta de mim ao lembrar do templário, não vai me encontrar quando e se voltar... 
Não estarei em meu amado lar, mas não posso voltar  preciso ir, preciso encontrar uma nova vida, preciso seguir em frente...
Adeus meu sol.

Diálogo 12º
 

Faço um circulo de proteção com o sal que trouxe para que os pesadelos e o mal fique de fora.
Com a tocha fraca cochilo acordando com todos os barulhos da mata, sinto frio medo e solidão
Me encolho e agora o choro abafado vem abundante e incontrolável, o estado  de choque vai passando e dá lugar a consciência que me maltrata e me destrói.
Quem iria querer uma mulher como eu?
Brutalmente usada por outros, que já vendeu o corpo em troca de pagar os impostos, que não tem nada, uma plebeia... 
São tempos cruéis para mim, são tempos cruéis para as filhas da deusa tantas outras como eu passam por isso todos os dias.
Ainda posso dizer que fui feliz nesta vida pois seus olhos me olharam dentro da alma.
Dentro desse corpo que carrego, me olharam como ninguém nunca olhou e nunca mais olhará, me olhou com amor, e agora parto sem deixar rastros nem pista para que me procure.
Em meio aos meus devaneios durmo entre lágrimas abraçada a mim mesma.
O sol brilha e a noite parece ter me recuperado, o choro engasgado dá lugar a guerreira que se levanta hoje... Agradeço pela noite aos deuses me velaram o sono.
Recebo o dia e abro o círculo.
Junto tudo que posso para não deixar rastro, me curvo diante o dia que se renova em uma oração:

" Mãe do amor, pai da força, faça com que eu tenha clareza nas minhas escolhas, e não tenha medo de seguir adiante. 
Se eu mudar que seja para melhor, que eu seja sempre uma boa amiga. 
Que eu saiba ouvir tanto quanto falar, e protegida com os conhecimentos trocados. 
Que eu seja livre sem esquecer-me das obrigações. 
E nos momentos certos eu de minhas opiniões. 
Que eu tenha respostas acolhedoras, e se as respostas faltarem, acolhedores serão meus braços. 
Que meu sorriso seja o sol de alguém, mesmo em dias chuvosos. 
Que meu caminho seja o do bem, sem prejudicar nem a mim nem a ninguém. 
Que assim seja, que assim se faça..."

Parto subindo rio acima com saudades de ti meu amor, sei que um dia vamos nos encontrar de novo.
Nossa história está apenas começando somos almas afins e sempre nos buscamos...
A deusa sempre é generosa com o encontro entre almas enamoradas.

Dialogo 13º

Ainda estou roxa com a boca ainda inchada.
A perna por estar forçando dói terrivelmente por estar andando sem descanso.
O braço está melhor mas ainda na tipoia, ainda dolorida dos chutes e socos e da violência sofrida mas me sinto melhor.
Não tenho febre estou mais magra que de costume e agora já estou sem mantimentos os dias passaram e tudo que levei comigo acabou restam comigo apenas algumas roupas, água, e alguns utensílios.
Avisto uma fumaça de longe, vou até mais próximo para observar...
Me esgueirando pela mata me aproximo para observar. 
É uma caravana, contam com uma carroça alguns cavalos.
Avisto algumas crianças correndo, alguns homens e mulheres.
Nenhum de meus malfeitores está com eles.
Preciso de abrigo resolvo me achegar é mais fácil sobreviver em grupo do que andando sozinha na mata.
As crianças são as que me vêem primeiro e perguntam de onde sou e porque estou machucada, logo aparece um homem de meia idade que me argumenta o mesmo.
Digo que estava com minha família e sofremos um assalto, que mataram o restante e que só sobrevivi porque me fingi de morta.
Dizer que estava ainda sendo perseguida poderia fazer com que eles tivessem medo de mim.
Avisto um corre corre entre as mulheres e pergunto o que está acontecendo.
Ele me responde que uma das mulheres entrou em trabalho de parto, mas a criança não nasce e as mulheres não estão conseguindo ajuda-la. 
Me prontifico em ajudar, digo que era filha de uma parteira e aprendi o ofício mesmo sendo tão moça ainda. 
Ele me leva aonde está a barraca, ela está suando e o desespero em seus olhos é grande.
Em uma oração silenciosa chamo a mãe para me ajudar e acalma-la.
A criança é grande demais para a pequena mulher, está encaixada mas ela não tem passagem.
Ali não tenho tudo que preciso para ajuda-la, então ela vai precisar de muita coragem e fé pois a dor será grande.
Peço as mulheres lençóis limpos e água fervendo para esterilizar as coisas.
Massageio a barriga da pobre mulher que chora de dor, ela já está em trabalho de parto a 6 horas.
Não posso demorar muito se não perco a criança então peço a duas mulheres para me ajudarem a empurrar a barriga dela pois ela está cansada de fazer força.
Faço um corte para ajudar na passagem a dor que ela já sente é tanta que o corte que fiz é o de menos.
Mais duas horas se passam e ouço os homens lá fora nervosos e desesperados.
Mas a criança enfim coroa e consigo puxa-la enfim o choro ecoa.
É um menino, lindo e enorme...
Corto o cordão umbilical e levanto a criança por cima de minha cabeça agradecendo a mãe por mais uma criança trazida a este mundo por mim, saudável e viva. 
Mostro a mãe que está cansada e fraca então entrego as mulheres o menino para que possam banha-lo e o apresentarem ao pai, e volto a cuidar dela...

Diálogo 14°

Termino a limpeza da mãe, meu braço dói pelo esforço mas me sinto renovada pela benção de os dois estarem bem mãe e filho. 
Todos lá fora são só festa, tomam pinga, vinho e cerveja para comemorarem a vinda do menino.
Acendem uma fogueira pois breve irá escurecer.
As mulheres cozinham algo o cheiro é bom o tempero invade o ambiente.
A mãe e o bebê dormem na barraca maior mas há mais quatro barracas.
Eles organizam uma pequena festa pelo nascimento do menino, o homem mais velho que me interpelou no início me puxa e oferece-me bebidas para comemorar o nascimento da criança.
Ele me diz que é tio da criança e me conta que está feliz por sua irmã gerar um macho viril, felicito-o brindando.
Observo as pessoas e vou me familiarizando com a comitiva...
São os pais do bebê mais um filho de uns 4 anos, e mais dois casais com 2 filhos cada.
Mais o senhor que tem uma filha não noto a presença de sua esposa. 
Me sento com eles envolta da fogueira, comemos o assado de coelho, pão escuro, sopa de legumes e bolos de mel.
Me apresento a todos feliz demais, acho que pela bebida que faz efeito no momento...
Mais tarde afastada do grupo e já intima de todos ali converso com Hugo tio da criança, ele me explica que estão indo para uma outra terra pois onde viviam tivera sido devastado por uma peste devastadora.
Então partiriam para outra cidade onde alguns parentes os receberiam.
Eram pastores seus parentes, donos de algumas terras mas não senhores de muitos hectares.
E ele já havia servido a ordem dos templários a muitos anos passados, mas se apaixonou perdidamente por sua falecida esposa e ele criava Heleonora sozinho.
Me disse que eram tempos difíceis, mas que o bom Deus os guiavam.
Sei que ele sabia que minha história não era verdadeira, mas nada me perguntou ofereceu a barraca para que eu dormir.
Heleonora já dormia lá dentro e ele revesaria a guarda da noite com um dos homens.
Disse-lhe que ficaria mais um pouco olhando o fogo queimar e depois iria...
Mas ultima frase dele não saiu da minha cabeça...
 " O fogo queima nosso passado, a fumaça leva para longe nossa história, deixe o fogo queimar seus demônios e renasça com a beleza do mesmo, firme, forte e puro... "

Diálogo 15º

Eu sabia o que ele queria me dizer me dizer e ele tinha razão, não era só física minha dor e eu precisava me curar espiritualmente...
Me levantei e fui dormir com a menina assim que o fogo começou abrandar se tornando brasa...
A noite renovou minha mente e corpo dormi sem pesadelos.
Levantamos cedo desmanchamos acampamento colocando tudo nas nas carroças.
Fico feliz em ver a mãe e o menino bem ele suga o seio fartando-se do leite abundante de sua mãe.
Faço amizade com as mulheres e ajudo no que é preciso, mesmo ainda mancando e com dores no braço tento ser o mais prestativa que consigo...
Eles fazem uma oração antes de irem e me chamam para participar...
Não sei bem como me portar e copio os gestos deles de forma rude, talvez não percebam pois mantém os olhos cerrados.
Partimos não temos problemas durante aquele dia, todos me tratam bem e me sinto parte deles sempre voltam ao assunto do parto da menina o quanto foi difícil e se eu não estivesse ali talvez ela não teriam sobrevivido.
Me ajudam com os curativos e conto minha parcial história, de onde venho, da minha mãe, de onde vivia, mas não revelo tudo guardando meu amor e minha desgraça apenas para mim...
Paramos apenas para nos alimentar aproveito para me banhar com as crianças no rio que corta a mata. 
Alguns dias na estrada sempre a caminhar próximo um córrego seguimos sem maiores problemas, apenas coisas comuns como consertar roda de uma carroça, ou ajudar a desatolar os animais.
Me sinto melhor as marcas estão clareando e quase não manco, o braço ainda dói um pouco mas não é mais tão ruim assim, os ferimentos abertos cicatrizando, os rompantes da violência dá lugar a alegria de estar com aquela família.
A noite depois do jantar eles se unem e leem coisas que o Deus deles escreveu, ouço tudo.
Me perguntam se sei ler e digo que não e com carinho Heleonora diz que me ensinará quando chegarmos.
Fico feliz sempre desejei ler...
Hugo nos avisa que não estamos longe e em breve estaremos nas terras de sua família.
Alguns templários passam por nós a cavalo, meu coração vem a boca.
Param e fala com Hugo que está no cavalo mais a frente.
Nos olham, estou com as crianças fazem condolências e partem. 
As crianças notam meu rubor e minha reação inquieta e me indagam por que meu comportamento inquieto.
Digo a elas que pensei ter visto um amigo...

Diálogo 16°

Ver aqueles homens em suas armaduras da ordem dos templários me deixa saudosa daqueles dias em companhia do Lobo Templário.
Mas minha saudade logo muda e me sinto temerosa, será que para onde vamos a inquisição estão a caça as bruxas?
Tenho medo, penso em desistir de seguir com eles mas não há nada aonde estamos e me é mais perigoso andar só pois meus mal feitores andam saqueando e desgraçando por onde passam então resolvo seguir...
Ao longe já avistamos uma cidade, acredito que mais algumas horas e chegaremos.
Somos abordados por alguns soldados que mantém guarda nos portões da cidade...
Pedem um documento á Hugo que entrega ao guarda.
Eles parecem nos contar e voltam a falar com Hugo que gesticula firme com eles.
A criança chora muito e eles parecem se irritar, e enfim nos manda entrar e sumir da frente deles.
Entramos e seguimos passando pelo centro da cidade.
Eu e as crianças vamos caminhando sentindo os pés nos chão.
Mas tão logo subimos na carroça e entramos na cidade a dentro, até uma parte mais além do grande centro... Esse lugar tem muita grama, árvores, um rio onde passamos por uma ponte.
Logo aparece um pastor de ovelhas correndo ao encontro de Hugo, que rápido desmonta e o abraça.
O pai do bebê também corre ao encontro deles é lindo vê-los tão felizes. 
Ele apresenta a filha que conhece pela primeira vez o avô.
Todos se confraternizam com o carinho, abraços são trocados assim como beijos ternos.
Rumamos a casa, lá uma senhora de igual idade vem nos receber estão todos muito felizes e emocionados com o reencontro, entendo que são os pais de Hugo.
O pai da criança é irmão mais novo de Hugo e sua esposa é prima deles.
Os outros dois casais são sobrinhos, os cumprimentam e em seguida partem para chegarem ao seu destino. Hugo me apresenta aos pais diz que ajudei no parto da cunhada e que sou um anjo enviado por Deus.
Sua mãe me olha com cuidado, me analisando mas não diz nada.
O senhor me abraça e agradece por eu ter ajudado a sua nora.
Ele manda a esposa preparar algo para comermos, me ofereço em ajuda-la mas ela não aceita e entra na casa. Me sento mais adiante nos degraus da entrada.
Os homens descarregam a carroça com a ajuda de alguns subalternos.
Heleonora e o primo brincam mais adiante, a mãe e o bebê entram na casa. 
Algum tempo depois ela volta e chama o marido e o cunhado.
Tem uma expressão estranha e meio nervosa, logo Hugo vem falar comigo
Diz que a mãe está velha e cheia de manias para eu não me importar com ela.
Mas ouço ela e o marido brigarem, e aos berros diz que não posso entrar na casa, que não sou uma filha de Deus e que nem batizada devo ser.
Ele a empurra para dentro da casa mas logo o senhor volta  e me pede desculpas.
Me diz que realmente não posso ficar na casa mas que posso ficar no celeiro, 
Me olha desconfiado mas me diz que há uma escada, posso ficar onde eles guardam as comidas dos animais. Não tenho para onde ir e ainda estou me recuperando, então aceito e digo que não incomodarei e que não será por muito tempo. 
Subo, está muito sujo e empoeirado. 
Logo atrás sobe Hugo e me ajuda a limpar e trocar o lugar das comidas.
Sobra um bom espaço para improvisar uma cama para mim e ali me acomodo.
A noite cai, estou no celeiro com os cavalos logo entra Hugo se desculpando dizendo que a mãe não deixou ele sair da mesa do jantar, e que ele só poderia me trazer algo para comer depois que todos estivessem terminado. Aceito a comida estou faminta e o cheiro é delicioso.
Hugo se despede e diz para eu não preocupar que logo sua mãe vai me aceitar.
Não sei o meu lugar neste mundo, mas não é ali.
Mas por enquanto foi para aqui que meus caminhos me trouxeram.

Diálogo 17°

A lua acabou de minguar e desapareceu totalmente, abandonando os céus...
A Deusa então mostra-se como a Deusa Negra, a que revela o seu lado obscuro e terrível.
Muitas vezes cruel, bem como o nosso.
Essa fase da lua é mais difícil de ser trabalhada e não posso a celebrá-la aqui, sei que todos dormem caminho por meia hora com minha tocha, faço uma pequena fogueira apenas para iluminar...
A Lua Negra é tão poderosa quanto o plenilúnio.
Porém, o seu poder é de uma ordem diferente.
Os esbás da Lua Negra são voltados ao conhecimento do nosso lado obscuro e a sua cura, para que transmutemos as nossas características improdutivas (nervosismo, ódio, rancor, sofrimento como os que tenho tido) em características produtivas (paz interior, amor, equilíbrio e muito mais).
Esse ritual é para lidar com as nossas sombras. 
Traço o círculo mágico, tiro minhas roupas e coloco as que usava enquanto fui violentada, a roupa me dá nojo, temo só de pegar nela está carregada de todo mal que sofri.
Fecho os olhos e me abro para as Deusas, invoco Hécate, invoco Ereshkigal, invoco Sheelah Na Gig e Cailleach...
Senhoras do obscuro, do lado sombrio da lua, senhoras que caminham pela terra, que enxergam a maldade que não consigo ver, que sabe o que se passa em meu coração quando relembro todo mal ofertado a mim, calúnia e sofrimento que me fizeram passar, violência gratuita por eles feitas...
Senhoras levem para longe todo sentimento de ódio e tristeza, todo sentimento de vingança ou rancor produzido em meu coração, autopiedade e recordação dolorosa, que apenas justiça seja feita contra meus agressores, que eu não deseje mal a eles e nem mesmo pense neles...
Senhoras, oh senhoras que sabem mais que eu.
Aqui agora e sempre que eu não retorne mais para pedir o que peço hoje, que seja totalmente curada em meu espírito...
Senhoras, minhas senhoras que meu coração possa novamente produzir amor.
Que se encha de paz e alegria em tudo que toco.
Que em minha boca eu possa novamente abençoar de corpo e alma pura e limpa...
Que assim seja e assim se faça....
Solto o corpo entoando um cântico de sons e dançando dentro do círculo solta e leve, arranco as roupas malditas e rodando e girando estou nua, limpa e liberta
O som da mata e dos animais entoam minha liberdade e rio, rio tão alto que sinto uma luz inundando minha alma e volto a ser eu.
Como a velha parteira bruxa que me acolheu quando minha mãe de sangue não me quis, dizendo esta é a alma de todas as rosas, a Alma das Rosas...
Caio exausta dentro do círculo, ofegante e rindo, as lágrimas vêem abundante, e lavam meu rosto, estou limpa e liberta....
Espero a euforia passar, e com sorrio nos lábios fecho o círculo mágico, recolho as roupas malditas e as jogo na fogueira...
Pego roupas limpas que trouxe, roupas brancas e volto a ser pura...
Apago a fogueira, jogo terra e folhas e gravetos por cima para que ninguém note o ritual... 
Mas por alguns segundo sinto que não estou só, mas me envolvo em meu bem estar.
Volto ao celeiro cantarolando e saltitante, agora por completo, não mais só por fora, por dentro também.
Durmo um sono gostoso e relaxante, minha alma está em paz...

Diálogo 18°

O sol se abre puro e dourado.
Acordo nos primeiros raios o saudando por estar ali, por radiar iluminação e paz, aquecendo de novo meu coração.

* Faço silenciosa um agradecimento de braços abertos:

" Grande pai, Grande mãe;
Concedei-me o poder da água para que eu aceito o que  não posso mudar;
O poder do fogo para que eu tenha a energia de mudar o que posso;
O poder do ar para que eu tenha habilidade de reconhecer a diferença;
O poder da terra para ter forças de continuar o meu caminho;
Que assim seja;
Que assim se faça.... "

Me assusto com Heleonora me observando, e sorrio para ela...
Ela me pergunta porque estou tão feliz.
Eu lhe respondo, por estar viva, por ter tido uma boa noite, por te-los encontrado, por estar ali, por estar curada...
Ela meio que sem entender me aponta para as manchas ainda roxas nos braços, sorrio de volta e digo a ela que não me doem mais porque meu coração está curado e o exterior se cura gradativamente.
Vou ajuda-la com as tarefas, visto que a senhora mãe de Hugo não me quer na casa.
É uma situação muito ruim pois não quero causar nenhum tipo de problemas a eles que me acolheram na estrada.
E decido que após a refeição vou a cidade para procurar algum trabalho.
Comento a Hugo minha intenção, ele me repreende e diz que não devo me preocupar que só sairei dali depois de estar curada, que ainda estou fraca, e não devo ir sozinha até a cidade.
Contrariada aceito, mas não quero ficar sem pagar minha estadia.
Relutante ele aceita e me fala que posso procurar o que quiser para fazer só não posso entrar na casa.
Aceito, e convido a pequena Heleonora a fazer um jardim.
Passamos a tarde depois do almoço preparando a terra e plantamos mudas de várias flores, e claro minhas preferidas rosas escarlates...
A noite Heleonora me ensina algumas letras, é mágico...
Hugo a chama para dormir e ela vai correndo lá para dentro da casa.
Hugo se senta ao meu lado e sorri para mim. 
Me oferece vinho, e ficamos os dois lado a lado olhando para o céu estrelado.
Ele pensando na mãe da menina, e eu pensando em meu Lobo Templário...

Diálogo 19º

Conversamos por horas ele me conta como conheceu a mãe da menina.
Diz que era um aprendiz ainda muito jovem na época e me explicou sobre as várias patentes dos templários.
Presto atenção em tudo que ele me diz e  fico imaginando qual é a sua Lobo, sei tão pouco sobre você... 
Apenas que apareceu em meu jardim e lá ficou me olhando, me vendo por dentro, parecia que lia minha alma senti medo, anseio, aflição, um misto de sentimentos que nem mesmo sei explicar...
Não tinha ideia de onde vinha e nem para onde ia apenas que possuía  minha alma.
Hugo segue falando que se apaixonara mas que era só em seu coração e quando sofreu o fatídico acidente é que se deu conta que largaria tudo para ficar com a mãe da menina que desejara uma vida ao seu lado até o fim dos dias.
Se recuperou e foi desesperadamente a casa dos pais dela e a pediu em casamento, eles moravam na outra cidade e apenas avisou aos pais que se casara e vivia bem com a filha de um mercador que abandonara a ordem.
Que agora  tinha um mercado de especiarias e mandou que o irmão fosse ter com ele para que o ajudasse, assim como os primos quem conheci.
A vida ia seguindo os primos e o irmão tomaram como esposas filhas e sobrinhas do mesmo mercador mas a peste veio e levou alguns da cidade e com ela sua esposa que morrera em seus braços.
Por um breve momento nos calamos.
Por fim, ele pergunta sobre mim, e diz que posso falar a verdade que não irá me julgar pois o tempo que passou na ordem o ensinou a ser um bom ouvinte.
Conto sobre minha história na verdade não há muito para contar, falo sobre abandono da minha mãe de sangue que não conheci.
Conto-lhe e da minha mãe parteira, digo que ela era uma curandeira para ver sua reação.
Sei que os religiosos não se agradam com os pagãos mas ele parece inalterável me responde apenas que entende o que quero dizer.
Sigo dizendo que os outros amparados por ela partiram e como sou a mais moça cuidei dela até sua morte, e que tenho contato com apenas uma, a qual ajudou a me criar mais que tinha a família dela agora.
Conto-lhe que foram tempos difíceis eu era muito menina quando ela caiu doente, e me dividia entre o trabalho, horta, as flores que vendia e os partos das crianças e mesmo assim não tínhamos dinheiro para nos manter, foi quando fui violentada da primeira vez, tinha pouco menos de 15 anos.
Foi doloroso e triste, mas minha mãe ainda era viva e me purificou com ervas e orações a grande mãe.
E assim quando eu tinha uns 17 anos ela faleceu e fiquei só e essa minha meia irmã já era casada e seu marido era muito bom, e se apiedava da minha vida.
 Foi quando me ajudaram a construir a minha cabana e fui embora morar lá, bem longe da cidade, foram 2 anos ótimos de muito trabalho e dedicação, fui devagar transformando aquela cabana em lar.
Ele me ouve e sorri com minhas conquistas simples e se entristece com minhas adversidades, é quando me encorajo para falar do Templário.
Conto-lhe sobre como o conheci, ele sorri e brincando e enchendo minha caneca de vinho diz: - Então tens um amor...
Sorrio e afirmo com a cabeça enchendo a minha caneca de vinho digo a ele como você estava vestido.
Ele se engasga, levanta  num supetão e diz que é impossível !
Que jamais posso alimentar esse amor dentro do meu coração, que você não pode ser meu.
Ele diz que sabe de quem falo, que eu posso ter entendido a sua bondade erroneamente, que você é um cavaleiro de Deus e que jamais poderia me amar...
Não esse amor terreno, que existem votos, fico confusa o vinho me deixa culpada, procuro as palavras para darem conforto no terreno onde piso agora.
Digo que dormimos na mesma cama abraçados e que você enxugou minhas lágrimas com beijos, que sabia que me amava.
Ele me diz que não posso tornar a vê-lo, que não devo lhe confundir. 
Me sinto assustada e culpada, e conto-lhe que você não mais me encontrará, falo sobre os bárbaros que me fizeram mal e por isso ele me achou na estrada, e que abandonei a cabana, que mesmo você voltando não estarei lá...

Diálogo 20º

Ele continua me dizendo que não devo nem pensar em você, que os Templários tem uma missão e que ela é muito importante.
Anda nervosamente a minha frente de um lado para o outro, e fico estática observando com a caneca de vinho em minhas mãos.
Nervoso me diz que você é conhecido como Lobo Templário por conta da sua história e ainda olha para o céu e fala " Que Deus permita que você não já tenha entrado no coração humano dele, que o Lobo Templário esteja livre do amor terreno..."
Me encolho abraçada aos meus joelhos, não tinha menor noção de tudo aquilo, não sabia que você era tão importante aos seus.
Eu  nunca quis lhe fazer nenhum mal de forma alguma, apenas te amei no primeiro instante que te vi, quando desceu da montaria, quando me abraçou, quando dormimos juntos, quando partia a madeira para mim, quando ficou comigo olhando em meus olhos.
Quando não me tocou, e vi que nada esperava em troca, apenas me olhava como ninguém jamais me olhou...
E eu te amei como se fizesse parte de minha alma milenar...
Replico a Hugo que ainda me olha recriminando e com as palavras meio embaralhadas o digo que talvez você não me ame como te amo.
Que ele deve estar certo, que você nunca deve ter sentido nada apenas pena de uma pobre moça solitária no meio do campo de rosas.
Pena de uma moça sofrida sem ninguém, pena de uma moça com um passado tão dolorido como o meu, de uma pessoa confusa, perdida, sem rumo, que deve ter sido apenas compaixão...
Ele me corta dizendo que não tenho noção da minha beleza, e ainda diz que não é só a física, que sou um anjo que poderia levar qualquer homem a cometer loucuras por mim.
Que sou um demônio na minha sutileza de ser, que minha voz é o cântico que se ouve até mesmo os que estão longe.
Que meu perfume de rosas escarlates não me abandona, e que talvez você ainda sinta a milhares de quilômetros dali.
Que meus olhos negros ficam marcados nos pensamentos, que meus atos não refletem minha alma e talvez você queira me descobrir...
Abaixo a cabeça e ele se abaixa ao meu lado, minhas lágrimas rolam por saber que não posso te amar.
Ele me abraça e ainda me diz que se não fosse o amor que ele ainda tem pela esposa falecida e seus votos no leito de morte por ela que eu o afetaria.
Mas que me vê como uma menina perdida, choro abraçada a ele como um pai que nunca tive...
Ele me olha sério e pergunta se entendi bem que não posso mais lhe ver, que não devo lhe procurar para que o Lobo Templário permaneça sendo o homem que é, um servo de Deus...
Balanço que sim com a cabeça e ele parte em direção da sua casa me deixando ali no estábulo aos olhos da lua e das estrelas.
Não consigo dormir, olho para o céu deitada na palha e quando fecho meus olhos e vejo os seus.
A malha que vestia, a espada da ordem, o elmo é como lhe ver novamente.
Sinto seus braços no abraço que me deu, recrio todo o passado para que eu possa aquietar meu coração. Entendendo que não sentiu nada por mim, me sinto mentindo para mim mesma, confusa.
Peço permissão a minha bruxa interior para ver cada detalhe de nós dois juntos, e vejo para minha felicidade e tristeza que não estou errada, que estou em seu coração assim como você está no meu, que você me ama como eu te amo...
Abro os olhos e vejo o seus nas estrelas, os olhos mais profundos que já vi, estico o braço como que para toca-lo e instintivamente peço que meu toque chegue até você...
Sei que não devo, mas desejo te ver mais uma vez...
E no celeiro e adormeço com amor e culpa em meu coração.

Diálogo 21º

Não sei bem se foi por causa do vinho, ou da culpa e do amor em meu peito, mas tenho uma noite agitada.
Pesadelos com lugares que nunca conheci, um imenso vazio de areia para todos os lados, sinto frio e calor como uma febre doentia, acordo lavada de suor e vem você em minha mente.
Será que está bem, será que precisa de mim?
Me sento e tento ser racional, preciso tirar você do meu coração.
Não posso mais pensar em você, não podemos mais ter essa ligação, não quero ser sua perdição, você tem sua história sua vida.
Um templário e uma bruxa jamais podem ficar juntos...
A inquisição pode chegar a essa terra a qualquer momento, não temo por mim pois sou sozinha e nada tenho nesta vida, mais você...
Não, não quero pensar nisso, me levanto e tento ocupar meu dia com outros pensamentos que não seja a inquisição e nem você.
Sou avisada pelas crianças que iremos até a cidade para orar no templo cristão.
Fico preocupada, nunca fui, não sei como me portar, nem ler ainda estou juntando algumas letras que a menina me ensinou.
Tenho medo do que me espera por lá e se souberem que sou uma pagã entre eles?
Não quero ir, mas não posso dizer que não vou.
Todos estão prontos e nas carroças.
Hugo vem me chamar, estou com o vestido novo que minha irmã me deu e com os cabelos em uma longa trança.
Ele me olha e diz que preciso de sapatos novos, e volta com os sapatos da sua cunhada e diz que devemos estar bem arrumados pois a criança será batizada.
Vou com ele no mesmo cavalo, chegamos é uma construção simples um templo humilde.
Todos fazem um sinal a entrar, me atrapalho e disfarço saindo da vista deles.
Estão felizes e fico lá atrás, não entendo direito é um ritual muito diferente para mim.
Hugo se senta ao meu lado e lê para mim.
Todos ruam ao rio próximo onde as crianças são batizadas, assim como outros adultos e jovens que lá estão. Me afasto para respirar, todos festejam juntos com outros batizados.
Sou surpreendida por Hugo, que me abraça e diz baixinho...
Não se preocupe, eu sei que você é uma pagã, apenas aprenda as nossas tradições para não ir parar na fogueira ou enforcada.
Não deixe ninguém saber, nem o resto da minha família se não serei obrigado a te expulsar pois você sabe o que acontece com quem acolhe vocês...
Aqui ainda só chegaram os boatos dos grandes centros o rei ainda não tomou nenhuma posição.
Está segura conosco, mas não faça nenhuma das coisas que vocês fazem, se porte como uma cristã.
Fico estática o fitando profundamente sem expressar nenhuma reação e ele retorna aos seus.
Como assim não praticar nenhum ritual?
Como deixar de louvar a Deusa para louvar esse Deus que não permite nem o amor?
Volto para perto de Hugo e sua família, as mulheres se arrumam para voltarem para a casa com as crianças. Falo com ele se posso ficar para olhar o comércio, ele aceita e me leva para ver as coisas enquanto faz alguns negócios...
Fico vendo a venda de tecidos distraidamente.
Sinto uma mão segurando firme meu pulso, é uma senhora pequena e me olha nos olhos e diz sussurrando...
Não tenha medo menina, apenas me ouça e sorria para que não percebam.
E num sussurro entre os dentes me diz: - Volte aqui amanhã...

Diálogo 22º

Ela me solta e volta para a venda de seus tecidos, fico desconcertada e vou para perto do meu amigo que não nota minha inquietude.
Ele termina seus afazeres na cidade e voltamos para o campo, já é fim de tarde, me banho e fico esperando por ele com o jantar.
Sua mãe já não implica mais diretamente comigo, na verdade me ignora e isso me faz mal sei que de alguma forma ela desconfia que não sou uma cristã, e se a inquisição vier até aqui ela me denunciará fácil e sem pensar mais de uma vez.
Tento pensar em outra coisa, me vem a mente aquela velha senhora...
Me distraio com Hugo trazendo o jantar, me entrega e se senta ao meu lado enquanto como.
A lua no céu está linda, é uma noite de lua cheia iluminando todo céu.
Nesse momento a Deusa vira a grande Senhora, Mãe de todos os seres.
É um período de grande magnetismo, todas as energias aumentam suas vibrações, as percepções sensoriais se tornam mais latentes, é um momento especial para qualquer pagão.
Não celebrar esta noite me deixa muito triste, a Deusa é Mãe, já amadurecida e começando a envelhecer. 
As Mães, humanas ou não, são abençoados pela Deusa.
Sendo assim, é normal reverenciar a família colocando recordações dos nossos pais e avós pelo altar, no caso daqueles que já partiram as recordações devem ir para o altar dos ancestrais.
Me recordo da cabana e do meu altar mágico e do lenço que guardei de minha mãe adotiva e que ficou lá...
Hugo me olha e diz que estou muito calada e longe...
Apenas sorrio e digo que estou bem e continuo a comer.
Ele me pergunta se é por causa do Lobo Templário.
Não minto e lhe digo que também é,e ele me olha com compaixão e diz que devo procurar um bom homem e me casar, pois já estou na idade e se eu tivesse um pai era isso que ele faria.
Me olha por alguns minutos e me diz que vai cuidar de mim, não sei o que responder, fico enjoada só de pensar em algum homem a me tocar, não quero isso, mas não consigo nem me pronunciar ele se levanta e sai...
Espero todos dormirem na casa, saio do celeiro e deixo para acender a tocha apenas na floresta, levo comigo um cantil com água que contém água de um dia antes da lua cheia e meu colar que foi a única coisa que minha mãe de sangue me deu, nele um pingente de uma rosa, escolho um lugar que julgo puro e faço uma pequena fogueira, trago um galho que já purifiquei e abro o circulo, não sei até quando conseguirei celebrar escondida então farei um ritual para receber a proteção da lua.
Chamo pelas deusas mães, faço a invocação, estou de branco para simboliza-las, canto para elas, coloco a água que trago no cantil numa cuia, com o dedo indicador em sentido horário agito a água três vezes, mentalizando, seguro a cuia e giro três vezes no sentindo horário, paro e digo: 

OH, LUZ DA LUA,
ENVOLVA-ME,
PROTEJA-ME,
LEVE-ME EM SEUS BRAÇOS,

Levanto a cuia e bebo a água, coloco meu colar, estou protegida.
Não devo demorar com a celebração, fecho o círculo, ouço o som de uivos de um lobo.
Bem parece ser apenas um, deve estar perdido do bando, ou caçando, mas geralmente andam em bandos, não o vejo, mas não temo, é um uivo dolorido e diferente, uivos de um animal sozinho, uivos de solidão, são uivos poéticos...

Diálogo 23º


Volto ao celeiro com a impressão de estar sendo observada a todo instante.
Caminho e ouço um caminhar próximo mas não parece ser humano, talvez de algum animal,ou eu talvez tenha ficado com a impressão do lobo...
Não seria nada bom a proximidade de um lobo por conta das ovelhas eles poderiam mata-lo.
Mas olho ao meu redor e não vejo nada, chego ao celeiro me lembro da senhora, do pedido que me faz para voltar na parte do dia.
Como farei para ir sozinha até lá sem levantar suspeitas?
Adormeço com esta pergunta em minha mente, mas a Deusa não desempara suas filhas ela me trará a solução que preciso...
Aos primeiros raios de sol, vejo os homens se preparando com o rebanho, e saindo a cavalo, sogra e nora estão ocupada com os afazeres e as crianças olham o bebe.
A mãe do menino se aproxima enquanto cuido dos cavalos e pergunta se eu poderia ir a cidade para comprar alguns mantimentos.
Sorrio de volta e digo que sim, que posso ir sem problemas, ela me faz uma lista e me diz onde devo ir, basta entregar a lista e o vendedor me dará as mercadorias.
Animada celo o cavalo e vou a galopes rápidos, é um bom animal, chego rápido a cidade e vou direto a venda que ela me mandou.
Deixo a lista e peço para separar a mercadoria enquanto dou uma volta pela cidade, o homem diz para eu ter cuidado andando por ai.
Sorrio e vou direto a venda de tecidos atrás da velha senhora.
Não a vejo, hoje está apenas uma mocinha na venda.demonstrando os tecidos a alguns compradores
Me aproximo e pergunto pela senhora, e ela me diz que vai chama-la.
Ela demora uma eternidade mas quando volta me pede para eu acompanha-la.
Entro e me sento num banco, ela diz que vai tirar minhas medidas e a mocinha sai.
Ela me olha nos olhos seu olhar sem desviar dos meus me causa um arrepio, como se a morte estivesse em minha frente.
Pega em minhas mãos e a abre olhando fixamente, a fecha e me manda ir embora.
Fico irritada e pergunto o que ela leu, mas docemente ela me sorri de volta e me diz que é melhor não me contar...
Me pergunta porque eu mesma não leio, digo a ela em tom firme que as linhas são sempre imprecisas e mutáveis quando nós mesmos lemos, e uma leitura feita por uma irmã é sempre melhor, pois lê sem sentimentos, apenas revelando a verdade, sem emoção do momento, sem querer burlar o que se mostra.
Ela me diz que sabia que eu voltaria, pois as filhas da deusa se reconhecem, que devo tomar cuidado pois a inquisição está chegando naquela terra, que a reforma da igreja já está sendo feita para comportar um líder religioso deles e que não mais será o que hoje vive lá, que temos modificar hábitos de celebração.
Mas me diz que não é por isso que me convidou e sim por conta do lobo que viu ao meu lado.
Pergunto a ela que lobo, e ela me responde que é o que passou a tomar conta de mim.
Em tom debochado me revela que não estou fechando os olhos da carne e olhando com o espiritual.
Me fala que ele passou a andar comigo quando estava perdida, sem rumo, e ferida.
Lembro-me do momento que juntei minhas coisas da cabana e sai sem destino, da sensação de não estar sozinha...
Ela me olha nos olhos e diz que vê o amor em mim, mas que esse amor será meu calvário, que amar além de si mesmo é um erro...
Levanto-me e digo que ela não sabe o que diz, ela me segura pelo braço e diz que eu irei voltar.
Saio dali sem olhar para trás, vou até a venda e pego as encomendas e volto a galope para a fazenda, ainda com a sensação do lobo me observando...


Diálogo 24º

Chego a fazenda ainda chateada com a velha bruxa, porque não me revelou o que leu ?
Fico magoada com todos que me dizem que não posso ama-lo, sei que ele é um templário, já entendi o que isso significa.
Mas não sou dona do meu coração, não sou dona do meu amor, sinto que não é um novo amor, sei que nossas almas já se amaram antes.
Sou interrompida dos meus pensamentos pelas crianças que vem pegar as mercadorias, entrego a elas as compras feitas, estou com um nó na garganta, preciso ir para longe, preciso ficar sozinha.
Ando o resto da tarde sem conseguir nada fazer direito, sem me concentrar, estou dispersa, derrubo as coisas, tropeço, a noite cai rápido, os homens voltam do pastoreio.
Hugo me vem com o jantar e eu recuso, não estou com fome...
Ele me acha estranha mas não se intromete em meus pensamentos.
Pergunto-lhe se eu poderia pegar um dos cavalos e dar uma volta.
Ele me adverte que já é noite, digo que só vou até o lago que não entrarei na mata fechada.
Relutante ele consente e diz para eu ter cuidado pois acha que tem lobos por perto, faço que sim e preparo a montaria.
Levo algumas coisas para a noite, quero dormir aos olhos da grande mãe, em baixo desta lua linda que está sobre o céu...
Saio a galopes, exijo bastante do animal, o vento no rosto me dá sensação de liberdade, de paz, meu coração acelera, estou livre...
Procuro um lugar próximo a algumas árvores e amarro o cavalo, deixo minhas coisas no chão e faço uma pequena fogueira, o clima é quente, então me banho sob o luar, a água está linda, cristalina sob a luz da lua, é delicioso me banhar sem a preocupação de ser vista, livre, liberta...
Saio da água, e me visto, acendo a fogueira, forro o chão e me perco olhando para as estrelas, eu sei que ele é um templário, eu sei o que isso significa, mas é tão jovem para ter uma vida tão regrada, tão jovem para não amar, me perco na noite e no céu estrelado...
Nele vejo o sorriso que me deu naquele campo de rosas, e adormeço sob o luar...

Diálogo 25º

Os raios do sol me despertam dos meus sonhos, sonhei com ele meu cavaleiro de armadura reluzente.
É um sonho antigo que costumava ter quando menina ainda, depois de moça e de tudo que passei este sonho já não mais fazia parte das minhas noites de sono.
Meu cavaleiro que antes sem rosto agora tem o seu, os olhos mais penetrantes que já vi...
Meu coração palpita forte em meu peito, a saudade é palpável, meu corpo todo estremece ao lembrar dos beijos trocados do toque de sua mão, da euforia de te ter em meus braços, do cheiro das rosas no campo onde nos encontramos.
Meu sonho irreal, mas que me deixa viva, sonhar, ainda posso sonhar e te ter em meus sonhos meu amado cavaleiro solitário, meu templário, meu lobo, meu amor...
Você não foi feito para mim, eu não fui feita para ti, mas te amo, e poder beijar sua boca, sentir sua mão firme em meu corpo, sua língua em minha nuca, o arfar de sua respiração em meu ouvido, mesmo em sonho me diz que sou mulher, que a você eu me entregaria, faria amor até a exaustão.
Meus pensamentos me distraem, me assusto com o galopar de um cavalo que vem ao longe.
É Hugo me procurando, reclama que estou sumida, que não dormi na fazenda, que poderia ter sido atacada por algum animal.
Apenas sorrio junto as coisas do chão e vou até meu cavalo, ele vem resmungando e dizendo que não posso sumir assim e que vai me arrumar um marido.
Isso me trás de volta ao dia de hoje e reclamo dizendo que não preciso de nenhum homem para cuidar de mim, que sou adulta e posso viver sozinha.
Ele me chama a atenção que estou sob a guarda dele, e que seria bom eu me casar pois não tenho família e nem ninguém por mim...
Fecho o rosto emburrada, ele para o cavalo e me diz que isso seria uma solução para todos e que eu não ficaria mais pensando em cavaleiros andantes.
A voz dele me irrita e eu coloco o animal para cavalgar mais rápido chegando na fazenda antes dele, desmonto e levo o animal para dentro, ele chega logo atrás de mim e me pega pelo braço me encostando contra as paredes do estábulo falando firme por entre os dentes:
- Sua bruxa, você enfeitiça os homens até os mais santos os que tem votos perante a Deus, os mais determinados com suas promessas como eu, não deve ficar sem um homem, deve ter um dono e obedecer a ele, você não cheira como as outras, mesmo desarrumada é linda, seus cabelos estão sempre arrumados, és realmente uma bruxa, digo que deve pertencer a um homem pelo seu bem e dos demais...
O hálito quente em meu rosto e suas palavras me deixam encurralada, sei que ele não me fará mal, mas sei também que está lutando contra seu desejo de homem, eu o via como um pai e agora o vejo diferente, ele me solta e monta de novo no cavalo e sai a galopes.
Nunca quis confundi-lo, nunca foi minha intenção, olho para minha cama e vejo que ele deixou meu desejum, bolo e frutas, deve ter me trazido e não me encontrou aqui. 
Fico preocupada com a situação, mas não tenho para onde ir, penso em voltar e ver a velha senhora feiticeira.

Diálogo 26°

Passo o dia preocupada com tudo que ele me disse, talvez esteja certo, talvez seria melhor deixar ele escolher um marido para mim, ter uma casa, alguém que cuide de mim, filhos, fiz tantos nascerem, dei eles as suas mães, alguns vi até maiores e felizes com a chegada dos irmãos.
Desde menina ajudava minha mãe de coração, lembro do primeiro parto que vi, e minha mãe já sabia que eu seria como ela, me carregava para todos os cantos, mas sempre me orientou que é uma dádiva e que nunca deveria provocar abortos, que muitas me ofereceriam dinheiro para tal mal, mas para meu bem jamais deveria aceitar tal feito.
Quando cresci mais, aprendi o que isso significava e nunca o fiz, a Deusa abençoou minhas mãos para a vida e não para morte, abomino tal feito que outras que tem o mesmo dom que o meu pratiquem o mal contra a vida de um inocente.
Não consigo pensar em ter um homem e servi-lo, sem o amar, muitas das filhas da parteira fizeram tal escolha, tinham vergonha da adoção e logo se tornaram moças se casaram algumas foram felizes outras não.
Ficou apenas eu por ser a mais nova e a única que seguiu seus passos.
Estou distraída com tudo que vem em minha mente enquanto ordenho a unica vaca que eles possuem e escuto a menina gritando meu nome.
Está radiante e sorrindo me diz que teremos uma nova igreja na cidade, que alguns homens encontraram pedras preciosas enquanto garimpavam e já avisaram a corte,que a cidade irá crescer, que a cidade será abençoada.
Fico tão assustada com a notícia que não sei  bem como reagir, a inquisição está vindo junto com a igreja eu sei disso.
Me sento e ela afaga meus cabelos e diz que não preciso ficar preocupada, pois ela me ensinará a ler e poderei acompanhar a bíblia.
Disfarço meu mal estar e sorrio para ela, entrego o leite e a mando levar para a casa.
Sua avó que me detesta está na varanda olhando para mim de longe, sinto um arrepio por todo meu corpo, sei que ela pode me acusar de bruxaria sem provas.
Tentando parecer o mais calma possível sorrio e aceno para ela que dá as costas e entra na casa.
Procuro uma árvore de galhos firmes e fáceis de subir, preciso ficar só e arrumar meus pensamentos...

Diálogo 27º

Sou uma bruxa e moldo meu destino, não posso me esquecer quem sou e o que julgo certo e o que não julgo.
Não deixarei ninguém se apoderar ao meu destino, ninguém tocar nas minhas escolhas, mesmo que tenha de morrer por elas, mesmo que eu passe fome e não tenha onde dormir, a vida já me deu muita surra, e ainda me dará tantas outras.
Meu amuleto me protege, meus pensamentos devem ser fortes, acabo de me decidir que não casarei com ninguém só para ter um lar, que mesmo que eu seja denunciada a fogueira queimarei em paz por não ter fingido ser quem não sou.
Sou a Alma das Rosas senhora do meu destino, filha da lua crescente, filha do deus Cornífero, e ninguém mais vai usurpar de mim nada que eu não entregue de boa ventura.
Desço da árvore decidida e lá em baixo está Hugo com um jovem a cavalo, passo sem olhar direito e ouço ele me chamando, tenho ideia do que é, viro e paro estática.
Eles descem do cavalo e se aproximam o moço faz uma reverência e olho para Hugo sem me mexer, ele nos apresenta dizendo o nome do rapaz que não ouço estou gelada, é quando diz que vai nos deixar a sós para nos conhecermos e vai levando os cavalos.
O pobre sorri para mim e diz ser filho do ferreiro e que tem a mesma profissão do pai, que conhece os pais de Hugo e diz que não sabia que tinham uma sobrinha tão bela quanto eu.
Não respondo nada, apenas ouço, o pobre faz vários elogios e que se sentiria honrado se eu aceitar a corte que ele quer me fazer.
Apenas digo que não, peço desculpas gentilmente e vou saindo, ele me pergunta porque?
E de costas caminhando para o celeiro digo que meu coração pertence a um cavaleiro templário...
Entro no celeiro e me jogo na cama escuto logo Hugo entrando e muito chateado pergunta o que eu acho que estou fazendo? Que o moço era um bom partido e várias coisas mais...
Calma respondo que ele não me deve um casamento, que não é meu tutor, nem pai, que se quer temos ligação de sangue, que apenas agradeço o teto que me deu e que já causei incomodo demais.
Ele pede para eu me acalmar e reconsiderar tudo, que está pensando no meu bem, que jamais conseguirei nada com o Lobo Templário.
Talvez outros até se deitariam comigo e nada mais, mas que nem uma noite de amor poderia eu esperar pois suas promessas não lhe renderiam a mim uma mera mortal...
Interrompo e digo que não me importo que meu coração já escolheu e que nada posso fazer, peço apenas uns dias para arrumar um lugar para ficar e não mais causarei problemas.
Ele sai irritado me chamando de cabeça dura...
Não sei ainda para onde vou, não sei se voltarei a vê-lo, talvez nunca mais nossos olhares se encontrem, mas sei que me ama mesmo tendo outro destino longe de mim, mesmo que eu nunca possa te tocar sou sua...

Diálogo 28°

Passo a noite pensando para onde ir, não conheço ninguém no vilarejo mas estou decidida que não posso mais ficar.
Arrumo minhas coisas porém as lembranças atormentam minha mente, seu toque, seu carinho comigo.
As palavras que Hugo proferiu me alertando que entendi sua bondade  de modo errado, que não é o mesmo amor que tenho por ti e sim um amor benevolente apenas de irmão, mas sei que ele etá errado.
Talvez até melhor seria se estivesse certo, pois assim meu coração adormeceria, divago em sonhos onde posso tocar-lo e beija-lo, me sinto boba e rio para mim mesma. 
Deito-me e sonho com uma cabana num bosque, não é a que abandonei é uma outra.
O lugar é lindo, frutas, flores, você está cortando a lenha como da última vez que nos vimos e eu venho ao seu encontro, mas quando me aproximo você desaparece e estou sozinha novamente...
Acordo assustada por ter sido um sonho tão real, olho para as coisas arrumadas e vou determinada falar a Hugo que irei a cidade para procurar trabalho.
Ele dá de ombros e evita olhar para mim, digo que levarei um dos cavalos e ele não se vira.
Celo o animal e vou a cidade, alguns dias se passaram da ultima vez que estive com a velha senhora, as pessoas estão animadas e apressadas.
Percebo que há muitos homens na velha igreja, uma reunião não sei bem ao certo...
Passo em frente a venda de tecidos da velha mulher resolvo ir procura-la, a moça me manda entrar direto e vejo a senhora costurando de costas para mim diz que sabia que eu voltaria.
Meio sem jeito digo que procuro abrigo e trabalho, ela me pergunta o que sei fazer, sento-me e digo que sou parteira e sei fazer remédios, ela me interrompe e diz que não devo fazer guento para ninguém dali.
Podem me acusar de bruxaria, que o vilarejo tem o padre que todos procuram, e curam os devotos...
Quanto aos partos posso falar com o padre e ajudar uma irmã que faz o mesmo, e ganha para tal e está sozinha e vai precisar de ajuda visto que a cidade abrigará mais pessoas.
Me explica que depois que descobriram pedras preciosas um novo padre será designado para cá e junto alguns nobres, guardas, empregadas e tudo mais, por isso a movimentação...
Já estão reformando área nobre mais a frente, para comportar melhor a família do Duque e da Duquesa  e trabalho não irá faltar  para mim
Ela me olha e diz que já foi como eu, sozinha no mundo e que amou um amor impossível, interrompe seus pensamentos e me diz que precisa de alguém para entregar as roupas.
Imediatamente digo que aceito e que vou apenas pegar minhas coisas, ela acena com a cabeça e continua a costura.
Volto a fazenda o mais rápido possível todos estão na casa acredito que almoçando, vou direto pegar minhas coisas e Hugo está lá.
Digo que vou embora e agradeço por seu carinho, ele me abraça e pede para eu fechar meus olhos e profere uma oração.
Está chorando emocionado, quando me solta diz que Deus irá proteger meus caminhos, me entrega uma sacolinha com dinheiro.
Digo que não posso aceitar mas ele insiste e me dá o cavalo, pede apenas para eu visitar sua filha quando puder pois a menina gosta de mim, aceno que sim e montando no cavalo parto para minha nova história...

Diálogo 29º

Parto em direção a uma nova vida, foi bom fazer parte de uma família mas eu era estrangeira nos caminhos deles.
Indo para cidade sei que estarei mais perto da inquisição, pode ser bom e ruim ao mesmo tempo.
Posso ver de perto como anda as coisas e me precaver delas.
Chego a cidade, é tudo muito movimentado no centro, pessoas comprando e vendendo, crianças brincando...
Observo as pessoas distraídas passando de todos os lados, absortas em seus afazeres, as mulheres andam mais bem compostas que na outra cidade onde vivi, acredito que eles tem um poder maior de compra pelas vestes, até as mais simples.
Claro que sempre há pessoas mais humildes perambulando mas são em menor número, vejo que há uma taberna com alguns bêbados saindo lá de dentro, me lembro dos malfeitores e prossigo mais rápido, mulheres da vida gargalham na porta com seus decotes e pinturas extravagantes 
É uma cidade digamos mediana, fico curiosa para andar por ai e conhecer cada lugar...
Chego a venda da velha senhora, ela está a me receber, elogia o animal que monto, digo que se trata apenas de um empréstimo para que eu viesse com minhas coisas, ela pede que eu acompanhe e me leva até sua casa.
Prendo o animal numa árvore ao lado de fora, ela diz que pode pedir a um conhecido que anda por aquelas bandas para leve-lo, digo que não há necessidade que sei os dias que meu amigo dono do animal vêm a missa ou fazer negócios na cidade.
Ela me olha profundamente como se lesse minha mente que não confio nela, mas relaxa e sorri, sei que ela se interessa em ganhar dinheiro com seus dons mas não me fará nada enquanto sou de valia.
Ela me mostra o quarto para eu poder dormir e me diz o valor da diária, um absurdo mas será por um curto tempo, diz que depois que eu comer tem algumas entregas para eu fazer e sai.
O quarto está empoeirado e há apenas uma cama e uma comoda a qual coloco os poucos pertences que carrego, arrumo o lugar e como a comida que ela deixou, tem um sabor sem graça e sem tempero, largo a maior parte. 
Quando passo para levar meu prato até a cozinha me deparo com um lindo espelho, sou sugada por ele, e me dirijo olhando para meus olhos refletidos no espelho, a medida que me aproximo não mais me vejo, vejo uma tempestade de areia cruel, as imagens se embaralham, vejo animais soterrados, uma linda mulher sendo carregada pelo meu Templário.
Os olhos dela direcionado a ele com todo o amor que possui, uma corrente que ela lhe dá, as imagens são confusas, deixo o prato cair e me aproximo mais até o espelho, as lágrimas rolam abundantes pelo meu rosto....

Dialogo 30º

Ela o ama e são do mesmo mundo, possuem as mesmas crenças...
Já ouvi histórias de templários que largam o celibato por um amor, mas continuam servindo a ordem de outra forma.
Mas nunca de um que tenha optado por uma bruxa, toco o espelho como se pudesse toca-los, as imagens dançam na minha frente, vejo a face de um lobo negro como se andasse em minha direção, dou um passo para trás e volto a me ver no espelho.
Ouço a voz da velha senhora atrás de mim perguntando-me o que o espelho me revelou, abaixo catando o que deixei cair e dizendo que não vi nada era só minha imagem.
Ela ri e diz que vi mais, mas se não quero dividir que seja...
Vamos até a venda, ainda estou confusa com o que vi, não sei dizer se é saudade ou pensar em perder algo que nunca foi meu só sei que sinto uma enorme dor em meu peito, maior que tudo que já senti antes.
Respiro fundo e disfarço minha cara fúnebre e tento prestar atenção no que ela me diz, pego os vestidos que devo entregar e o levo
A sensação de sair dali é prazerosa, vou até o lado mais luxuoso da cidade prestando atenção a tudo.
Passo em frente a construção da nova igreja, os homens que trabalham me olham como um pedaço de carne, ajeito o decote do vestido e sigo em frente
Cabeça baixa, andar apressado, me concentro em tudo que meus olhos param, uma borboleta, uma criança, uma flor, tento desvencilhar a lembrança do espelho, do olhar dela para o meu amado, já usei a magia da revelação pelo espelho, sei que é parcial, sei que são  como pinturas espaçadas, mas o espelho não mente e isso sim aconteceu.
Distraída tropeço e derrubo a trouxa com o vestido, levanto os olhos e uma mão se oferece para mim é o filho do ferreiro que Hugo me havia apresentado e nem me lembro seu nome
Aceito e me levanto, ele me entrega a trouxa e me faz uma reverência, sorrio em troca, meio sem graça e desajeitada.
Ele me pergunta o que faço por lá, digo que estou compressa mais que na volta de onde vou passo para falar com ele.
Ele sorri e diz que me acompanha, que seu pai está nos negócios e tem um tempo livre e se oferece para levar a trouxa para mim, aceito e vamos calados lado a lado...

Diálogo 31º

Olho para ele tentando imaginar o que se passa por sua cabeça, não fui muito simpática na nossa apresentação.
Não tenho ideia que ele pensa sobre mim, resolvo puxar um assunto qualquer falando sobre o tempo.
 Muito educado, ele mantém o diálogo falando coisas do cotidiano da cidade.
Chegamos na casa onde devo entregar a encomenda, a senhora sorri e faz uma brincadeira com ele perguntando se ele mudou de profissão.
Ele é sempre muito gentil e diz que só veio me acompanhar, ela recebe e se vira para mim dizendo que depois acerta as contas, sorrio e estamos de volta eu e ele lado a lado.
Ele então resolve me perguntar o que faço por lá, visto que minha família não é do centro.
Explico-lhe que não são minha família e no caminho de volta conto de como todos me conheceram. 
Não digo nada de como estava machucada e nem do antes de minha vida, apenas revelo que precisei sair as pressas de onde morava devido alguns bandidos.
Ele é gentil e me ouve com atenção, estamos passando por um lugar de pouco movimento e ele me pergunta onde estou vivendo e se pode me acompanhar.
Lhe conto que estou com a velha senhora e que trabalho para ela, ele fecha o cenho, diz que ela não é uma boa mulher que já ouviu várias histórias sobre ela, que dizem até que é uma bruxa.
Tento ser natural fingindo espanto e digo que não vi nada por lá, ele diz que sou uma alma pura e casta, uma cristã e como tal vejo o que há de melhor nas pessoas, sorrio não afirmo nem nego sobre ser cristã.
Ele pega minhas mãos e diz que ainda deseja me fazer corte, seus olhos verdes penetram em meus olhos negros.
O observo e vejo bondade com uma mistura de desejo e algo que não consigo identificar, sorrio e desvio o olhar e solto minhas mãos da dele.
Ele pergunta-me a quem deve pedir minha corte visto que Hugo não é meu familiar.
Olho para ele e digo que não deve, que não posso aceitar e me afasto dele.
Respiro fundo como se faltasse ar nos meus pulmões, ele pergunta porque não aceito visto que não tenho ninguém por mim.
Sei que moças sem família não conseguem bom casamento, ainda mais uma sem nome e wiccana nas vésperas das inquisições.
Ele ainda me afirma que é um bom homem e que posso perguntar a qualquer um da cidade sobre sua conduta, que pode cuidar de mim, sei que rejeitar a corte de um homem o fere profundamente ainda mais ser rejeitado por alguém que ele julga necessitado deve ser bem pior.
Qualquer outra no meu caso não pensaria duas vezes, mas não eu, estaria me traindo.
Paro e volto encara-lo, tento demonstrar tudo que se passa em meu coração, escolho as palavras, mas não há outro modo de dize-las.
Cautelosamente como se estivesse proferindo uma poesia digo-lhe: Eu amo outro homem, um homem que talvez nunca possa ser meu, que eu nunca possa tocar, que talvez nunca mais volte a ver, que talvez ficará na minha lembrança lembrança...
Ele me pergunta se fui tocada por quem amo e depois abandonou.
Nego me sentindo violada.
Então amavelmente ele diz que pode esperar, que pode esperar meu amor morrer, que se apaixonou por meus olhos negros, por meu perfume, que me quer como esposa e mãe dos seus filhos.
Digo que ele não deve me esperar, pois meu amor não morrerá, que não tenho o mesmo sentimento por ele, que apenas posso oferecer-lhe minha amizade, que meu coração já decidiu...
Ele sorri e diz que aceita minha amizade, que por enquanto isso o deixa alegre, mas que estará esperando por mim...
Digo que preciso entrar na venda de tecidos, nos despedimos e ele parte.
Parada o vendo ir penso de como seria mais fácil aquela vida, penso no templário e na mulher que vi no espelho, neles juntos...
Uma lágrima rola pelo meu rosto, não é de tristeza e sim por se orgulhar de mim, por não escolher o óbvio, por não me trair...

Diálogo 32°

Um vento frio me traz de volta dos meus pensamentos, algo como um sentimento de apreensão.
Não sei se voltarei ver meu templário novamente, mas estou decidida a esperar por ele, e  desejo vê-lo de todo meu coração.
Eu renderia a ele as mais belas poesias que habitam minha alma, cantaria e dançaria para ele com todo meu amor...
Mas devo considerar que ele pode amar esta outra mulher, ou nem a mim nem a ela, apenas o seu Deus...
Estando totalmente livre deste amor carnal, mas o amo tanto e sinto tanta saudade de seus olhos, do seu rosto, do seu toque que me contentaria apenas em vê-lo por uma última e única vez que seja.
Mesmo que nossos caminhos não sejam o mesmo...
Entro na venda e a velha senhora costura um belo vestido, se vira a mim e pergunta se entreguei a mercadoria, dou a atenção a ela necessária respondendo suas perguntas quase mecanicamente.
Ela sorri e diz que minha alma está longe e que devo tomar conta dela, me diz com um tom cruel " Abafe seu coração ! "
Como assim abafar meu coração? penso na frase dita e me recuso em aceita-la, que ele berre aos quatro ventos que eu o amo, e que meu sentimento chegue no coração dele, pois se estiver sofrendo ou triste, ou ainda desesperançado meu amor puro e abnegado de reciprocidade o alimente e de forças para continuar nas suas escolhas.
Pois sei que quem ama quer bem, quem ama aceita, quem ama se alegra com as escolhas do outro.
Ela chama meu nome e pergunta aonde meus pensamentos me levaram, apenas abaixo as pálpebras e ela me recrimina dizendo " Menina pare de alimentar seu coração com um amor carnal por um templário, ele não te pertencerá, você é uma bruxa, tente esquece-lo pois você sabe que ele pode sentir seu amor, o amor de uma bruxa tem mistérios...
O coração de uma bruxa acha meios de se comunicar com o coração de quem ela ama, seja realista a inquisição está próxima daqui, e ele não virá salva-la caso alguém lhe descubra...
Você é muito jovem e o amor toma proporções incontroláveis, não ame quem não se pode amar... "
Saio da frente dela, sei que ela é uma bruxa que usa suas habilidades tanto para o bem quanto ao mal, basta pagar-lhe, sei que minha companhia a ela é por puro interesse, não sei bem ao certo o que ela quer de mim. Porém estou em alerta, caminho sem me preocupar e paro diante a uma venda de maçãs vejo a mãe de Hugo, me aproximo para falar com ela, que se vira brusca e com cara fechada, sem esperar por sua simpatia para comigo, digo-lhe que quero devolver o cavalo que Hugo me emprestou.
Ela diz para eu entregar-lhe ao ferreiro que ele leva de volta, pergunto como vão todos e ela diz que estão melhor sem mim, lhe dou adeus e a deixo resmungando qualquer coisa com o dono da venda.
É fim de tarde, a velha senhora cozinha algo lá dentro, estou na varanda descascando alguns legumes e observo o céu,  tempo parece estar mudando, parece que vem uma chuva forte.
Não sei onde meu amor está mas quero que esteja bem....

Diálogo 33º

A chuva cai, forte e pesada como lágrimas abundantes e incontroláveis da grande mãe.
Sinto vontade de dançar na chuva mais me contenho não estou mais no campo e alguém pode entender de forma errada...
Mas corro lá dentro para pegar uma garrafa e encher destas lágrimas límpidas da grande deusa.
Colho a água da chuva em uma bacia e a guardo na garrafinha.
Levo os legumes descascados para ela, sem nenhuma palavra os recebe.
Está estranha mais que o normal, puxo assunto sobre a chuva e comento que ela deve durar.
Ela se vira e diz que são as lágrimas que ainda estão por vir, senti o mesmo, não comento que recolhi a chuva e escondo a garrafa nas minhas coisas.
Jantamos caladas olhando para a chuva que cai castigando a cidade, relâmpagos e trovões completam o clima sombrio que se forma.
Tenho medo, agarro entre as mãos meu colar de proteção.
Ela me chama para um quarto que está trancado nos fundos da casa a sigo desconfiada, me convida entra.
Há um pentagrama riscado no chão, velas, o espelho que antes estava na sala agora está lá, cartas, algumas ervas, além de espadas, escudos e outros objetos.
Ela percebe meu olhar dançando por todo o quarto e me diz que são de alguns guerreiros que pedem magia em seus pertences antes de saírem para uma batalha.
Digo a ela que não se deve invocar bênçãos a batalhas de outros, pois a bênção a um é o fio da navalha em outro.
Não faço parte da mesma tradição que ela não invoco aos deuses bençãos a guerra.
Ela me chama de tola e diz que é por dinheiro e proteção a ela, que estes mesmos guerreiros lhe devem proteção quando a inquisição chegar.
Discordo dela e saio do quarto, ela me segue me puxando pelo braço mas logo ameniza o tom de voz me chamando de volta ao quarto, a sigo...

Diálogo 34º

Cautelosa, não sei bem o que ela quer de mim, mas meu íntimo me deixa em alerta.
Ela acende as velas e docemente diz que vai puxar as cartas pra mim, não me nego a saudade que sinto toma conta da parte racional da minha mente e ansiosa aceito.
A chuva forte e os trovões parecem a deusa me chamando a atenção mas meu coração saudoso me diz que é apenas o abrir das cartas o que há de mal nisso?
Nos sentamos no chão dentro do pentagrama, ela acende o incensário e os raios lá fora iluminam o quarto, um arrepio invade toda minha coluna, mas são apenas as cartas e quero saber se você a ama.
Ela abençoa o círculo para a abertura do jogo.
A interrompo, e minha parte sã me leva a pergunta-la quanto isso irá me custar...
E com um sorriso ela me diz que só depende da minha decisão depois do jogo, também sei abrir as cartas, não posso abri-las para mim apenas para outros que me pedem.
Então ela não pode me dar uma leitura errada, com essa segurança aceito e ela termina a abertura do círculo e me pede para cortar o baralho.
Meus olhos brilham na possibilidade de poder saber se você está vivo e bem, mais o que mais quero mesmo saber é se a ama.
Meu intimo no momento é egoísta como o de qualquer mulher, ela sorri me entregando de volta o baralho e lhe dou as cartas para a leitura.
Me olha por dentro e me pede a primeira pergunta, não consigo disfarçar e pergunto se o templário está vivo.
Ao abrir ela me diz que sim, um alívio toma conta do meu peito e sorrio, que já passou alguns maus bocados e outros ainda mais virão, mas os lobos sentem o cheiro do perigo de longe.
Que ele já sentiu o cheiro de sangue nas suas mãos.
Sei que se sua espada foi usada mas tenho certeza que se precisou usa-la foi para defender a segurança dos seus ou a sua mesma.
Ela me olha e diz com um ar de quem espera a pergunta certa, engulo a seco mas meu coração de mulher quer ouvir por mais que doa.
E me atrevo perguntar se o seu coração ama alguém...
Puxo mais uma carta para a leitura e ela sorri e diz que sim, me despenco na resposta sentindo que é a mulher do espelho.
Mas ela interrompe meus pensamentos e diz que ele ama uma mulher que não está perto dele...
Sou eu quem ele ama? Serei eu quem está nas cartas? Será que ele pensa em mim? Mas e a mulher? Milhões de perguntas invadem meus pensamentos e noto que ela espera uma próxima pergunta.
Puxo outra e pergunto se há possibilidade de eu vê-lo nesta vida ainda...
Ela me responde que SIM, e este sim invade minha mente e me leva a um extremo de felicidade.
Ela me corta e diz que pode ser um breve encontro pois vê ele partir e que para vê-lo precisarei abrir os olhos pois posso não reconhece-lo.
Mas não me importo, apenas quero ver seus olhos e nem me importo se nunca poderei toca-lo, acabo de abrir o baralho e peço uma interpretação completa.
Ela me diz que você enterrou alguém querido, que sua batalha maior ainda virá, assim como a minha, diz que eu tenho bem próximo um coração que me ama mas que devo ter cuidado para não feri-lo.
Penso no filho do ferreiro, diz ainda que terei momentos difíceis, mas que me vê feliz em outra carta.
Que me vê realizando um sonho, olho para a carta dos sonhos e sorrio para ela, sei qual seria o sonho que gostaria que se tornasse realidade, quero um filho.
Agradeço a leitura terminando-a por ai, como bruxa sei que devemos parar a leitura em ápice, pois tudo é modificável somos livres para mudar tudo.
Ela fecha o círculo, apagamos a vela, saímos do quarto, e mais uma vez a sensação de que tudo que ela me oferece será cobrado me volta a mente...
Vou para o meu quarto, olho pela janela e meu coração se aperta ao ver um lobo negro molhando na chuva pesada, fixo os olhos para ver se é real o que vejo, mas não há mais nada na escuridão...

Diálogo 35°

Alguns dias se passam e já posso dizer que conheço bem a cidade.
Continuo a morar com a velha senhora e a entregar os vestidos que ela e a outra mulher que lá trabalha costuram.
As encomendas aumentaram desde a descoberta das pedras preciosas na cidade.
O conde investe nas minas e a cidade aumenta consideravelmente desde que a notícia do ouro se espalha.
O mais nobres se tornam mais ricos, o comércio triplica em suas vendas e há investimentos em todos os lugares onde era apenas uma cidade simples dá lugar a uma cidade maior e mais bem popular e populosa. Construções de casas novas estão para todo os lados que se olham, a guarda que antes era de um número razoável, hoje está por todo lado.
A pequena igreja hoje dá lugar a quase terminada igreja da cidade, é uma obra grandiosa.
O Conde mandou se gastar o que fosse necessário no investimento desta obra...
Há uma reforma completa no palácio do Conde, tecidos nobres, encomendas, todos parecem alvoraçados e com uma melhoria considerável de vida.
O filho do ferreiro continua me ofertando seu amor, mas consegue entender que meu coração já fez a escolha dele e hoje somos bons amigos.
Sempre que pudemos passeamos lado a lado e ele me ensina a ler e escrever, admito que estou boa nisso, já leio as encomendas e no momento leio um livro de poesias que ele me deu de presente.
A inauguração da igreja será daqui alguns dias e haverá um baile em comemoração pois ficará pronta no mesmo dia em que filha do conde chegará na cidade.
Há uma enorme encomenda de vestidos, visto que todos os nobres participaram do baile.
Mas a cidade será toda festa também pois será celebrada a primeira missa e faz com que todos queiram roupas novas para participar da missa.
Até eu tenho vontade de ter um belo vestido como os que vejo a velha mulher preparar, vestir algo como um daqueles seria mágico.
E assim com todos esses preparativos a vida aqui passa concentrada nos afazeres.
Saio para entregar uma encomenda e passo próximo a taberna e vejo dois dos meus mal feitores.
Estão bêbados e imundos mas posso reconhece-los a quilômetros. 
Me assusto quando sou tocada no ombro pelo meu amigo ferreiro que vê em meus olhos minha aflição.
Apenas digo que preciso levar a encomenda rápido e ele me leva a cavalo.
Espero que eles não fiquem na cidade e que não tenham me visto, meu coração fica apreensivo.
Entrego a roupa e volto com ele, diz que estou estranha e agitada.
Digo a ele que adoraria aprender a usar a espadal ou flecha, ele me fita assustado e diz que isso não combina com minha tão delicada pessoa.
Consegue me fazer rir com o que pensa sobre mim e meio a gracejos me diz que não há nada para se preocupar na cidade, que a guarda está por todo lado e há apenas ladrões de galinhas.
Alerto a ele sobre o crescimento da cidade e novos moradores e até mesmo visitantes.
Ele admite que realmente a cidade está aumentando mais que ficaria encantado por me proteger.
Dou um abraço terno em meu amigo, que me retribui com carinho me afasta e me olha nos olhos e me pergunta se quero acompanha-lo ao baile na corte.
Fico sem saber o que responder e pergunto como foi convidado.
E com carinho me responde que ele e o pai são responsáveis por forjar tudo que a guarda necessita e complementa ansioso que adoraria ir comigo ao baile.
Digo que não tenho o que vestir e que a data se aproxima que talvez não haja tempo.
Ele apenas sorri e me diz que poderia ir até como estou vestida no momento, que ainda sim seria a mais bela.
Nos despedimos e digo que aceito.
Vou direto a venda e falo tudo com a velha senhora, ela diz que já sabia que eu iria ao baile e que tem algo para mim.
Pergunto a ela como sabe e ela apenas me responde que tem seus meios, diz que fará algo belo com o tecido que me mostra e que apenas devo trazer-lhe de lá uma encomenda.
Não me ateio ao que ela diz pois estou vidrada no tecido delicado e aceito.

Diálogo 36º

Ela me olha e diz que não é difícil fazer nada para mim, e me compara a Flidias e sorri zombeteira.
Digo a ela que é muita presunção minha concordar com essa comparação a uma Deusa tão honrosa e linda, e que não tenho os cabelos dourados e sim negros e sorrio zombeteira também tentando ser  menos agressiva com minha patroa, mas ela retruca que tenho a essência de Flidias e que meus olhos brilham como o dela.
Entrego o tecido, e ela tira minhas medidas e volta a me dizer que deverei trazer uma encomenda do palácio para ela, que quando a data se aproximar ela me dirá o que é, lembro-me do jogo de cartas e sei que seria o pagamento pelo jogo aberto, mas ter notícias do meu amado e saber que ele me ama acho justo.
O vestido que ela irá fazer, pagarei com meu trabalho a  bruxa negra.
É assim que a vejo não como uma irmã e sim como uma mulher perigosa e que sabe manipular a magia dos elementos para seu beneficio, e me atento para encomenda que irei trazer mas nada digo, guardo para mim meus pensamento.
Já são por volta das 18 horas e vejo as mulheres e homens indo a antiga capela para rezarem, alguns soldados promovem a segurança e outros entram na taberna ao fim de um dia de trabalho para algum divertimento.
Amo observar a vida e como os comuns vivem, pra mim o ir e vir é poético!
Ouço a voz da minha patroa que posso ir e que ela vai a missa, me assusto com a informação e a vejo cobrir a cabeça branca com um véu negro e ser recepcionada por um guarda.
Vejo a troca de uma bolsinha de couro entre eles, deduzo ser o pagamento por algum serviço.
Saio e me lembrando da conversa de mais cedo reflito sobre a linda Deusa Flidias,  caminhando pela cidade penso nela.
Flidias  é a Deusa celta da Sensualidade e Senhora das Florestas. 
Como Senhora das Florestas, ela cuida de todas as coisas silvestres e indomáveis da natureza e está associada ao Homem Verde. 
Mas Flidais também está associada aos animais.
Um dos símbolos desta deusa é a corça, que está intimamente ligada com o feminino, a beleza da corça vem do brilho extraordinário de seus olhos e este olhar profundo, talvez por isso ela tenha me comparado a Flidias.
Flidais era descrita como uma mulher altiva, forte e muito bela que apresentava cabelos dourados.
O dourado não apenas define seu esplendor, mas também faz a consciência despertar.
O domínio do consciente em Flidais não é espiritual e sim terreno, uma exaltação da mais alta pureza, que reluz como ouro.
A deusa exemplifica os aspectos da natureza feminina que se manifestam na matéria.
Beleza física, consciência integrada no corpo e capacidade de conectar emoções profundamente sentidas com relacionamentos.
Não me julgo bela como ela, mesmo que alguns já me tenham dito isso, talvez essa beleza exterior tenha sido meu calvário e reforço minha vontade de não mais ser tocada por outro homem, e perdida em meus pensamentos meu corpo se aquece lembrando dos seus beijos em minha fronte naquele bosque de rosas escarlates...

Diálogo 37°

Porque me sinto boba quando penso em você?
Nunca imaginei que o amor deixa as pessoas assim, nunca me imaginei amando um homem...
Eu logo eu ?! 
E sei que faço cara de boba para o tempo e me pego rindo para o nada, é sua imagem mental que me deixa assim...
O tempo passa e ao invés deste amor diminuir e até mesmo passar ele só aumenta, a distância é apenas a separação dos corpos mas não do espírito como dizia a minha mãe bruxa, e de repente me vejo lembrando dela. Não era de abraçar e nem de me beijar mas era cuidadosa e carinhosa com todos os filhos de coração que tinha, e talvez por eu ser a mais nova e a que mais se dedicava a ela, o tempo que se dedicava a mim era sempre o mais proveitoso.
Lembro-me dela cuidando de mim quando doente, e sempre com ela em todos os partos, de me ensinar sobre as ervas, da grande mãe, do poder de tudo que tem vida.
A iniciação na arte com 13 anos quando finalmente escolhi meu nome mágico e deixei de ser a pequena Alma e me tornei a Alma das Rosas.
Mantive meu nome porque minha mãe bruxa no primeiro instante que me viu ao sair da barriga de minha mãe biológica disse a ela que eu era uma alma especial e única, mas mesmo assim minha mãe biológica não me quis e ela ficou cuidando de minha alma até que eu mesma pudesse cuidar dela, tornando uma alma forte e guerreira e livre.
Sempre fui muito precoce, e na magia não foi diferente aprendi a usar de minha intuição e os segredos da arte.
Caminhando percebo  que andei muito e como estava distraída não tinha noção da distância que percorri, nunca tinha vindo para o lado de cá da cidade mas avisto meu amigo ferreiro mais a frente.
Aperto o passo para alcança-lo mas o vejo conversando com uma bela mulher, parece uma das damas de companhia da duquesa, resolvo não interromper-los e volto para a casa da minha patroa.
É tarde quando chego e vou logo me deitar, apago a chama da vela e desejo que meu amigo encontre amor em seu coração, assim como eu encontrei no meu...

Diálogo 38°

Sonho a noite toda com os espíritos da mata...
Cornífero quer me dizer algo, ele só manda os sagrados da floresta quando precisa se comunicar.
Vejo a águia, a coruja, a cobra, o corvo em meus sonhos.
Estou caminhando numa floresta densa e fechada, uma mata virgem, sinto o cheiro da morte, me estremeço mas os espíritos da floresta me amparam.
Acordo assustada e amedrontada, minha patroa em vestes de dormir vem até meu quarto perguntando o que foi, respondo assustada que era um pesadelo, ela me pede para descrever, mas minto e digo que não me recordo, ela diz que eu gritava como não posso me lembrar?
Nego com a cabeça e ela sai, fico com a sensação hostil do pesadelo por todo o dia que passa rápido sem eu notar direito.
Vejo Helena e Hugo na cidade, pago a ele o dinheiro que havia me emprestado e ele não quer aceitar, insisto e digo que tomarei como ofensa se não deixar eu pagar.
Ele aceita e me diz que ficou muito feliz em saber que me tornei amiga do ferreiro e que aprendi a ler, digo a ele que ainda tenho algumas dificuldades mas hoje o mundo das letras não me assusta mais. 
Me despeço deles e vou até ao meu amigo ferreiro, conversamos e ele me conta sobre a dama de companhia que lhe revelou que está feliz em ele ir ao baile.
O entusiasmo dizendo que ela pode estar gostando dele, mas ele me repreende dizendo que ele tem olhos para outra que não aceita o seu amor pois é uma dama difícil.
Sorrio para ele com carinho e digo que ele deve deixar o coração dele falar e não a fixação de sua mente, ele sorri de volta e balança a cabeça pra mim em positivo.
Ao voltar para a casa já está escuro e a lua crescente aponta no céu e me lembro quanto jovem eu sou.
E tomada por um ímpeto em meu peito depois da noite de pesadelo corro passando por alguns na movimentada rua e me embrenho na mata onde me sinto mais protegida.
Corro, subo um morro onde encontro uma grama cerrada e uma bela arvore frondosa e resolvo abrir um círculo e celebrar a lua.
Junto alguns galhos secos e faço uma pequena fogueira apenas para iluminar, junto sálvia branca e acendo agitando no sentindo horário perfumando meu círculo mágico...
“Eu abraço novos começos positivos!
Eu me abro a um brilhante e lindo futuro!
Que meus olhos interior se abra, que cornífero me mostre o perigo antes que seja irremediável !!!
Que assim seja, que assim se faça !!!
E estou girando, em transe, canto a voz da natureza, o cheiro da sálvia me enebria os sentidos e de repente me vejo menina.
Tenho por volta de meus 5 anos, estou na beira do rio e me abaixo para beber água e molho o rosto, está fresca. Caminhando lentamente em minha direção vejo uma loba e seus filhotes, são brancos mas há um negro que me chama a atenção, fico parada e fascinada, não me mexo apenas os fito, ela leva os filhotes até o rio como se não me visse e todos se servem da água limpa e fresca.
Me abaixo e estendo a mão para os lobinhos, mas apenas o negro se aproxima e lambe minha mão, sinto em minha pele o toque áspero de sua língua.
Sua mãe corre se afastando do lago e eles a seguem.
Volto a me sentir adulta e giro rápido dentro do círculo e paro bruscamente abro os olhos da percepção e vejo o espírito de um lobo correndo ao meu encontro e pula para dentro do círculo, os olhos em chamas e se joga para dentro de mim, me sinto quente e caio deitada dentro do círculo mágico.
Saio do transe, e sinto a chuva molhar meu rosto, a fogueira apagada, a escuridão, mas antes de abrir o círculo e sair, uma onda de gargalhadas invadem meu peito, e rio ali deitada olhando para a lua...
Me lembro daquele dia, me lembro dos lobos, e acabo de ser presenteada por cornífero com meu animal interior.
Os animais estão mais próximos do que nós da fonte divina por serem míticos, oníricos.
Ao compartilharmos de sua consciência animal transcendemos o tempo e o espaço, as leis de causa e efeito.
A relação entre homem e animal é puramente espiritual, pois nosso instinto animal é mais forte e menos racional por serem manifestações dos poderes arquétipos do ser humano.
E o lobo é o mais fiel dos guias animais, o símbolo do professor da tribo, encorajando-nos a enfrentar novas idéias e projetos.
O lobo é um explorador de rotas, precursor de novas idéias que volta para tribo para ensinar e compartilhar a medicina.
O senso do lobo é muito aguçado e a lua é sua aliada de força.
A medicina do lobo permite o professor dentro de nós todos aparecer e ajudar os filhos da Terra a compreender o Grande Mistério da vida. 
Abro o círculo e volto ao lar, estou molhada e vou correndo até em casa...

Diálogo 39°

A cidade está escura e a chuva molha meu corpo.
Estou encharcada e o vestido me atrapalha correr, tropeço e caio e ao me levantar percebo um homem me observando.
Fixo o olhar e vejo que é um homem alto e está de capuz ele não se mexe, e isso  me dá arrepios.
Levanto-me e disparo para a casa da velha bruxa e desapareço no escuro, fico imaginando quem seria mas não me apego a isso.
Chego e a velha mulher me pergunta onde andei, e me recrimina por entrar tão tarde, diz que as mulheres são vigiadas na cidade e desacompanhadas ainda mais a noite.
Pode ter uma dupla interpretação, e estamos de volta aos olhos da inquisição e me lembro do homem que não identifiquei na rua.
A deixo falando e vou ao meu quarto, me troco e vou dormir.
Meu sono é tranquilo e livre, acredito que meu espírito sai para passear, sinto o cheiro das minhas rosas, a saudade da minha casa, dos meus animais, dos meus pertences mágicos, sinto falta da minha meia irmã, de poder saudar o sol pela manhã de braços abertos e a lua durante a noite, o sonho é leve, e me renova o espírito.
Mas logo se torna em pesadelo, estou perdida e me sinto perseguida, piso e o chão me engole sugando meus pés, tento fugir sem poder correr, acordo assustada e me vejo na casa da velha mulher.
Bebo a água mágica que colhi da chuva anterior e temo que o templário possa estar em perigo, não ter notícias é muito atordoante, não há buchichos na cidade sobre a peregrinação deles.
Talvez quem sabe haja na antiga cidade onde eu vivi, mas ali estavam todos interessados nas pedras preciosas e no crescimento da cidade.
Tomo meu desejum e vou a venda, a movimentação na cidade está mais agitada que o normal e o baile é daqui a dois dias, uma das clientes nos avisa que o novo padre já chegou a cidade e que está no palácio mas ninguém ainda não o viu e elas estão ansiosas, me arrepio lembrando do meu pesadelo.
Será fim da calmaria e começo da areia movediça?
Afasto esse pensamento e fico ouvindo a conversa, ela diz que foi feita uma cruz de ouro maciço para a igreja e que está ansiosa para ver a nova igreja por dentro e fala com desdém da antiga capela e do padre anterior, mas diz que ele rezará a ultima missa na capelinha amanhã e no dia seguinte junto com a chegada da filha do conde a primeira missa na igreja e o baile na corte.
Ela é uma mulher esnobe e repulsiva, e nos olha com desdém só está na venda pois não tem como comprar o vestido em outra cidade.
Ignoro-a e volto a limpar o chão, imagino a cara dela quando me ver no baile.
Vou a área nobre para uma entrega e ao voltar paro em frente a igreja e noto que não trabalham mais por fora, mas ouço uma movimentação interna, é linda de fato !
Encontro o antigo padre da capela que está parado observando a construção assim como eu, sorrimos um para o outro.
Ele vem ao meu encontro me pergunta porque nunca me vê nas missas, meio sem jeito respondo que sou nova na cidade e muito humilde e que ainda não sei ler direito, ele sorri e diz que a casa é de todos.
Diz que a irmã com a qual eu vivo lhe contara que eu era parteira, confirmo, digo que aprendi meu ofício com minha falecida mãe.
Ele diz que as duas freiras que vivem lá fazem os partos na cidade, mas que eu seria bem vinda se quiser ajuda-las, e me fala do crescimento de pessoas.
Me olha nos olhos e diz que em breve vai partir para uma cidade menor, que a cidade está pomposa agora e os votos dele são mais simples, sorrio carinhosamente pra ele e vejo um homem puro de coração e que dá a vida pelo outro.
Ele me estende a mão e deduzo que devo beija-la, já vi minha falecida mãe fazer isso e repito minha lembrança com ele.
Quando chego a venda vejo a velha senhora e o meu amigo ferreiro discutindo, não sei sobre o que é.
Eles se calam no mesmo instante que me veem.
Ela volta para sua costura e ele vem falar comigo e me chama para uma volta, ela abana a mão como sinal de eu ir.
Pergunto o que há e ele me corta me oferecendo uma linda rosa vermelha, inspiro a flor em busca do seu perfume e nada sinto e meus sentidos me dizem que há algo errado...

Diálogo 40°

Meu amigo está estranho, não sei o que há de errado mas fico atenta a todos seus atos.
Me fala da dama de companhia da corte e do carinho dela por ele, gostaria de vê-los juntos e felizes.
Volto a perguntar porque ele e minha patroa discutiam, ele me para e me fita nos olhos e me diz que ela não é uma boa mulher, que é capaz de vender um filho para se dar bem em qualquer coisa.
O acalmo e digo que sei, mas ele me abraça calorosamente como se estivesse com pena de mim ou me escondendo algo.
Vamos até sua casa e ele me ensina um pouco mais a ler e escrever, estou ficando boa nisso.
é maravilhoso ver o escrito e ele ter som e vida, fico feliz com minhas vitórias e a expressão dele também melhora.
Ao partir para casa noto que chegam a cidade vários peregrinos, meu coração dispara, mas percebo que são comitivas organizadas apenas por pessoas comuns que vem para a primeira missa na grande igreja.
Meu amigo diz que eles vieram de cidades próximas e que alguns solicitaram seus serviços.
Faço uma expressão que ele nota que estou um pouco desiludida, me olha com carinho e me pergunta por quanto tempo ainda vou pensar no templário...
Não o respondo apenas sorrio pra ele de todo coração, ele me sorri de volta levanta meu queixo me olha nos olhos.
Me diz que quem possui meu coração é o homem mais sortudo do mundo, pois meu sentimento não muda nem com o passar do tempo.
Me beija a testa e passa a mãos em meus cabelos, sinto que ele ainda tem sentimentos por mim...
Volto pra casa e não vejo a bruxa, preparo o jantar, cozinhar é maravilhoso, toda bruxa ama cozinhar, brinco com os temperos o cheiro toma conta da casa, quando estou terminando noto vozes lá fora.
Ela chegou e está com mais alguém, são alguns guardas, não consigo entender o que conversam, um deles se convida para entrar e ela permite, os outros três ficam lá fora, volto a cozinhar para fingir que não os notara a presença deles.
Ela oferece o que comer, ele aceita e ela entra na cozinha.
Pega a sopa e pão e leva para o guarda, alguns minutos e ela me chama, entro cautelosa no ambiente, ela me apresenta dizendo que sou sua empregada e que no baile ele deve me entregar a encomenda.
Ele acena com a cabeça enquanto come, seu olhar é repulsivo e ambicioso, volto para a cozinha.
Algum tempo depois ele se vai e pergunto a ela que encomenda é essa.
Ela me diz que apenas devo trazer e mais nada, pergunto porque e o ferreiro discutiam e ela apenas o xinga de débil e resmungando sai e me deixa ali sem explicações, farejo sujeira no ar.
A noite passa tranquila e o sol se estende no azul limpo do céu, corremos com alguns detalhes de algumas encomendas e hoje todos terminam seus afazeres mais cedo.
A filha tão esperada do Duque chega em sua linda carruagem cortando a cidade, é um grande acontecimento, não pude vê-la direito, quem sabe na hora da missa todos possam.
Ao anoitecer entendo que será duas missas, a primeira para a elite e após para o povo.
E assim acontece, por algum motivo que desconheço minha patroa é convidada pelas duas em contra parte as mulheres da taberna são proibidas de entrar, assim bem como os mais humildes e alguns estrangeiros mesmo os filhos já nascidos nesta terra.
Uso um vestido amarelo e branco e um véu, acompanho minha patroa na segunda missa, a igreja é magistral, tudo me chama atenção, mas o que mais me choca é o padre, o mesmo homem que vi na chuva ontem.
Meu corpo se retrai, em sua missa diz que traz a própria palavra de Deus em sua boca, e no fim diz que a inquisição é necessária para separar o joio do trigo, que o mal se esconde por toda a terra e que ele mesmo não deixará que invada a cidade.
Tremo até os ossos.
Mas logo a palavra é dada ao antigo padre que fala de amor e misericórdia e  se despede da cidade.
Voltamos ao lar da bruxa, ela entra e eu digo que ficarei olhando as estrelas mais um pouco.
Olhando para as estrelas me perco em mim, meu maior medo tão próximo a ponto de tocar meus cabelos.
Eu que queria antes conhecer o amor, talvez não haja tempo...
As lágrimas brotam em minha face, e ouço Banelae que é um espírito feminino cujos lamentos no lado de fora de uma casa prenunciam a morte de um de seus habitantes. 
Entro e vou para meu quarto, e ao passar pelo quarto de minha senhoria ouço seus soluços e percebo que ela também ouviu as lamúrias de Banelae...

Diálogo 41º

Fecho a porta do meu quarto e por receio ou medo coloco uma cadeira para que ninguém possa abri-la durante a noite, algo me diz que devo passar a fazer isso todas as noites.
Os ventos cortam as árvores, e formam os lamúrios desta deusa tão doce e reveladora, aperto entre as mãos meu colar de proteção. 
Acendo uma vela, solto meus cabelos, descalça, tiro toda minha roupa, o vento aumenta lá fora, as súplicas de banelae corta meu coração, continuo, acendo o incensário queimando e purificando o ar do meu pequeno quarto. Abro o cantil com as lágrimas colhidas naquela noite de chuva, sinto frio, mesmo assim me molho um pouco com a água purificada, estou num círculo de sal que fiz para afastar o mal em minha volta, abro os braços e profiro:
Bondosa Deusa
Que és Virgem,Mãe e Anciã
Bendito seja o teu nome,
Ajuda-me a viver em paz
Sobre a terra que é tua,
E dá-me a proteção do teu abraço
Guia-me ao longo do caminho que escolhi,
E revela-me o teu grande amor eterno
Enquanto tento olhar com bondade
Aqueles que não entendem a tua essência,
E leva-me em segurança
Ao teu caldeirão do Renascimento
Pois é o teu espírito que vive em mim,e me protege
Para todo o sempre.
Assim seja.
Que assim se faça...
Paro de ouvir as lamúrias, mas tenho consciência que é provisório, afinal sei que haverá morte neste lar mais cedo ou mais tarde.
Não adianta sair da casa, o lar não é a moradia que a maioria acha que é, o lar não é uma casa e sim o corpo, nossas almas moram em um corpo físico este é nosso lar por uma existência e quando ouvimos as lamúrias desta deusa, significa que alguém que vive naquele ambiente  irá partir de sua moradia...
Se minha hora chegar, que eu não sofra ao desencarne, que eu volte aos seios da grande mãe sendo parte da vida.
Fecho o círculo.
Estou exausta, apago o incensário, visto uma camisola, tranço o cabelo e me deito apertando com força meu colar de proteção, adormeço.

Diálogo 42º

Sou menina em meus sonhos, caminho descalça entre um campo gramado.
Irmãs que brincam de roda e meus irmãos que lutam fingindo ser guardiões do rei, me afasto lentamente e logo estou correndo livre de braços abertos.
Eles não sentem minha falta, subo um monte, tenho que subir cautelosa, escalo a parte rochosa e me esforço para subir depressa.
Sei que logo alguém virá me buscar, quase sem folego chego lá em cima, tenho uma das visões mais linda da minha infância, tenho por volta de 6 ou 7 anos, uso um vestido vermelho e não me separo do meu colar e de uma bolsinha onde carrego pedras.
Não tem valor para quem vê, são apenas pedras que encontro e que julgo preciosas por seu formato ou porque a vejo especiais...
Estou embaixo de uma linda árvore frondosa e vejo mais uma pequenina pedrinha de forma de coração e abaixo para pegar, mas me assusto com galopes de um cavalo que sobe pelo lado menos íngreme.
Sou pequenina então fico praticamente congelada com a pedrinha na mão, e um cavaleiro hábil em sua montaria desce e devagar se aproxima a passos mansos.
Ele tem barba e um cabelo desgrenhado talvez pelo vento, solta o cavalo e se abaixa perto de mim e me pergunta o que faço sozinha ali.
Sorrio pra ele e estendo meu cantil lhe oferecendo água, ele amavelmente aceita e bebe da minha água e me devolvendo o cantil e torna a me perguntar o que faço ali sozinha.
Respondo a ele meio cortado que estou procurando pedras preciosas, ele ri da minha inocência e afaga meu cabelo fazendo um cachinho nas pontas.
Pergunta meu nome e digo que me chamo Alma, cauteloso me pergunta o sobre nome de quem sou filha e digo que não tenho que sou filha da lua, ele ri de mim e eu rio também.
Ele me diz que não devo ficar ali sozinha e devo voltar aos meus que não devo ficar ali sozinha.
E em tom autoritário digo que ele também não, que deve voltar para casa também!
Pego sua mão que afaga meus cabelos e pergunto se posso ler a mão dele.
O cavaleiro acha graça, tira as luvas e abre pra mim a palma de sua mão, olho pra ele e digo que ele é importante, que é um mestre, e que ganhou um filho, mas pergunto a ele porque não tem mãe ali na palma da sua mão?
Ele me olha sério e não me responde, pego a pedrinha em formato de coração e coloco na palma de sua mão e a fecho.
Ele me pergunta o que deve fazer com a pedra, e digo a ele para dar ao filho dele e dizer que é preciosa.
Ele se levanta e me olha ir embora, e sem virar para olha-lo digo gritando " - Não tenha medo dos lobos !"
Desço e logo estou com os meus irmãos.
O sonho é uma lembrança guardada da minha infância, acordo saudosa e sem entender o porque deste sonho...

Diálogo 43°


Me sento na cama e sorrio olhando para as minhas mãos.
A sensação de formigamento na palma da mão me diz que este sonho quer me dizer algo mais, que não é apenas um sonho sem importância.
Me atento relembrando cada detalhe, qualquer coisa, fecho os olhos e me lembro do rosto do templário, sim é isso !
Ele era um templário...
Mas existem tantos por essas terras, rio de mim por achar que se trata ser o pai do Lobo Templário...
Afinal de contas, os templários não constroem famílias.
Sou interrompida dos meus pensamentos com a velha senhora resmungando lá fora, saio apressada para ver o que aconteceu e a vejo gritando e dizendo palavras malditas do lado de fora da casa.
Ela está aos berros com alguns camponeses que dizem que tem certeza que um lobo circulava a casa, sinto que me falta ar nos pulmões e caminho em direção a porta cautelosa temendo o pior, enfim os ouço dizendo que não conseguiram captura-lo.
Me sinto tonta, alívio misturado a todo o terror que me passou no coração e desmaio.
Acordo assustada com a velha me dando algo para cheirar e com um sorriso amarelo me perguntando o que aconteceu.
Respondo que não me senti bem e ela me olha desconfiada, me dá algo para beber diz que é um chá de ervas e diz que vai terminar meu vestido para o baile.
Sua frase me corta com um arrepio na espinha, olho para o chá e decido não toma-lo.
Jogo fora não sei quais ervas ela utilizou e hoje parece estar mais sinistra que sempre.
Vou me banhar e me trocar para ir a venda, em frente ao espelho escovo meus cabelos, faço uma longa trança e saio.
No caminho vejo o rastro que o lobo deixou, e ainda conversa de alguns moradores falando sobre o acontecido, sinto que o lobo não estava só, os lobos não entram em aldeias assim.
Olho as pegadas e abaixo para tocar, era apenas um, um único lobo e mais certeza tenho que é o lobo que me acompanha desde que sai da cabana.
O que ouço uivar sempre no fim dos rituais, mas o que foi fazer ali tão perto de mim?
Amenos que....
Meu coração palpita apressadamente a medida que sinto que o lobo foi guiado, mas ele é um templário não um bruxo, mas meu coração não me engana, sim era você...

Diálogo 44°

O sol é frio hoje, apenas uma grande bola amarela no céu não me passa o calor que normalmente sinto ao amanhecer.
Minha velha mãe sempre me dizia que tudo a nossa volta fala com uma bruxa, preciso me atentar a tudo que me rodeia, o lobo não veio ao meu encontro gratuitamente, não mesmo!
Me apresso até a venda, minha senhoria diz que já entregamos todos os vestidos e apenas termina o meu, e com um sorriso asqueroso me pergunta se bebi todo o chá.
Assento com a cabeça para que meus olhos não me entregue, sei que pode me ler então sou bem sutil em meus movimentos.
Pergunto-a se precisa de mim para algo, ela nega.
Digo que vou colher algumas flores para enfeitar meus cabelos para a noite, ela me dá com a mão assentindo para que eu me vá...
Caminho até a árvore onde costumo realizar meus rituais, sim há pegadas lá também.
Preciso ser cautelosa, pois é dia e algum camponês ou guarda pode passar por ali, mas apenas uma brisa toca meu rosto.
Resolvo que devo seguir mais a frente onde ainda posso ver as pegadas do lobo, mas ele entra na relva fechada.
Detalhes, preciso de todos...
Galhos quebrados, resto de algum coelho morto na noite anterior, continuo a caminhar...
Mais a frente uma caverna, resolvo descer até lá, cautelosa desço até a entrada...
Entro devagar, e lá está ele, negro, enorme, lindo...
Levanta-se assim que percebe minha presença, sem deixar de fita-lo ajoelho-me.
Não tenho medo, o olho nos olhos, e estendo uma das mãos ficamos assim durante intermináveis minutos...
Por fim ele senta-se nas patas traseiras mostrando que não há interesse em me atacar, não sei por quanto tempo ficamos nos contemplando, sim é o mesmo lobo que cruzou meu caminho na minha infância, mas o que terá acontecido aos outros?
Sinto que é um lobo solitário, que está ali por algo mais, a pedido de um humano...
Fecho os olhos, e lhe estendo as duas mãos, ouço seu caminhar em minha direção, ele cheira minha mão esquerda que formigava de manhã, sinto a língua áspera lambendo meus dedos.
Não abro os olhos, ele cheira meu rosto e descansa a cabeça em meu ombro...
Após algum tempo mais abro os olhos e é como um abraço de alguém que está longe, o abraço e acaricio seu pelo áspero, ele se afasta.
Fitando-me os olhos, é mágico, é único!
Contemplo aquele animal poderoso, ele é um canal poderoso de um bruxo, olho para sua áurea que é uma mistura animal e humana.
Há muito tempo enxergo a áurea dos outros seres, a áurea é à parte mais brilhante de algo ou alguma coisa, que vai desde a sua realização.
O seu clímax, realização, ápice ou sentimento absoluto ante à realização o seu eu interior...
E o lobo era um elemento de transmutação para co-habitação simultânea da alma dele com um poderoso bruxo, apenas poucos conseguem tal ato, assim como eu de retirar meu espírito da carne quando fui violentada.
Sorrio para ele, que se deita pousando sua cabeça em meu colo, a qual acaricio com todo meu amor, e não estou mais só de novo neste mundo vil.
As lágrimas correm em meu rosto abundante caindo sobre o pelo negro e brilhante do lobo, e me perco na imensidão do tempo.
E sinto uma onda de calor ao meu redor, como alguma proteção dedicada a mim.
Alguém profere algum encanto para mim, mas não é como o de uma bruxa e sim uma mistura, e o lobo também o sente.
Ele se levanta rápido e nos entreolhando confirmo meus pensamentos.
Você está orando por mim Milord, e o lobo é seu companheiro.
Você não é só um templário, é um bruxo poderoso, como não vi isto antes?

Diálogo 45°


Me levanto, e me despeço do meu amigo lobo, e digo-lhe para ter cuidado com a cidade.
Sei que ele ouviu as lamurias de Banelae do lado de fora da cabana onde vivo hoje, e que avistou toda corja que chegou na cidade, mas peço para ele não ir mais tão perto.
Não adianta eu trocar de morada se este espírito já me visitou, apenas esperar o que há por vir...
Subo novamente e logo estou próxima a árvore onde realizo os rituais, no caminho esqueço de colher as flores para meus cabelos como havia dito a minha senhoria.
Voltando para a venda vejo que a cidade também organiza uma festividade, e as tabernas estão lotadas.
Vou direto para a cabana e preparo o que comer e levo a minha senhoria, que não me deixa ver meu vestido. Enquanto comemos ela me fala sobre a encomenda que devo trazer, me relembra com qual guarda devo pegar e assim que recebe-la devo voltar para entregar-lhe.
Ouço com atenção, mas lhe recordo a memória para o fato que irei com o ferreiro e que ele pode não querer voltar naquele instante.
Mas ela diz que sabe muito bem disso, que haverá um cavalo a minha espera e que devo imediatamente trazer sua encomenda.
Sei que se trata de algo sinistro pois sinto meus ossos tremerem, mas algo me diz também que devo trazer o que me pede.
Deixo os utensílios na cozinha e cautelosa vou em direção do quarto onde ela pratica os rituais, está trancada, preciso saber o que ela está tramando.
Tento destrancar mas em vão, ouço ela chegando e vou direto para meu quarto.
Ela entra resmungando e vai direto para o quarto onde pratica rituais, me apresso para chegar a porta do mesmo junto a ela, que me olha e me pergunta o que faço ali.
Sorrindo inocente pergunto se posso entrar, meio sem jeito de me negar ela se afasta da porta e entro
Me diz que vai preparar uma poção para os guardas que dá mais força e coragem em suas batalhas, e sorrindo de soslaio diz que se trata de um pagamento que ela lhes deve por proteção.
Afinal  Banelae chorou em sua porta a noite passada...
Me pergunta se ouvi estudando minha reação, assento com a cabeça calmamente.
Ambas sabemos que a morte está ali para nos levar.
Muda de tom e me chama a atenção para um lobo desordeiro que rondava a casa.
Se aproximando de mim, e diz que estou fedendo como um.
Meio atrapalhada, peço-lhe desculpas e digo que tinha ido colher as flores e talvez seja o cheiro da mata.
Ela dá com a mão e volta para seu caldeirão.
Me aproximo do espelho mágico e lhe pergunto sobre sua história.
Ela me diz que nele se vê o que se quer ver, se temos algum medo ele focará nisso, se temos alguma esperança ele nos desiludi, e corta suas palavras me fitando.
Por estar distraída com a poção não se atenta que me diz o que quero ouvir, e entendo o que ele fazia na sala quando vi meu amado com aquela bela mulher.
Ela usou comigo para me afastar dele e me ter em suas mãos como uma peça de jogo, para ganhar minha confiança.
Finjo não perceber, olho a minha volta a procura de qualquer coisa e vejo alguns livros, vidros, ervas, mas noto também uma boneca de pano com um vestido vermelho.
Pego uma vassoura para varrer o lugar e me aproximo da boneca, derrubo alguns vidros atrás de mim e ela berra me mandando sair.
Rápida pego a boneca e escondo nas mangas do meu vestido e vou para o meu quarto, tiro das mangas do vestido e a olho.
Não sei quem é, está de venda, como se fosse para cega-la.
Cautelosa, tiro a venda dela, o Boneco de Vodu pode tornar uma pessoa em um Zumbi, sendo escravo do feiticeiro, fazendo todas as vontades ordenadas, sob um controle mental muito forte. 
Dentro são colocadas algumas coisas pessoais da vítima que irá ser afetada pela magia negra, depois é feito um ritual, para ser iniciado o feitiço.
Olho para a boneca e me arrepio, estou diante de uma boneca vodu, tocada por Abadom, Agramom, Asmodeu e Arioch.
Saio de casa com a boneca e vou em direção ao rio, faço uma prece a grande mãe e entre lágrimas com minha adaga energizada abro a boneca e como eu temia dentro dela um cacho do meu cabelo.
Aquela maldita estava me confundindo, segurando meus poderes, por isso ando tão insegura, por isso não vejo além dos olhos humanos, destruo a maldita boneca a jogando no rio para que as águas purifiquem.
Berro com todas as forças diante do rio, fico lá por horas.
Estou só, a cidade é bem distante daqui e depois que o rio leva a maldita boneca, me dispo e me jogo nas águas, livre, liberta, enfim sou eu novamente, solto os cabelos e mergulho, quando noto, a lua já está aparecendo ao céu, magistral, iluminando o lago.
Vou até onde fico com a água pela cintura e levanto os braços para a lua e olho para o alto do monte e lá está o lobo negro, que me olha e uiva para a lua....

Diálogo 46°

Me visto, e caminhando firme volto a cidade.
Várias pessoas transitam apressadas alguns para o baile, outros para a festividade que eles também irão ter, alguns me interpelam perguntando se estou bem.
Sigo em frente determinada e entro na cabana, ela me pergunta por onde andei e apenas respondo por ai...
Entro em meu quarto para me trocar, ela abre a porta e entra também, continuo a me despir e ela me diz que devo me aprontar para o baile, digo a ela que não vou, e ela me diz que tenho uma dívida.
Viro-me de frente e ela me olha nos olhos, me tirando de cima a baixo diz que sou uma bela mulher e que deveria usar mais isso ao meu favor.
Lhe recobro que não sou uma prostituta e lhe olho nos olhos.
Continuo a me vestir, ela diz que eu tenho mais a perder do que a ganhar.
Respondo-a que vou trazer-lhe a encomenda e que não trabalho mais para ela.
Ela ri de mim e sai do quarto, quando volta atira o vestido em cima de mim, e sai novamente.
É vermelho sangue como o da boneca de vodu, o tecido que eu mesma escolhi.
Visto o vestido de ombros nus e mangas longas, o decote revelando o colo alvo, estou diante do espelho, confesso que estou deslumbrante.
Nunca vesti nada assim, mas sei que irei fazer algo que não condiz com quem sou.
Ela entra e interrompe meus pensamentos, anuncia que minha companhia chegou, ele me aguarda.
Termino de escovar os cabelos que caem como um véu negro sobre o vestido.
Vou a sala e vejo o ferreiro, ele tem uma rosa vermelha em suas mãos.
Está vestido como um Lord, a barba bem aparada e os olhos brilhantes quando me vê.
Me estende a rosa e sorrio pra ele, prendo-a em meus cabelos.
Visto a capa negra e monto o cavalo com o ferreiro, enquanto distancio da cabana não tiro os olhos da velha bruxa que ri sombria.
A medida que galopamos o ferreiro me diz que estou bela, o interrompo e peço-lhe para me contar o que ele e a velha discutiam.
Ele segura um pouco mais o cavalo, e me diz que havia pedido algo a ela mas a medida que o tempo passou mudou de ideia.
Somos interrompidos pelos guardas, que nos mandam entrar.
Colocamos as máscaras e entramos no castelo, é lindo...
Fico maravilhada no mesmo instante, nunca imaginei pisar ali.
Todos muito bem vestidos, e com mascaras...
A música encanta-me.
O ferreiro me traz vinho, e sorri pra mim e me diz para nos divertirmos um pouco.
Sou desarmada por aquele clima de festa, todos dançam.
Ele me estende a mão e logo estamos dançando também, tomo mais vinho e logo meu sentido de apreensão desaparece um pouco.
De repente a música para, todos paramos.
Entram então o Duque e a Duquesa, logo fazemos reverência.
Logo após entra a filha deles, ela deve ter minha idade.
Está linda de dourado assim como são seus cabelos, junto com suas damas de companhia, o ferreiro se perde na moça que vi conversar com ele outro dia.
É uma bela mulher, está de esmeralda e seus cabelos são como o fogo.
Ela acena delicadamente com a mão para ele, que mansamente retribui.
A música recomeça, ele me olha e digo para ir dançar com ela.
Ele sorri pra mim e logo se mistura a multidão.
Olho a minha volta procurando o guarda que tem a encomenda que devo levar a maldita bruxa.
Sou interrompida por um homem alto de máscara que me tira para dançar, retribuo aceitando a dança.
Ele sussurra ao meu ouvido que devo ir até lá fora que um dos guardas me espera, aceno com a cabeça e me dirijo para fora.
Quando estou prestes a sair sou interrompida pelo ferreiro e a dama de companhia.
Sorrio educadamente, ele me apresenta a ela dizendo meu nome.
Ela toca meu ombro e me diz que sabe que sou parteira, fico confusa com este comentário num lugar tão impróprio.
Apenas ouço e ela continua a dizer que meus serviços ali seriam bem vindos.
Não entendo, eles podem pedir as religiosas para realizarem os partos quando precisarem, permaneço calada e ela continua.
Me diz que quem faz parto também sabe provocar abortos.
Espantada com o que diz nego com a cabeça e ela faz sinal de positivo, não sei se por conta do vinho ou da forma que ela me interpela fico estática...
Respiro cortadamente e ela se mantém me fitando, olho para o ferreiro que me assente com a cabeça.
Ela sorri pesadamente e me diz pense...
Saio dali enojada de tudo aquilo que ouvi, ele logo vem atrás de mim e me segura pelo ombro.
Me viro e olho em seus olhos e pergunto como ele pode fazer aquilo comigo?
Ele tenta se explicar e me diz que ali estarei salva, que a filha do Duque teve uma aventura enquanto estava fora e precisa se livrar do problema.
Faço ele me largar e falo em um tom mais alto que um filho não é problema!
Alguns guardas nos olham e ele tampa minha boca.
Sussurra ao meu ouvido  que a inquisição vai começar a queimar e afogar as bruxas e que a casa onde vivo será a primeira, que algumas pessoas vão nos denunciar assim que o novo inquisidor proferir a caça!
Fico paralisada e me recordo das lamúrias de Banelae.
Ao lado de fora de um lar significa que seus moradores irão partir, física ou espiritual acabo de saber que irei morrer.
Olho para o ferreiro e digo que preferia morrer queimada do que com minhas mãos tirar a vida de ser inocente.
Entre lágrimas saio de perto dele e sou abraçada por um dos guardas que me entrega um crucifixo cravejado em pedras preciosas e me manda entregar a minha senhoria, pego com força e vou até o cavalo que me espera lá fora, monto e cavalgo para bem longe dali.
Desmonto e caio de joelhos olhando o solo, a corrente em minhas mãos e meu coração em frangalhos...

Diálogo 47°

Ninguém foge da vida que tem, mas temos o poder de nos moldar com todos os presentes bons e ruins que recebemos.
Minha vida não é mais fácil e nem mais triste que as de outras mulheres, nasci num tempo onde somos vistas como secundárias, se não temos um marido para servir e viver por ele e já temos idade para ter sido despojada por algum homem somos pré julgadas sob os olhares dos outros.
No meu caso não tenho pais, nem familiares consanguíneos.
Sou uma estrangeira nesta terra e os mais antigos sabem disso, os que chegaram apouco por conta do crescimento da cidade acham que sou neta da minha senhoria.
Alguns acham que sou cortejada pelo meu amigo ferreiro, não me sinto bem com isso e agora com essa punhalada mesmo bem intencionada me sinto ainda pior, lembro-me das cartas puxadas pela velha e agora entendo a discussão que ele e ela tiveram.
Provavelmente ele deve ter dito a ela o que iria fazer e ela discordou, pois me tendo na casa quando ela fosse acusada de bruxaria poderia me indicar dizendo que eu era a bruxa e o colar que estou em mãos deve ter algum valor e provar que se ela possui então não é bruxa.
Como sei não adianta fugir, o ferreiro já me apresentou a dama de companhia da Duquesinha Muriel.
Nada sei sobre ela, apenas que chegou na cidade e trás no ventre uma criança, não sei se ama a criança ou não, não sei se é fruto de um amor proibido ou de uma aventura inconsequente como tantas que existem.
E como no meu próprio caso e minha mãe de sangue.
Me recordo de minha própria estória, e me lembro que minha mãe bruxa fez tantos partos como o meu.
Mesmo menina ainda me puxando pelo braço e indo atender as mulheres que desejavam por fim na vida que carregava.
E ela sempre tentava convencer a deixar a criança nascer, muitas acabavam ficando com as crianças, outras entregavam em igrejas ou davam mesmo, para inúmeros fins.
Sim eu fui uma dessas crianças rejeitadas, mas agora com a situação em minhas mãos vejo que tive muita sorte.
Fui criada por uma mulher que amava a vida, que via os elementos em tudo,numa folha de árvore, numa lagarta, num animal, no ser humano.
Ajoelhada aqui com o crucifixo em minas mãos, com os joelhos na grama, tocando o solo, sinto a vida em minhas mãos.
Sim, o vento ressoa em meus ouvidos e me concentro para entender o que me diz.
É a voz de minha mãe, sinto o transe, me concentro e deixo meu corpo espiritual falar mais alto, atenciosamente ouço: " Alma aceite o que não pode ser mudado, e o que pode molde "
Sim é isso, sabedoria!
E repito para mim mesma " Eu sou tudo o que sempre quis ser "
Sim eu sou!
Essas palavras foram as primeiras que ouvi quando escolhi meu nome mágico, e não posso abandona-las.
Devo ser tudo que quero ser!
Se não quero tirar vidas não vou, tentarei salvar esta criança a todo custo.
"Moldar o que pode ser moldado, e aceitar o que não pode ser mudado"
Aceito o meu destino de ser escrava da corte, não para me livrar da fogueira, mas por que tenho uma missão.
Me sento e olho a lua, seu brilho reflete nas pedras preciosas do crucifixo.
Sinto o focinho no meu pescoço e a pata pesada me tocando, e meu amigo está ao meu lado, seu pelo quente me aquece.
Olho para ele e está calmo e me transmite paz, ele me olha sereno, e eu fecho os olhos e beijo sua cabeça, o pelo áspero, o cheiro da mata, e me lembro que sou tão animal quanto ele.
Estamos juntos e longe de quem amamos...
Ele deita e pousa a cabeça em meu colo, em meu belo vestido escarlate, eu coloco a touca da capa e ficamos juntos ali naquela grama namorando a lua.
Agora entendo porque sempre o senti me observando, porque ele sempre esteve.
Olho a orelha do lobo e vejo o pequeno talhe, sim ele é o lobinho que vi com sua mãe e os outros filhotes, o mesmo talhe na orelha.
Ele é o lobo das histórias que Hugo me contou que caminha junto ao meu Templário.
Sorrio e me volta o pensamento sobre o sonho da minha infância, será você o filho daquele Templário ao qual dei meu coração e pedi para que entregasse ao seu filho?

Diálogo 48º

Perdida ali na mata não tenho mais noção das horas, meu amigo fiel está com a cabeça em meu colo enquanto o afago.
Meus caminhos são complicados, mas não estou sozinha.
O lobo fecha os olhos ao meu toque, e estamos ali unidos por uma ligação que é além de nós.
Estamos juntos por você Lobo Templário, olho para lua enquanto penso nisso.
Tudo que ouvi sobre o Lobo Templário faz sentido agora, ele cuida de todos que cruzam o seu caminho e fui uma dessas pessoas.
Quando menina eu me olhava no lago e proferia encantamentos puros, aqueles que não são repetidos, fazem parte de nós apenas, são criados e são singulares, juntava folhas como estas que estão a minha volta, fazia um pentagrama riscado na terra, queimava algumas ervas de cheiro e salpicava água e dançando em volta pedia que um príncipe pudesse me amar, rs...
Inúmeras vezes quando era vista fazendo isso meus irmãos acabavam com o meu encantamento dizendo que éramos órfãos e nossa realidade era mais dura, que eu deveria aprender me proteger ao invés de pensar em amor.
As mais velhas já tinham sido abusadas e se tornaram amargas aos 13 anos, os meninos partiam alguns sumiram no mundo, outros mortos.
Mas minha mãe pregava o amor, o viver e o deixar viver, o enxergar além do que vemos e mesmo quando foi chegada minha vez, não me tornei amarga. 
Nem eu nem minha querida irmã que deixei em outra cidade e se casou.
Porém por inúmeros atos violentos que sofreu ela hoje não pode gerar filhos mais vive bem e feliz com seu marido, um cristão, que sabe que foi criada por uma bruxa mais a ama perdidamente.
A vida é muito preciosa, preciso fazer algo por esta criança que está no ventre da Duquesa Muriel.
Chamo o lobo, que prontamente se levanta e me fita. 
Digo a ele que voltarei, mas que ele deve ficar longe da cidade.
Pergunto-lhe se pode guardar um segredo, ele parece confuso e pende a cabeça de lado enquanto estamos cara a cara, sorrio e digo " Eu amo seu amigo templário, ele é meu príncipe encantado ". 
Acho graça com que acabo de fazer, pois peço segredos a um lobo e me deito nas folhas.
Ele se deita ao me lado e me lambe a face.
Levanto-me algum tempo depois e monto o cavalo, despedindo-me do lobo.
Ao voltar a cidade após esta noite estou com o espírito leve, e já não sofro mais. 
O sol dá seu espetáculo no céu nascendo lindamente...
Entro e a velha dorme na sala, ao som do ranger da porta ela levanta-se de rapidamente estendendo a mão e sei que ela quer o crucifixo.

Diálogo 49º

Antes de entrega-la mentalmente tiro a energia do crucifixo " Que este objeto ao qual se encontra com a energia a quem possuía não tenha fim para o mal e nem para beneficio particular que não seja justo, que assim seja que assim se faça "
Estendo a mão e o entrego, ela rapidamente o pega e vidrada como se esperasse por te-los nas mãos e o enamora.
Passa por mim como uma flecha indo para o seu quarto preparar alguma magia, resmungando e caminhando sem se virar para mim e diz que hoje não vai abrir a venda, e ouço a porta bater.
Me deparo com o espelho mágico na sala de novo, mas desta vez não fito meus olhos e vou direto me banhar.
A água toca meu corpo tirando o peso do ontem e renovando minhas esperanças, depois que digo ao lobo em segredo meu amor meu peito está mais leve e me sinto mais corajosa, ele foi o único que me ouviu e não me disse de volta " Ele é um templário e seu amor não é possível ! " 
Rio de mim mesma e vou até meus aposentos vestir algo, sei que devo arrumar minhas coisas, estou exausta e com sono pois perdi a noite, mas logo alguém virá me buscar para ir ao castelo.
Aproveito o tempo que tenho e tiro minha energia vital do quarto, agradeço aos móveis e tudo que usufrui ali.
Noto que tenho mais pertences que antes e não tenho como guardar meu vestido do baile, vou até lá fora para arrumar onde posso coloca-lo e ouço o bater na porta.
Logo atrás de mim a velha vem ver quem é e se espanta por ser guardas que não são do seu convívio, por trás de mim ela pergunta o que querem, visto que já pagou seus impostos.
O mais velho diz que está lá apenas por minha causa e ela se apavora perguntando o que fiz, saio da frente deles e vou guardar o vestido, sem dar satisfações a ela.
Tomo o cuidado de não esquecer de nada, para que não volte a fazer um vodu para mim, ela ainda não sentiu falta do que eu destruí ou então não me perguntou.
Ao retornar a sala com minhas coisas ela me diz que não posso ir, pois a devo.
O guarda pergunta quanto, ela diz um valor alto, ele a paga e me segura pelo braço.
Os outros pegam meus pertences, ela parece abrir a boca para falar algo mais sabiamente volta atrás e recua.
Monto no cavalo que veio comigo mas as rédeas estão na mãos do guarda e seguimos para a corte.
Ao cortar a cidade vejo os olhares para mim como se quisessem adivinhar do que se trata, alguns saem da tavernas com suas bebidas, algumas crianças espantadas, tudo se move lentamente a minha volta.
Deixo agora de ser livre e me torno escrava da Duquesa.
Quando passamos em frente ao ferreiro, vejo Hugo e sua filha eles se aproximam e pergunta para onde estão me levando, os guardas não lhe dão satisfações e seguem, mas a menina grita e pede para pelo menos deixar ela me dar um presente, o velho guarda para e olha ela tirar uma rosa vermelha da cesta que carrega e estender a mão.
Ele acena com a cabeça e eu a recebo, ela diz que ia levar para mim.
Que é a primeira que nasceu no novo canteiro que fiz na fazenda, sorrio para ela e essa rosa que nasce significa que minha estória ainda está nessas terras.
Seguimos adiante, e quando olho para trás vejo o meu amigo ferreiro que tira seu gorro e segura entre as mãos.
O que está feito, está feito.
Como previu Banelae eu acabo de morrer, pois não sou mais livre.
Os portões se abre e adentramos jardim a frente, vários serviçais estão em seu cotidiano dia de trabalho e rumamos para os fundos.
Sou recebida pela dama de companhia enamorada de meu amigo ferreiro, ela dá um sorriso largo ao me receber, eu retribuo apenas com um olhar cerrado e uma expressão séria.

Diálogo 50º

Não estou feliz em estar ali, apenas aceito meu destino.
Ninguém é feliz sendo escravo ou submisso a algo imposto, e no momento é isso que acontece comigo, mas os anos que carrego de bruxaria me fizeram ver a vida de uma forma diferente.
Se você se revolta e não aceita sua vida você acaba se frustrando, e isso leva a uma tristeza profunda e passamos a sobreviver ao invés de viver propriamente.
Sei domar esse lado escuro da alma que todo ser humano tem, claro não sou tão sábia assim e me desespero, resmungo e praguejo como qualquer ser humano.
Afinal, a imperfeição é a marca que carregamos e nossos instintos falhos gritam mais alto que nossa consciência, mas fato é que tenho a alma leve e trabalhada, me equilibro com os elementais e modifico meu foco de visão.
Apesar de no momento estar sendo entregue como uma escrava me sinto privilegiada em ser escolhida pela Deusa mãe para salvar essa criança, e labuto o coração para que esse prazer chegue até ele.
Entramos afinal no castelo, no baile não passamos por ali, estamos numa espécie de uma grande cozinha, com várias pessoas dedicadas a preparar os alimentos, pois eles servem também aos soldados e os que trabalham lá.
A comida da corte é separada não é aqui, há uma grande quantidade de mulheres lavando toda roupa, passamos por escadas que dão acesso a outros cômodos pequenos e ela manda eu entrar em um deles, é basicamente um quadrado com uma cama, e uma pequena mobília onde ela me manda guardar minhas coisas, e diz que serei feliz lá e tudo depende de mim, não dou muito ouvidos a Strª dama de companhia e guardo meus pertences.
Noto que há uma janela e subo na cama para ter a visão exata onde estou, bem para sair pela janela eu consigo passar o problema é a altura, há muitos metros daqui até o chão.
Daqui vejo uma parte da imensidão que é esse jardim, muito bem cuidado, várias pessoas trabalhando, trajadas de formas parecidas acho que para serem melhor distinguidas.
Estou cansada, são mais ou menos 10:00 da manhã mas o sono é muito, deito-me enquanto ela não volta para um pequeno cochilo e adormeço quase instantaneamente.
Sonho com o passado novamente, não sou mais tão moça devo ter por volta de 13 anos vendendo rosas na cidade para os casais enamorados, para alguns nem vendia eu dava mesmo. 
A sensação gostosa de observar o amor dos outros me inundava o peito, pensava quando poderia ter um amor para mim, mas como diziam meus irmãos mais velhos " Você é muito feia ! ", sim eu não era bonita como eles, sempre fui pequena e muito pálida de olhos e cabelos que se opunham a toda aquela brancura, são negros como uma noite sem lua e estrelas, eles na maioria eram donos de cabelos dourados e pele quente e olhos grandes e radiantes.
Não conheci meus pais, apenas sei que era fruto de um amor proibido.
Caminho pela cidade com minhas rosas mas revivendo meu sonho, vejo ao longe uma fumaça vou até lá.
É longe subo e desço as oscilações do caminho, a lua paira diante minha cabeça, grande linda e iluminada.
É um coven, mulheres dançam em volta da fogueira.
Minha mãe era uma bruxa solitária, mas já tinha me explicado sobre os rituais em grupo, elas dançavam lindamente em volta da fogueira com os seios ao luar, eu fiquei paralisada.
Uma delas tocava um tambor ritmando a dança, outra uma flauta, a sensação é leve e deliciosa, uma delas me estende a mão e levanto-me e vou até elas.
A mais velha me rodopia e solta minha trança, e fala em meu ouvido.
- Liberte-se borboleta, levanto os braços e ela tira minha blusa e danço com elas.
Jogo as pétalas de rosas do cesto em nós e caímos em volta da fogueira.
Foi a primeira vez que bebi algo tão alcoólico, elas me disseram que esquentaria o corpo.
Uma delas puxa minha mão com força me forçando a jogar o corpo para frente, profere algumas palavras e me pede permissão para ler minhas mãos.
Mostra-me todas as linhas e fico querendo que ela chegue logo na  linha do amor.
Quase não dou importância mais elas revelam que serei escrava, rio dizendo que jamais serei escrava, que me mato antes e elas prosseguem a leitura...

Diálogo 51º

A outra toma minha mão e diz que serei sozinha, resmungo dizendo que tenho vários irmãos e irmãs que vivem comigo e minha mãe.
Ela passa o dedo nas linhas e me diz com a voz macia: " Menina aqui diz que você é sozinha, sempre foi e será sozinha, não há família em suas linhas, bem tem uma coisa que não posso te revelar, não é madura para ouvir... "
A corto e digo que não sou realmente filha da minha mãe, e meus irmãos também não, e na verdade não me encaixo muito entre eles e sei que partirão, mas ser sozinha não me dói, gosto da solidão.
Uma terceira corta e me fala de saúde, terras novas, aventuras e eleva o ânimo, mas é cortada por outra a senhora, a mais velha do grupo.
" Assim menina me dê a mão, falarei o que realmente quer saber... "
Meu coração vem a boca e acho que ela pode ler meus pensamentos, quero saber se algum dia encontrarei um príncipe encantado, ela afaga a palma da minha mão e cheira delicadamente me fita nos olhos e diz:
" Seu amor não será um príncipe, mas também não será um simples, ele é visto aos olhos da Deusa mãe.
Mas também pertence a um Deus supremo, as pedras sabem muito.
E a ele você já deu seu coração, suas almas foram entrelaçadas antes de tocarem este mundo, e você já o encontrou, ainda não olhou em seus olhos, mas a grande mãe vai lhe permitir um breve encontro o quanto antes, pois ela boa e ama a felicidade de suas filhas.
Infelizmente você não o reconhecerá prontamente mas se lembrará de minhas palavras, ele carrega a pedra de formato de coração, pois a sua inocência encantou a pedra transfigurando o amor puro que carrega em fonte de luz e força, e nela que ele se apóia todos os dias desde que a recebeu.
Sim menina, você amará e será amada mesmo que o tempo não seja seu aliado e a vida seja difícil o amor de vocês prevalecerão "
Acordo assustada e já está escuro, vejo água fresca ao meu lado e estou suando como num pesadelo, meu sonho revelador foi tão real e tocável que é difícil acreditar que eu estava dormindo.
Bebo a água e olho para a palma da minha mão que formiga, junto os dois sonhos para achar a conexão entre eles...
Será que já encontrei minha alma metade? 
Aquele que é maior que o amor mortal, amor forjado na alma.
Faço um levantamento dos que passaram em minha vida excluindo as possibilidades...
E meu primeiro pensamento é o templário, fonte sempre do meu coração, mas ele partiu, conheceu outra mulher, está em outras terras, nem sei se pensa em mim...
Não me lembro de te-lo visto com minha pedra, pelo menos nãos em suas mãos, volto meus pensamentos no dia da cabana quando dormi em seus braços, quando se despiu da armadura e usava apenas roupas comuns, mas lembro-me do cuidado que teve com suas coisas como se tivesse algo precioso...
Volto a me lembrar de sua linda face, meu sangue gela quando me lembro dos seus olhos.
Ela disse que me perderia em seus olhos e sim foi o único que me olhou e senti como se me lesse profundamente, não era um príncipe, mas  não era um simples, servia a um Deus, mas se ele consegue tocar o lobo, ele é um bruxo!
Céus é ele, o filho do templário que entreguei a pedra de coração a quem dei quando menina, os sonhos fazem sentido, ele me observa pelos olhos do lobo, por isso o lobo me segue o tempo todo...
Tremo ao pensar se ele sabe quem sou, se ele também pode saber com a revelação da grande mãe quem sou...
Estamos longe um do outro, e saber que ele é o homem que tem meu coração é assustador pois não sei o que ele acha.
O carinho então que ele demonstrou por mim não é apenas fraterno, é como o meu.
Rio para minhas mãos como se estivesse ali minhas respostas o tempo todo...
Caio de joelhos e com lágrimas nos olhos agradeço pela revelação, não morrerei sem ter amado, não morrerei sem ter sido amada.
Os olhos não mentem eles nunca mentem, e estou no dele assim como ele está nos meus...
Preciso ver o lobo negro, preciso ir na floresta, preciso olhar profundamente em seus olhos...

Diálogo 52°

Sou interrompida por uma jovem senhora que chega aos meus aposentos, ela estende a mão e me entrega comida, aceito e ela se vai.
Estou faminta, me lembro que não me alimentei hoje e a comida está saborosa.
Ao terminar resolvo procurar a cozinha por onde passei mais cedo, mas o lugar é cheio de entradas e saídas não sei nem se consigo voltar aos meus aposentos.
Estou perdida naquele imenso labirinto, caminho e não passo por uma viva alma, o lugar está iluminado por velas e tochas...
Depois de algum tempo perdida ouço vozes e caminho com intenção de me encontrar naquela imensidão, mas ouço a palavra " Inquisição " e estremeço.
Me acuo num canto para ouvir melhor, é o novo padre ele está com um inquisidor da santa igreja e dizem em tom de sussurro  coisas que não consigo compreender prontamente, apenas algumas frases " mortes de inocentes podem acontecer, precisamos convencer a corte, será feito testes, será justo, livrar a alma dos puros dos impuros, toda doença vem dos maus "
Deixo a louça da minha mão cair e fazer barulho, abaixo e pego rapidamente e sigo em direção oposta, bato de frente com a dama de companhia que me pergunta o que faço fora dos meus aposentos, estendo as mãos e lhe entrego a louça, logo uma serviçal aparece e leva o prato e o cálice que usei.
Ela me repreende em andar por ai como uma sombra, e me segurando pelo braço, me leva de volta aos meus aposentos.
Logo em seguida aparece uma outra serviçal, ela trás nas mãos algumas roupas.
A dama atira em cima de mim, e num tom de menosprezo se vira e manda eu me trocar.
Diz que não devo ter uma aparência repulsiva na frente Milady Muriel.
Ela me fita esperando que me troque em sua frente, obediente começo a me trocar...
Evito que ela veja uma marca de nascença que trago nas costas, minha mãe sempre me mandou ter cuidado em quem pode ver, e quem não, pois pode ser visto de forma errônea e em tempos de inquisição eminente me preocupo em esconder.
As roupas são desconfortáveis e nem de longe servem em mim direito, tenho estatura pequena e ela arrasta no chão e ficam desconformes nos ombros mas ela diz que vai servir por hoje.
Ela mesma prende meu cabelo, me puxa várias escadas a cima e me manda ficar do lado de fora de um grande portal.
Fico ali por um tempo me sentindo totalmente desconfortável, logo me manda entrar.
A Duquesinha tem por volta da minha idade, tem cabelos no dourado cor de ouro, são longos e emolduram um belo rosto se não fosse o olhar aflito e uma palidez de quem não dorme a dias.
As portas são fechadas estamos apenas nós três, permaneço parada a um metro de distância, e a dama começa a falar : " É ela, o ferreiro quem me falou "
Ela chega até mim e segura minhas mãos olhando em meus olhos, as mãos longas e frias, o verde de seu olhar pálido, a boca tremendo, ela está com medo e todo pavor eu sinto em apenas seu toque.
Peço para a dama nos deixar a sós e ela me diz que isso é impossível, como a Duquesa não diz nada, aceito e prossigo.
Pergunto se ela sabe de quanto tempo está, ela diz com a voz triste e embargada que não sabe ao certo mas três regras não vieram.
Peço para ela se despir, pois preciso vê-la, com todas aquelas camadas de roupas não vejo sinal de gravides.
A dama de companhia ajuda nessa tarefa, ela me pergunta se irei resolver o problema agora mesmo e digo que não.
Ela com o olhar me fuzila mas ignoro-a, e me volto a pobre duquesa e pergunto se ela está bem.
Ela assente com a cabeça e os olhos com lágrimas, está apenas com as roupas de baixo, o espartilho comprimindo seu corpo deixando-a sem a silhueta de uma gestante, ajudo-a a soltar, aproveito para em seu ouvido perguntar se ela sente algo pela criança e quase que imperceptível percebo seu aceno em positivo, o alívio que me cai sobre os ombros é descomunal.
Examino seu ventre que começa a se formar, as curvas delineando o corpo, os quadris alargando, os seios volumosos e pesados além de sensíveis.
Pergunto se ela sente o ventre tremer e ela diz que sim.
Confirmo que ela deve estar entre 3 a 4 meses de gestação, digo-lhe que tirar a criança do seu ventre é muito arriscado devido ao tempo, que ela deveria deixa-lo nascer.
A dama de companhia se intromete me destratando e me xingando, mas logo a duquesa a interrompe e ela se cala.
" Não posso deixar essa criança vir ao mundo me entende, seria um alvoroço, o pai dele é um guarda, não tem linhagem, é fruto de um amor impossível "
Peço para ela se vestir e não usar nada tão apertado, que se ela quiser eu posso ajuda-la a ter a criança em paz.
Não sei como farei isso mas preciso acalma-la, seu sorriso é quase uma súplica e o desespero em seus olhos agora se tornam esperança.
Sou levada de volta aos meus aposentos pela dama de companhia que se aproveita para me recriminar.
Me xinga e diz que devo fazer o que me foi mandado, que ela sabe que sou uma bruxa, que pode me denunciar e eu inaugurarei a inquisição nestas terras,.
A fito nos olhos sem temer seus desafios, entendo que toda a situação é criada por ela.
Digo a verdade que a gravidez da Duquesa já está avançada que ela pode ter complicações, mas ela me interrompe e diz que antes a morte que um bastardo, vira-se e vai embora...
Sento-me e olho a vela acesa ao meu lado, me troco e fico brincando com o dedo pela chama pensando em que posso fazer para ajuda-la...
E penso no templário, imagino quais provações ele está passando no momento...

Diálogo 53°

Fixo o olhar na vela deixando me levar pelo seu calor...
Sinto tanta saudade do dia na cabana que as lágrimas me vêem aos olhos, queria que estivesse aqui comigo, na verdade queria estar em minha casa com você.
Queria me perder em seus olhos, tocar sua face, dormir em seus braços...
Seus braços foram os dos poucos lugares onde me senti tão protegida, neles eu sabia que nenhum mal poderia me tocar.
Não minto que a primeira vez que te vi tive medo, você é um templário e eu uma bruxa, mas agora entendo que você é o menino ao qual dei meu coração, estamos ligados desde muitas vidas.
Nesse pudemos nos ver nos olhos um do outro, mesmo que por um breve instante.
Mas a grande Mãe ama suas filhas e sabem do desejo de meu coração.
Sou aquela quem lhe deu todo meu amor ainda na pureza da infância e você é o meu amor verdadeiro.
Sei que estamos separados por milhares de léguas, por uma vida de caminhos diferentes mas não desista de mim, por favor não desista de mim pois não desistirei de você até o dia em que meus olhos se fecharem.
Eu te amo.
E mesmo que em nesta vida não pudermos ser um do outro, te procurarei em todas as próximas pois eu te dei meu coração e você o recebeu...
Ah grande mãe, permita que essa humilde serva possa ter a sua benção de ver o homem que amo tanto ainda nesta encarnação, preciso desesperadamente dizer que o amo....
As lágrimas de saudade banham minha face, e entre soluços me deito.
E quando meu coração se acalma durmo e sonho com você, sonho com o dia que nos encontramos no meu jardim de rosas, seus olhos possuem o fogo, água, terra e ar... 
Jamais conheci alguém que tivesse os quatro elementos....
O sonho é tão real que me sinto abraçada por você novamente, quando lhe contei minha história dolorida sobre meus pais, e como os cobradores de impostos e cavaleiros agem quando encontram quem não pode arcar com as dívidas.
Da vontade que senti de ter seu corpo sobre o meu, do jeito que você tinha de colocar meu cabelo atrás da orelha...
Acordo com o sol inundando o quarto, quando abro os olhos não é minha cabana que vejo e sim esta cela fria e sem vida.
Me troco, e sentada na cama penteio meus cabelos e prendo-os, nem eles podem mais ficarem soltos.
Logo a dama de companhia me solicita e estou pronta, ela diz que para ninguém perceber o que realmente vou fazer lá a Duquesinha acha por melhor me apresentar aos pais como uma segunda dama de companhia para ela.
Que as tarefas mais trabalhosas ficarão para mim pois só uma não está dando conta para tudo que ela necessita.
Não digo nada, e ela me leva para outro cômodo, ele é amplo e fica ao lado do quarto da Duquesinha, é mobiliado e claro, com cortinas e sedas.
Ela me aponta uma cama e diz que dividirei o quarto com ela, manda eu guardar minhas coisas pessoais num baú e diz que não precisarei usa-las visto que não usarei aqueles trapos.
Me manda colocar um vestido de serviçal, não é como o dela me destaca bem o papel de escrava.
Já pronta sou apresentada ao Duque e a Duquesa, não abro a boca e a Duquesinha diz da necessidade da minha presença e a dama de companhia fala sobre a indicação do ferreiro que vejo ser muito bem quisto por lá, visto que eles fornecem quase tudo que a guarda usa.
Não fazem oposição, e aqui estou eu andando pelos jardins do palácio tomando o sol da manhã com elas, não falamos nada, caminhamos para algum lugar onde não tem muito movimento e ela me manda forrar o chão.

Diálogo 54º

Os dias são longos e exaustivos, ser escravo é doloroso... 
A maioria deles são solitários e repetitivos, não posso sair nem realizar meus rituais.
Seus pensamentos não são para você e sim voltado no bem que você deve proporcionar a quem de direito.
E no meu caso Milady Muriel, que ao meu ver não passa de uma pobre alma dominada como eu.
As cobranças a ela é muito grande, o peso em seus ombros difíceis de suportar.
Estamos numa época onde as mulheres são secundárias, objetos por assim dizer, a realidade é um fato hostil.
Sim ela é da realeza e eu uma pobre plebeia, me comparar a ela não seria justo, pois ela tem mais fardos do que eu.
Ao observa-la aqui no jardim enquanto providencio um lugar para que ela se sente para ler, noto a melancolia em seus olhos.
Ela não tem um amigo se quer, apenas esta dama de companhia mesquinha que fica ao seu lado o tempo todo introduzindo como ela deva agir e pensar.
Não consegui até o momento saber como ela engravidou, mas por meio de suas palavras cuidadosamente colocadas, entendi que foi por amor que se entregou ao homem que é o pai desta criança.
O espartilho bem preso, mantém as curvas do seu corpo. Mas sabemos que a criança está em formação e precisa de espaço se não ela se deformará.
Sinto que ela não sabe o que fazer, mas não podemos nos falar.
Trocamos apenas olhares...
A dama de companhia se apressa para abrir o livro numa página demarcada e começa a leitura.
Me sento ao chão, e me perco olhando ao longe a guarda que repete como quase uma dança coreografada o treinamento de alguns guardas.
Estou tão entretida que não ouço quando a Duquesa se dirige a mim me perguntando se sei usar a espada.
Ela repete e então me viro a ela e digo que não, não como se deve ser, brincava com meus irmãos que sempre me acertavam com as espadas de madeira nas pernas e nos braços.
Mas afirmo a ela que depois de tantas pancadas aprendi a me defender bem, ela sorri e me diz que é excelente com a esgrima.
Me viro e a ouço contar animada suas aventuras, em contraste a dama de companhia fecha a cara com toda exaltação da pobre Muriel.
Não nos atentamos em sua cara de reprovação e passamos a ignora-la a tal ponto que ela se levanta e diz que vai chamar alguém para servir algo para ela beber.
A Duquesa faz que sim com a cabeça e não a olha, quando ela se afasta um pouco no mesmo tom da conversa para que a dama de companhia não note alteração em sua conversa comigo ela me diz a frase que eu esperava ouvir:
- Eu amo esse ser inocente que carrego...
Respiro cautelosa para não demonstrar reação no que acabo de ouvir, e ela completa a conversa sobre suas aventuras com a esgrima, logo a dama de companhia se senta ao nosso lado e ela pede para que ela continue a leitura das poesias.

Diálogo 55º

A leitura de belas poesias se seguem, ouvi-la é algo bonito.
Minha leitura ainda é muito pouca, mas me orgulho mesmo assim...
Me perco ali ouvindo-a e pensando em como tirar a Duquesinha dali para ela poder ter seu filho...
Me lembro de minha meia irmã que ficou na outra cidade e seu marido, será que vendo que não retornei a cidade ela foi a minha cabana na floresta?
Vendo a destruição de tudo, será que me procurou?
Meu coração se aperta ao pensar nisso...
Talvez ela encontrou algum dos mal feitores indo me procurar e algo possa ter lhe acontecido... 
Evito pensar nisso, é algo insuportável, ela foi muito sofrida.
Seu marido um católico fervoroso nunca deixaria a esposa andar na mata sozinha, mas as bruxas andam no silêncio das sombras...
Ela quando se apaixonou pelo lenhador seu marido, abandonou toda sua vida wiccana e se tornou uma católica aceitando o batismo deles e tudo mais
Ele nunca soube sobre o passado dela, quanto homens haviam lhe causado mal.
Sabia apenas que era filha adotiva de uma parteira curandeira assim como eu.
E a amou no primeiro instante que a viu cerzindo seus tecidos, ele é um bom homem...
Me lembrando dele lembro do tamanho de sua fé e penso que talvez ele possa vir até aqui para ver a construção da igreja, visto que os vilarejos a volta só possuem capelas e essa é a primeira construção oficial por estas terras.
Será que ele viria com minha irmã?
Distraída apenas sinto o toque em meus ombros me chamando para dentro do castelo.
Subimos aos aposentos da duquesa e lhe preparo o banho, ela tira o espartilho apertado e noto que seu corpo já está mudando cada vez mais por conta da gravidez.
Ela não pode continuar a esmagar a criança, pois pode perde-la ou forçar uma má formação.
Não terei muito tempo...
Ela pede a dama de companhia que avise para lhe servirem o almoço no quarto, pois está indisposta.
Relutante ela sai nos deixando a sós...
Enquanto lhe esfrego as costas ela me segura o braço e me puxa para si, os olhos verdes penetrando profundamente nos meus. 
O medo e a agonia estampado em seus olhos tristes...



Diálogo 56º

Ela me aperta o pulso e num sussurro para que não possam nos ouvir, me pergunta com a voz tremula...
- Já amou alguém?
Meio receosa, mas compadecendo de seu desespero que é visível, calmamente lhe respondo para que saiba que sou tão humana quanto ela.
- Sim!
Com os olhos mais relaxados, ela me solta o braço se deitando na banheira continua a me interrogar querendo saber onde ele está.
Afinal se não estou com ele é porque também não pudemos viver a nossa história. Em meio aos meus pensamentos até eu mesma me questiono, será que algum dia poderemos?
Volto-me a senhorinha e digo-lhe que quem amo está em uma cruzada a caminho de Jerusalém, ela se interessa e volta a se sentar e me olha cobrando o resto da história.
Com o sorriso doce completo o raciocínio e lhe pergunto se conhece a ordem dos templários...
Ela me olha meio pasmada como quem se questiona como posso eu amar um templário.
Afinal não é comum, visto que apenas os mais preparados iam à terra santa e não os novatos da ordem, para ter partido com certeza era um homem que seguia as leis divinas e não alguém que ainda não tinha certeza do que queria e escorregaria em amores carnais a uma jovem pobre e simples como eu.
Ela quer saber de quem se trata e digo que todos os conhecem por Lobo Templário.

Ela fica notavelmente espantada, assim como Hugo ela conhece as histórias que cercam este nome, e quase incrédula diz que é praticamente impossível eu conhecê-lo.
- Ele é praticamente uma lenda Alma, é um guerreiro jovem e mais preparado que muitos na ordem, pois dizem por ai que ele é meio lobo meio homem e que vive apenas para Deus.
Sorrio e digo a ela que é a ele quem amo e espero sua reação que ao contrário de todos não me recrimina.
Apenas sorri de volta e diz que nós mulheres entregamos nosso coração e por ele vivemos.

Somos logo interrompidas pela dama de companhia que toma o meu lugar e ajuda a duquesa a se banhar.
Me afasto um pouco para lhe preparar as vestes e ouço quando a dama de companhia diz que o novo inquisidor acha que temos bruxas na cidade.
Fala isso pausadamente se deliciando com cada palavra que sai de sua boca.
Sem me olhar diretamente, diz que um barco foi abençoado para pesca e voltou sem nada e desconfiam de algumas mulheres dos pescadores sejam bruxas, visto que algumas foram contra seus maridos saírem para pescar.

Penso em comentar, mas me calo, estamos na época de desova e os peixes correm acima para procriarem.
Todas que tiramos algo da natureza sabemos que ela se renova que devemos respeitar a grande mãe.

A sensação é estranha, sinto medo por todas aquelas inocentes mulheres...


Diálogo 57º


Ajudo a Duquesinha a se vestir, ela se senta em seu leito e come pouco.
Está enjoada e com sono, uma reação normal do corpo para o primeiro filho.
Logo pega no sono...
Saímos do quarto as duas, estou com as roupas para levar para lavar, e a dama de companhia ao meu lado, Falando. E sorrindo para com quem cruzamos afim de não notarem o que ela me diz.
- Quando é que vai tirar aquilo dela?
A pergunta é agressiva e sem rodeios, contemplo seus olhos frios e ameaçadores.
Respondo baixo num tom apaziguador, dizendo que ela quer ter a criança.
Ela por sua vez faz sinal de negativo com a cabeça e nos distanciamos, segue em direção à parte real caminhando a passos firmes e determinados e eu a classe trabalhadora, entrego a roupa a uma das lavadeiras e volto ao jardim.

O guarda que tinha ido à casa da velha senhora e que me entregou o crucifixo me para e pede para eu acompanha-lo sem alarde.
Obedeço e o acompanho, logo estamos distantes dos olhos de todos e me diz que a velha bruxa está só e a inquisição vai fazer uma varredura na cidade a fim de acharem todas as feiticeiras.
O interrompo dizendo que não tenho nada a ver com isso!
Em tom ameaçador, me diz que se por acaso souberem que ele ia lá visita-la pode ser morto, que não devo falar nada, completa a frase nervoso e vejo que está amedrontado e gaguejando me diz que ele também não falará nada que eu vivia com a bruxa e era sua pupila.

Exaltada digo que aquela afirmação é ridícula que ela jamais seria minha mentora, ela é uma mulher gananciosa e egoísta.
Ele me interrompe e diz que quer apenas meu silêncio, e nada mais.
Confirmo que não falarei nada, se de vez em quando ele me deixe sair.
Não gosto de coagir ninguém, mas vou precisar disso para ir a floresta ver o lobo ou talvez conseguir sair com a duquesinha.
É arriscado mais é uma chance que tenho, ele é um guarda medroso com assuntos dos obscuros, mais é influente visto que ele quem determina quem entra e quem sai pelos portões, deve conhecer todas as passagens.
Digo a ele que preciso ir a mata colher algumas ervas a noite, ele me olha com ressalva e apenas diz que me ajuda a sair, e que devo procurar na lavanderia uma senhora cega e lhe dizer que o chefe dos portões me mandou falar com ela, vira-se e sai diante de mim.

Diálogo 58º

O dia passa tranquilo e sem alardes, se é que se pode dizer assim...
Pois os murmurinhos sobre a acusação de bruxaria chega aqui como um raio, ouço dizer que três mulheres foram acusadas e estão presas.
Não vi trazerem ninguém para cá, mas aqui é grande e poderiam estar em qualquer lugar... Podem estar na igreja também não sei, tento não fazer parte daquilo ato praticamente inevitável não sentir compaixão por elas, algumas podem até realmente conhecer a arte, mas outras são apenas católicas que conhecem o tempo da pesca e não queria que seu marido se aventurasse por águas que não trariam nada.

Volto aos aposentos da duquesinha que está desperta e olha pela janela sentada em sua cadeira, a dama de companhia não está.
Cautelosa pergunto se posso entrar e ela diz que sim, e faz sinal para eu me sentar.
Digo-lhe que a dama de companhia quer saber quando vou fazer o aborto, ela me olha com cara de dor e me responde.

- Você sabe que dia é hoje?
Não entendo a pergunta e faço gesto com a cabeça em sinal de negativo e ela continua.
- hoje é o dia que decidi que meu filho irá nascer, mesmo que eu morra...
 Respondo-a: Que assim seja, que assim se faça.
Sorrio para ela e ficamos ali uma admirando a outra, ela sabe que por isso também posso ser morta e não me importo em morrer, pois todos deveriam ter um amor que dure pelo menos até o fim de uma vida, e eu tenho.

Você deve defender uma causa que julgue nobre, mesmo que ela não vire uma história, que depois que todos que souberam o que você fez morram também e não repassem o nosso ato heroico.
Que pode ser o mais banal visto por outros olhos, mas o ato mais importante que você decidiu defender...

A noite chega e digo a ela que vou à mata, preciso colher algumas ervas frescas para lhe preparar alguns chás para ela contra enjoo.
Ela diz que devo sair pela parte de trás para que não me ouçam.
Saio e vou procurar à senhora cega, ela me espera no fim das escadas com uma capa negra, sem nada lhe dizer estendo a mão e lhe toco, ela me entrega e não me fala nada mesmo quando a cumprimento.
Apenas se vira e sai como seus olhos ali ainda estivessem ali para guia-la.

Vou até os portões e ele está de guarda só, diz que devo voltar antes do amanhecer que é quando a guarda troca.
Aceno que sim e me distancio montada num belo animal de porte real mata adentro.

Além de colher as ervas celebrarei Samhaim que marca tanto o fim quanto o início de um novo ano celta.
Nessa noite, o véu entre o nosso mundo e o mundo dos mortos se torna mais tênue.

No cavalo carrego tudo que preciso em uma mochila.
Vou para debaixo de uma árvore onde já pratico os rituais.
O acesso é difícil então ainda estou segura, pode ser o ultimo que celebrarei mas preciso dele.

Espero que o lobo apareça, preciso saber como está e que ele saiba como estou, para que minha sintonia com o lobo chegue até meu amado templário.
Meu coração se aperta ao pensar nele, quase não sinto sua energia vital, sei que não está morto mas pode estar gravemente ferido...
Em disparada sigo pela mata, o som das árvores e dos animais me dão a sensação de liberdade que tanto amo.



Diálogo 59º

Enquanto entro mata cavalgando me sinto livre, meus olhos se enchem de lágrimas numa dor dilacerante que não sei bem o porque.
Invade meu peito me corta e dilacera o coração, como bruxa devo dar atenção a tudo que me toca e chega a mim como um sussurro.
É como se algo doloroso e cruel estivera acontecendo mas não sei o que, talvez seja a caça as bruxas, talvez algo ainda por vir, ou ainda talvez com o meu amado.
Meus pensamentos logo quase gritam pelo lobo negro na floresta.
Assim que encontro meu lugar de celebração desmonto do cavalo e o prendo por uma corda numa árvore.
Retiro rápido todos os pertences para o ritual e coloco a trouxa atrás de um arbusto e sigo a procura do lobo apreensiva.
Assovio afim de chama-lo mas não o encontro em parte alguma, o coração se enche de temor e desespero...

Após alguns metros caminhando e chamando-o ouço seu uivo, levanto os olhos e o avisto imperial, vistoso e deslumbrante...
O vento cortando seu pelo e ele altivo uivando para a lua, mas seu uivo não é de submissão a deusa e sim um uivo triste e cortante.
Sei que ele se sente como eu, há algo de errado acontecendo ou ainda por vir, aperto meu amuleto e meus olhos se enchem de lágrimas novamente...

O lobo me avista e desce o monte cortando a mata para vir ao meu encontro, ajoelho a sua espera.
Ele chega bruto desesperado como se estivesse preocupado comigo, me lambe o rosto e me cheira.
Tento acalma-lo o abraçando dizendo que está tudo bem mas sua agitação é a minha agitação, e ambos sabemos que não está tudo bem.
Como filhos da grande mãe, sentimos que algo que nos envolve está errado.



Diálogo 60º

Calma lobo, calma...
Com a voz mais doce que posso fazer embargada no choro preso a garganta, profiro pedindo que ele se acalme, grunhindo inquieto ele me olha nos olhos e afunda o focinho em meus cabelos...
Acaricio seu pelo, afim de trocarmos nossas cargas positivas acalmando um ao outro.
Ficamos ali a um bom tempo, só o largo quando nos sentimos bem.
Ele lambe meu rosto agora com um ar mais divertido e calmo e digo a ele...

- É meu amigos, eu e você estamos bem... E o nosso senhor como será que está, heim?
Ele grunhe baixinho e sei que está pensando o mesmo que eu, não temos notícias nenhuma sobre chegada de alguma cruzada na terra santa, nada ainda chegou aos portões do castelo. Não sei se na cidade já é chegada alguma informação, mas acho difícil pois tudo chega primeiro ao reino depois aos plebeus...
Tento me concentrar em que vou praticar hoje, pois é de suma importância para mim.

Sorrio para o lobo e digo que hoje é dia de celebrar Samhain, então se alguém partiu lobo poderemos fazer contato com ele...
Lobo se agita como quem não gostou da conversa, mas sorrio e digo: - Acalme-se, não sinto a energia do templário como antes, mas ele não partiu meu amigo...
Samhain é o momento em que os espíritos dos seres amados e dos amigos já falecidos devem ser honrados.
É uma época em que os mortos retornam para passear entre os vivos. 

A noite de Samhain é o momento ideal para fazer contato e receber mensagens do mundo dos espíritos.
E então aqui estamos nós dois, para humildemente falar com a grande mãe e celebrar os mortos...
Bem vou precisar de sua ajuda meu amigo pois farei algo não permitido, acenderei ao pôr do sol,  uma grande fogueiras no cume do morro em honra aos antigos deuses e deusas, e para guiar as almas dos mortos aos seus parentes.
Sabe o que eu trouxe comigo lobo?
Minha bola de cristal e minhas runas,devemos fazer pelo menos um jogo.
Assim como ficar diante de um espelho e fazer um pedido secreto.
Enquanto vou falando com o lobo, vou organizando tudo que preciso.

Saco o espelhinho da trouxa e lobo me olha receoso, rio alto e despreocupada para ele....
É bom não estar sozinha e ter alguém para dividir meus pensamentos, alegrias, temores e tristezas, e o lobo é tudo que tenho nesta vida.



Diálogo 61º

- Ei amigo esse é o covén mais estranho já visto não é mesmo lobo?
- Pois é, não adianta olhar desse jeito não.
Respiro fundo e me levanto, vou até o lago e me banho, lobo fica me observando do lado de fora...
A água fria me faz ficar arrepiada, mergulho e olho para o céu embaixo da água cristalina.
É uma sensação mágica olhar para a lua por baixo da água, repito o processo por várias vezes limpando minha mente e alma.
Quando me sinto satisfeita

Encho o cantil de água e coloco o sal que trouxe.
Jogo em meu corpo para retirar todas as impurezas e cargas negativas, levanto os braços para saudar a grande mãe...
Coloco minha saia negra para o ritual permanecendo com os seios nus para a celebração.
O colar de contas que eu mesma fiz e uma coroa de folhas de carvalho na cabeça.
Me viro para lobo e pergunto como estou, ele abaixa a cabeça e coloca a pata a frente do focinho...
Digo a ele que vou interpretar aquilo como um elogio e rio pra ele.
Vou até a arvore e  traçando um círculo de 3m de diâmetro, uso uma vara virgem para marcar a terra.
Coloco 13 velas pretas e cor de laranja em torno do círculo e à medida que acendo cada uma digo:

- VELA SAMHAIN DO FOGO TÃO BRILHANTE CONSAGRE ESTE CÍRCULO DE LUZ.
- VELA SAMHAIN DO FOGO TÃO BRILHANTE CONSAGRE ESTE CÍRCULO DE LUZ.
- VELA SAMHAIN DO FOGO TÃO BRILHANTE CONSAGRE ESTE CÍRCULO DE LUZ...
Lobo me fita, com as orelhas em pé e atencioso observando cada movimento meu...
Minha alma está leve e a noite mágica, sinto a magia em minha volta,
Folhas que balançam com o vendo,
O sussurrar dos animais, a poesia que toda bruxa deve ouvir e sentir...

 
Diálogo 62º
No centro do círculo ergo um pequeno altar feito com pedra e madeira voltado para o norte.
No centro coloco três velas (uma branca, uma vermelha e uma preta) para representar, cada fase.
Uma fase da Deusa Tripla.
Á esquerda (oeste) das velas, um cálice com vinho e um prato contendo sal.
A direita (leste) das velas, coloco um incensório com incenso de ervas e uma pequena tigela com água. 

Diante das velas (sul), coloquei um sino de altar e meu punhal consagrado e uma maçã vermelha. 
Faço soar três vezes o sino do altar e lobo de alguma forma entende que o ritual começa, Respeitosamente e dentro do circulo comigo se faz digno de estar ali, e se senta ao meu lado enquanto profiro SOB O NOME SAGRADO DA DEUSA E SOB A SUA PROTEÇÃO, INICIA-SE AGORA ESTE RITUAL DO SABBAT !

Saupi
co um pouco de sal e água em cada ponto da circunferência em torno do círculo para limpar o espaço de qualquer negatividade ou influência maligna. 
Peg
o meu punhal com a mão direita e digo
OUÇAM BEM, ELEMENTOS, AR, FOGO, ÁGUA E TERRA !
 PELO SINO E PELA LÂMINA EU VOS CONVOCO NESTA SAGRADA NOITE DE ALEGRIA.

Mergulh
o a lâmina do punhal no cálice e digo
EU TE OFEREÇO, OH, DEUSA, ESTE NÉCTAR DA ESTAÇÃO.

Colo
co o punhal de volta no altar, acendo o incenso e as três velas do altar e profiro
TRÊS VELAS EU ACENDO EM TUA HONRA, OH, DEUSA: BRANCA PARA A VIRGEM, VERMELHA PARA A MÃE, PRETA PARA A ANCIÃ... 
OH, DEUSA DE TODAS AS COISAS SELVAGENS E LIVRES olho para lobo que me encara atento...
- A TI ERGO ESTE TEMPLO SAGRADO EM PERFEITA CONFIANÇA.

Peg
o o cálice com ambas as mãos e deramo algumas gotas do vinho sobre a maçã, digo
AO VENTRE DA DEUSA MÃE RETORNA AGORA O DEUS, ATÉ O DIA EM QUE NOVAMENTE RENASCERÁ. 
A GRANDE RODA SOLAR GIRA MAIS UMA VEZ. O CICLO DAS ESTAÇÕES NÃO TERMINA NUNCA...
 ABENÇOADAS SEJAM AS ALMAS DAQUELES QUE VIAJARAM ALÉM PARA O MUNDO ESCURO DOS MORTOS
 !
 EU DERRAMO ESTE NÉCTAR EM HONRA à SUA MEMÓRIA.
..
 QUE A DEUSA OS ABENÇOE COM LUZ, BELEZA E ALEGRIA. ABENÇOADOS SEJAM! ABENÇOADOS ESTEJAM!

Beb
o o restante do vinho e, então, coloco o cálice no seu lugar no altar. Faça soar o sino três vezes, desfaço o círculo apagando as velas de cores laranja e preta.
Começo
 do leste e movendo em direção levógira. 
Pego
 a maçã do altar e peço para lobo cavar, ele me obedece no mesmo instante e então enterro do lado de fora para nutrir as almas dos que morreram no último ano.



Diálogo 63º

Me sento na grama ao lado do altar aonde ainda queima a vela branca, olho para o lobo e digo que agora é hora da partilha, tiro da bolsa pão e lhe dou de comer, ele cheira e come.
Realmente somos o covén mais estranho por essas terras...
Como o milho enquanto forro a grama com meu lenço e coloco minha bola de cristal em cima, pergunto ao lobo se ele quer ver alguém na visão da bola de cristal, ele levanta as orelhas e grune baixinho lamurioso.
Lobo o que veremos agora será uma fagulha muito rápida, devemos apenas saber se ele está bem sem desequilibrar seu intimo e não devemos deseja-lo aqui, pois ele não poderá vir e se sentirá angustiado.
Não devemos nem ao menos fazer troca alguma, pois a saudade dele por nós pode vir atrapalhar o seu caminho.
Preparado?
Então tudo bem....


"EU TE INVOCO, OH ASARIEL, ARCANJO DE NETUNO E GOVERNANTE DOS PODERES DA CLARIVIDÊNCIA. EU TE PEÇO QUE ABRAS O MEU TERCEIRO OLHO E QUE ME MOSTRES A LUZ OCULTA. PERMITA-ME VER O FUTURO.
PERMITA-ME VER O PASSADO. PERMITA-ME PERCEBER OS DIVINOS REINOS DO DESCONHECIDO.
PERMITA-ME COMPREENDER A SABEDORIA DO SAGRADO UNIVERSO.
ASSIM SEJA..."

Olho fixamente para minha bola e vejo as nuvens se formarem:

"-  Oh grande mãe permita-me enxergar o meu amado.

Os seus dias para que meu coração se aquiete.
Não desejo toca-lo.
Que seu corpo e mente se fixe no seu presente.
Apenas me mostre seus últimos dias para que eu possa também me fixar ao meu presente "


Nuvens vermelhas se formam e elas significam obstáculos e agitações.
Vejo seu rosto cansado quase irreconhecível, um mar de areias numa caminhada sem fim.
A visão se fecha tornando abrir manchas escuras que são sinais de grandes problemas.
Ele cai nas areias junto com seu cavalo seu rosto como de um morto vivo.
Meus olhos se enchem de lágrimas e lobo uiva sentindo a dor da mesma visão.
Respiro e toco a bola novamente rogando por seu presente.
Nuvens amarelas se formam sinais de dúvidas esclarecidas o vejo recuperado colocando uma ultima pedra em sinal de despedida ao seu amado cavalo.
Lobo uiva intensamente ao meu lado sentindo a dor da perda de seu amigo, sei que viveram muitas histórias juntos.
Fecho meus olhos esperando seu uivo dolorido e cortante cessar.
Só então dou continuidade à visão da bola de cristal e nela agora vejo estrelas que simbolizam os sonhos impossíveis.
Vejo seu rosto altivo e seus olhos penetrantes como se pudesse me ver, ele está bem e sereno e é impossível segurar minha força vital e não lhe transmitir saudades.
Lobo também se agita e se chega mais para perto da bola de cristal.

Digo a lobo que para ele neste momento, somos sonhos impossíveis...
Ao voltar para a bola de cristal vejo pássaros e o rosto de uma bela mulher com suas adagas. Os pássaros são as surpresas que um breve futuro pode revelar...

Diálogo 64º

" Grande mãe estou grata pelas visões tão nítidas que me permitiu nesta noite.
Meu coração agora bate tranquilo em saber que quem amo está vivo e bem. "
Coloco a bola de cristal ao lado da vela no altar que ainda queima.
Pego as runas, lobo cheira minha mão e lhe digo que não é de comer.
Rindo abro a mão e lhe mostrando digo que o deus Odin, após o auto sacrifício na árvore sagrada de Igdrasil, recebeu a iluminação por intermédio de 24 letras da sabedoria.
Depois ele distribuiu esse conhecimento entre três deuses: Freyr, o senhor da prosperidade; Hagal, o conselheiro sábio; Tyr, o jovem guerreiro.
Odin também criou sua própria runa: a vigésima quinta, que é branca e sem símbolo algum.
Pego a runa branca e mostro ao lobo e continuo a falar que elas foram ofertadas aos homens, como forma de comunicação espiritual, assumindo funções ritualísticas além da escrita de poemas e sagas.
É um alfabeto para nobres sacerdotisas e essas aqui meu amigo eu recebi de minha mãe bruxa.
Pergunto mentalmente sobre meu hoje e tudo que nele há...
A runa de THORN é a cabeça nela o espinho significa a capacidade de modificar o destino, dirigindo-o da melhor maneira possível, sabendo que uma porta é o que separa o mal do bem.
Devo ver a situação como ela é, sem fantasia...
Essa runa lobo, a pego e lhe mostro diz que algumas pessoas que podem estar querendo aproveitar-se da minha ingenuidade, ocultando alguma verdade.
Devo evitar precipitações, ser mais prudente e ter cuidado com a intensidade.
- Gigante fortíssimo porém torpe devo avaliar antes de mudar de rumo, com calma, esperar, ficar atenta.
É
 certo o DESENCADEAMENTO REPENTINO DE ACONTECIMENTOS COM IMEDIATAS CONSEQUÊNCIAS...
Bem nada mais bem apropriado não é amigo?
E você será que tem alguma loba de olho em você?
Rio e olho a vela que está terminando de queimar
...
É hora da fogueira lobo, junto o máximo de gravetos que encontro para queimar pelos que já partiram, os coloco envolta de uma arvore seca e morta.
Guardo meus pertences e puxo meu cavalo para bem próximo da fogueira que irei acender
 , troco minhas vestes e coloco meu sobretudo e proclamo com os braços abertos para a lua formosa no céu...
"Nesta noite de Samhain assinalo sua passagem, oh rei sol, oh rainha lua, através do nascente ruma à TERRA da Juventude.
Assinalo também a passagem de todos os que já partiram.
E dos que irão posteriormente.
Ó Graciosa Deusa, eterna Mãe, que dá à Luz aos caído,
 Ensina-me a saber que nos momentos de maior escuridão surge a mais intensa luz.
Que assim seja..."
Acendo a fogueira, que começa a queimar intensa...
Mas ouço alguém a se aproximar, lobo fica eriçado e em posição de ataque...



Diálogo 65º

Tento ser rápida, acabo de pegar todos meus pertences.
Sei que a fogueira chamou atenção, monto rapidamente meu cavalo e disparo em direção contrária, lobo me dá cobertura atrasando seja quem for .
Chego rapidamente aos portões e entro sem alarde, o guarda está de cara fechada e me diz que eu deveria ter chegado a uma hora atrás.
Dou de ombros e o encaro, ele disfarça o medo e pega o cavalo.
Me esgueirando vou para dentro do castelo até meus aposentos e me troco rapidamente. Escondo as roupas fazendo um corte dentro do colchão e o virando ao contrário, se alguém chegou a ver algo não posso deixar rastro para que me acusem de bruxaria.

Me deito, tenho algumas horas de sono e preciso descansar...
Me viro de um lado para o outro mais o sono não vem, penso em como deve ter sido dolorido meu amado perder seu cavalo e ter passado pelas provações que passou e ainda passará.
Nas sombras da clareira vi a jovem do espelho que era apaixonada por ele, vi seu cavalo, vi alguns da cidade onde vendia minhas rosas, todos que se foram.
Me sinto mal por ter sentido ciúmes dela.
Morte e vida caminham juntas, estamos entrelaçados a todo tempo...

Meu amado será que ainda te verei nesta vida?
Me enrolo nos lençóis pensando no seu abraço, acho que daria tudo que tenho só para mais uma vez dormir em seus braços e me afogar em seus lábios...
Desperto com a dama de companhia me sacudindo e me levanto atordoada.
Aos berros ela manda eu ir rapidamente até os aposentos da Duquesinha.
Me apresso e mal me troco e arrumo o cabelo, já estou lá em cima e vejo a menina que está enjoada e põe tudo que está e não está em seu estômago para fora.
A dama de companhia resmunga que tenho de tirar a criança pois logo alguém perceberá.
Não olho para ela...

Mando ela preparar um banho para milady, enquanto desço e preparo uns chás para lhe acalmar o estômago.
Uma velha senhora me pergunta o que preparo e lhe digo que é um chá para mim, percebo que ela conhece as folhas mas nada diz se afasta me deixando em paz.
Levo para a duquesa que já está recomposta.

Ela bebe reclamando do sabor forte, digo que ela precisa tomar um sol para que não fique abatida.
A pobre menina reclama e diz que não quer sair e volta a dormir... 





Diálogo 66º

Fico desconfortável com o olhar da dama de companhia sobre mim, pois ela quer dar fim a criança.
Ela é uma pessoa má e ambiciosa,é  alguém com um passado perturbador.
Mas acredito que as pessoas mudam e podem se tornar boas, pergunto-a como vai o ferreiro no intuito de tirar os pensamentos dela dali.

É quando me abre um belo sorriso e me diz que acha que ele tem intenção de despoja-la, vejo a real felicidade em seus olhos ela me puxa pelo braço e me leva para caminhar lá fora e me conta um pouco de sua história...
Ela me diz que é filha do Duque com uma lavadeira e quando sua mãe morreu ela tinha míseros 10 anos e o Duque sabe mas sua esposa não, bem talvez saiba mas nunca tocou no assunto diretamente com ela, e foi criada ali como uma subalterna qualquer.
Ela me diz que por anos a fio sempre teve muita raiva deles mas nunca de sua meia irmã que sempre a tratou com muito carinho e por isso se preocupa tanto com ela.
Não gostaria de vê-la sofrer é o que me diz com os lábios, não sei se posso confiar inteiramente nela mas preciso dela no momento para realizar o que planejo.
Sorrio para ela e digo que tenho um plano mas ela precisará confiar em mim e ser corajosa, ela assente com a cabeça e vou lhe contando o que tenho em mente...

Quando voltamos ao interior do castelo há uma comoção enorme no salão principal, nos abaixamos e nos escondemos atrás de algumas decorações e nos colocamos a ouvir.
Ficamos espantadas com a palavra forca e decapitação, será em praça pública hoje mesmo, dali saem alguns guardas e o sacerdote, nos esgueiramos afim de descobrir quem foi capturado e porque e ouvimos.
 " Claro que haverá Milord um julgamento justo, se elas não afundarem são bruxas "

Um arrepio por toda minha espinha gela meu sangue e embrulha meu estômago, o pavor tomando conta de mim como uma lança afiada em meu peito.
A dama de companhia me puxa pelo pulso do meu estado de congelamento e logo subimos as escadas para o quarto da Duquesinha que dorme profundamente.

- Meu Deus bruxas aqui isso é apavorante, dizem que ela enfeitiça as pessoas e suas almas percorrem os campos.
- Elas devem ser queimadas ou decapitadas para que não voltem do portões do inferno...

Ouvindo a expressão dela meu coração congela, é claro que como seu pai ela teve uma formação católica e jamais deve saber que sou uma bruxa.
Com o barulho provocado a filha do Duque acorda assustada e sua meia irmã se senta ao seu lado lhe contando sobre o alvoroço provocado pelo o que ouvimos lá embaixo.


Só ouço quando falam meu nome e sou trazida dos meus devaneios de forma abrupta...
- Alma vamos assistir o julgamento !?
 



Diálogo 67º

Apavorada não me mexo, enfim a santa igreja chegou trazendo o julgamento aos filhos da Deusa...

- Vamos Alma ? Nunca vi nada França quando estudei lá, nos conventos não nos deixávamos assistir...

Meu corpo não me responde, estou estática, muda, apavorada e olho para as duas a Duquesinha animada e a Dama de companhia com uma expressão de medo pelas assombrações...

Bebo a água tentando me acalmar, mas quando um guarda entra no quarto deixo o copo cair das minhas mãos molhando todo o chão.

- Seu pai quer lhe ver... " Ele sai abrupto da mesma forma que entrou "

Ela e sua meia irmã saem me deixando sozinha no luxuoso quarto, olho para fora além do horizonte imaginando se eles poderiam me acusar de bruxaria, se alguém conseguiu me ver ontem ou algo parecido, quando elas voltam  me dizem que vão se aprontar para o julgamento que será na masmorra, e sua execução em praça pública.

Estou ao lado da família real assistindo ao doloroso julgamento, algumas pobres mulheres acusadas de bruxaria apenas por impedirem seus maridos de saírem para a pesca por se tratarem das desovas dos peixes.
Uma outra é meretriz e foi acusada por seduzir alguns religiosos que faziam parte da santa igreja inclusive o acusador. 

Uma outra me chama a atenção pelo colar que traz em seu colo, é uma pedra da lua, sim aquela é uma irmã de tradição.
As outras são só pobres mulheres acusadas injustamente, minha irmã na arte não grita apenas mantém a cabeça baixa parece em transe...

Uma a uma são arrastadas afim de serem julgadas, algumas são despidas e perfuradas em qualquer parte do corpo que possuam pintas ou manchas, outras são mergulhadas em tunéis com água.
Todo tipo de atrocidade era possível e inimaginável ali.
A maioria não tinha ideia do que estava sendo acusada, mas eles queriam arrancar qualquer tipo de confissão.
Aquelas eram as primeiras vítimas de muitas que irão vir, e o Duque queria ter certeza que o julgamento seria justo.
Não ficamos lá por muito tempo e logo ele disse que os porões poderiam ser utilizados pela igreja pois estava convencido que tudo aquilo era necessário para a paz do seu condado.

Saio tonta daquele clima tenso e triste, sei que elas ainda sofrerão por horas até amanhã, onde após a missa algumas serão executadas em praça pública.
 



Diálogo 68°

Estou enjoada, chocada e muito triste...
Não temo a morte, não é isso o que me abate.
Amo minha Deusa mãe assim como eles amam seu Deus, então porque não devo adora-la, porque não posso viver em paz?

O Deus deles é cruel querendo ser o único a reinar entre nós? É isso?
Vejo que até os bons temem a esse Deus que profere infernos e modificam suas vidas para não pararem nestes lugares ruins...
Outros pecam contra seu Deus e como forma de espiar seus pecados, mentem dizendo que foram levados a tomar tais atitudes. pois foram seduzidos por pessoas que falavam a língua dos demônios.
Assim como a pobre prostituta que se deitava com quem lhe pagasse algumas moedas e fora acusada por seduzir o inquisidor e outros religiosos, eles não julgam ninguém simplesmente condenam...

Na volta para o castelo ouço falarem da fogueira que fiz, o inquisidor e o Duque falam do vulto na floresta.
Ouço em partes pois as duas falam comigo algo que apenas concordo com a cabeça tentando me fixar melhor na conversa logo atrás de mim.
Mas ás palavras que entendo é apenas fogueira de sacrifício, e um lobo que atacou os cavalos e os guardas.
- O animal deve ter sido endemoniado pela bruxa que ele protegia. Diz um dos dois.

Logo estamos nos castelo e vou me deitar após servir um chá contra os enjoos da Duquesinha e me despedir de sua meia irmã, que agora com o terço na mão reza com medo das assombrações das almas vingativas das mulheres que serão mortas logo após a missa.
Ao me deitar peço perdão a grande mãe por não poder fazer nada por aquelas que agora sofrem a noite toda torturas inimagináveis...




Diálogo 69°

Não consegui dormir a noite toda, fico pensando se lobo está bem.
Sei que ele sabe se cuidar, espero que não me procure está muito arriscado por enquanto...

O sol abre frio e mais triste hoje, logo me apronto e subo para ajudar a Duquesinha com o desjejum e o vestido que a cada dia parece mais justo, preciso tira-la daqui.
Sua mãe já chamou atenção dela por suas formas e que deseja casa-la antes que perca suas formas de moça jovem.
Ela já tem 19 anos e só não casou antes pois se dedicava os estudos.
Na verdade, foi uma desculpa para não se casar com o noivo prometido a ela, mas agora está grávida e não sei nem de quem.

Preciso tira-la daqui por um tempo, preciso pensar, mas com a inquisição ao meu lado estou apavorada...
Estamos na missa, assisto junto a eles.
Uma eufórica massa de pessoas se formam na praça, podemos ouvi-los.

Aqui com todas as palavras que Deus possa perdoar a almas destas bruxas é finalizada a missa.
Caminhamos para o lugar da realeza para acompanhar o julgamento um a um pelo inquisidor. Olho a minha volta e enxergo Hugo e sua família, a pequena Heleonora acena para mim, continuo o procurar por rostos familiares.

Minha ex senhoria está ao lado de um guarda, parece mais velha e mais sombria.
Mas é quando avisto minha meia irmã e seu marido que meu coração paralisa, ela está aqui na cidade, não sei por quanto tempo e nem porque mais preciso falar com ela...

Peço a Duquesinha para poder beber água, e ela acena com a mão que posso ir.
O julgamento começa com uma senhora sendo arrastada pelos braços, está com um capuz sobre a cabeça.
Todos ouvem fixamente o julgamento, o primeiro de tantos por ali, passo pelos guardas que me olham desconfiados, mas a Duquesinha acena que posso continuar e eles me deixam passar.
Sei que me observam, mas logo eles também ficam pelas palavras de acusação contra a pobre mulher na praça, a cidade berra ensandecida...
Passo entre todos, rapidamente para alcançar minha irmã, mas o ferreiro me segura pelo braço interrompendo meu encontro...
- Onde vai Alma, porque não está com a realeza? 
Fria, respondo dizendo que estava a procura dele que a dama de companhia está apaixonada por ele, e sugiro que ele vá até lá e acene para ela.
Ele muda a expressão e diz que na verdade gostaria que eu aceitasse a corte dele.
Está mudado e não me parece de confiança.

O reprimo e digo que meu coração continua o mesmo, que meu amor está além das águas, além das areias, além da vida, além da morte...
 
Diálogo 70º

Ele solta meu braço mas ainda me impede de continuar meu caminho se colocando a minha frente...

- Você sabe que ele nunca será seu, não sabe?

Antes de responde-lo sorrio de canto de boca, meu olhar endurece e firme no que vou dizer a ele dou um passo a frente e o encaro nos olhos...

- Sou uma alma livre, assim como a dele também é jamais serei dele, ele jamais será meu e é por isso que o amo, e sei que só o tive perto de mim uma fração de minha vida, mas sei que me ama e é meu assim como sou dele em espírito, você não tem ideia do que é isso que eu digo conhece apenas o amor carnal.
Sou mais que isso se pode me entender, tive a oportunidade de conhecer o enlace de minha alma, meu complemento, meu eu e isso nada nem ninguém pode tirar de mim.
E como decido viver, isso a mim pertence e não a ninguém mais...


Me esquivo e vou onde posso avistar minha meia irmã, ouço ainda as injúrias do ferreiro dizendo que meu amado deve estar nos braços de outra ou morto...

Ele é um homem belo, um guerreiro forte e viril, qualquer mulher adoraria pertencer a ele
, mas sou eu que tenho o seu coração, é ele quem tem o meu.
Não temo a isso, sou aquela que canta a singularidade do meu ser e sei o que canto. 


Minha irmã me avista e vem ao meu encontro, nos abraçamos demoradamente.
Seu marido ao seu lado.
Estou em prantos e feliz com este encontro mas sei que devo ser rápida e me apreço em falar com ela, conto rápido que sou serva agora no castelo e de lá não posso sair.
Enquanto falo ela me toca para ver se estou bem, diz que temeu por minha morte pois foi até meu bosque e tudo que viu foi desolação, minha cabana destruída minhas rosas mortas...

Diz que no ritual que proferiu escondida, não viu minha alma partir então resolveu me procurar.
Seu marido muito religioso quis pagar sua promessa e ouviu que uma igreja tinha sido inaugurada aqui na grande cidade, e veio em peregrinação mas ela o fazia ir em cada cidade para descansarem e ver se me encontrava.
Diz que não imaginava em me encontrar aqui, ainda mais por conta da inquisição e me pergunta o que houve na cabana...

Digo que fui vítima de saqueadores, fui violentada em corpo mas não em alma, a grande mãe foi boa demais me dando a inconsciência.
Quando sai de meu corpo e fui guardada por ela, mas ao voltar para meu corpo físico estava magoada e ferida...

Pergunto onde eles estão aqui na cidade e ela diz que acolhidos junto com outros peregrinos pela igreja.
Diz que só buscou a Deusa pois sabia que só assim me encontraria, mas que não pratica mais a arte...


Começa a grande inquisição, e a primeira mulher é decepada na nossa frente, logo arrastam mais uma...
Me apresso a dizer que preciso voltar, pois podem sentir minha falta.
Digo que preciso falar com ela para me aguardar na igreja a noite.
Ela diz que sim e nos abraçamos, meu cunhado sorri pra mim e me despeço dele.
Volto correndo para perto da realeza e esbarro na velha bruxa que me puxa para o canto e diz:


- Menina burra, vamos todas ter o mesmo destino deveria ter ficado comigo, Banelae ainda canta suas lamúrias em minha porta...
- Nosso destino está selado menina!
Suas palavras me lembram do que ainda está por vir !
 
 




Diálogo 71º

- Uma de nós é o desejo dela, ouço todas as noites seu choroso cantar minha senhoria.
Mesmo não estando na mesma casa estamos seladas a mesma história, a diferença é que não temo meu destino...

Outra mulher é morta na frente de toda a cidade após dizer que não é uma bruxa.
É condenada a provar, e é despida em suas costas uma mancha.
E o inquisidor afirma ser a marca do próprio demônio.


Logo arrastam a prostituta que parece apavorada e grita até perder o fôlego.


Viro as costa e a deixo escondida no beco, ela me puxa e quase como uma súplica me diz...

- Ninguém é tão mal que não possa fazer algo bom e nem tão bom que não possa fazer algo mal.
Sem entender porque ela me diz aquilo paro e a encaro, ela continua...
Quase como um sussurro diz que tem notícia do Lobo Templário.
Meu coração dispara quero e não quero saber, pois não tenho ideia do quanto isso vai me custar e com o rosto duro ela lendo meus pensamentos me diz:


- Você trouxe o colar que te pedi, e o que sei não tem valia para mim.
Aprendi algo com a sua essência, algo que levarei comigo quando eu estiver ali em cima e por isso quero lhe dar algo em troca.
Uma coisa que você vai gostar de saber...

Ela estuda meus movimentos, tento parecer indiferente mas percebo sua intenção e permaneço ali para ouvi-la.

- Você sabe que faço encantamento em troca de recompensas, proteção e ouro e conheço a muitos guerreiros.
- Não vou me demorar com explicações, o grupo liderado pelo Lobo Templário chegou ao seu destino, o que sei é que ele perdeu o seu cavalo mas ele está vivo nada mais.

Achei que gostaria de saber disso...
Ela apenas me confirmou o que vi na fogueira, nada me trouxe de novo.
Mesmo assim me sinto bem em saber que ele respira mesmo longe muitas léguas de mim.

Ela virou as costas e seguiu seu caminho, também segui o meu e voltando para perto da realeza ouço os berros da meretriz ao ser enforcada...
 

Diálogo 72º

Volto para perto da realeza, que assistem compenetrados as atrocidades.
A Duquesinha sentiu-se mal e voltou ao castelo.
A Duquesa, senhora sua mãe me olha fria por não estar ali quando sua filha precisou...

Engulo a seco seu olhar gélido, ela diz que precisa falar comigo mais não agora.
Faço as condolências e olho para a ultima vítima de hoje...

É uma irmã de tradição, ela respira fundo está sendo interrogada diante de todos, acusações de bruxaria é feita a ela.
Enquanto é agredida ela levanta o olhar para onde estamos.

Seu olhar é triste e uma lágrima corre por seu rosto, a Duquesa manda venda-la...

Não posso mais olhar aquilo, me viro peço para me retirar dizendo que voltarei ao castelo para ver o que posso fazer pela menina.
Faço condolência a eles e vou em direção a um dos guardas que cuidam da segurança.
Peço que ele me leve ao castelo mais o chefe da guarda se oferece em lugar dele.

Monto e ao nos afastarmos ele se vira pra mim e diz que a velha será acusada de bruxaria, diz que o inquisidor fará uma onda de acusações para poder relatar o quão competente ele é...

Mas minha ex senhoria sabe que será morta, ela mesma viu...

Sinto os passos da inquisição bem próximo.

A matança desenfreada começa, muitos serão aniquilados de forma que fique mais fácil manipular o povo simples.

Tenho medo, mas não posso me abater.

É chegada a hora de pegar as rédeas da minha vida e abrir novos caminhos, os gritos da inquisição já começaram...


E são os gritos que irão ecoar por longos anos de histórias... 

Diálogo 73º

Vou aos aposentos de Lady Muriel encontro a dama de companhia ajudando-a a se trocar a barriga já aparenta estar arredondando a cada dia.

Ajudo-a a repousar e lhe sirvo água, ela pede que lhe sirva o almoço nos seus aposentos.
Ao me preparar para ir até a cozinha ela pede que eu fique e a dama de companhia providencie tudo.
Com a situação a dama de companhia, me olha não gostando mas se retira indo até a cozinha pedir para prepararem algo.

Rapidamente a menina se senta na cama e me diz, olha senti o meu bebe mexendo.
Sorrio pra ela e para a vida que se forma.
Digo a ela que precisamos pensar em algo para que ela passe os meses restantes longe do castelo para que possa dar a luz em segurança, sinto que está apreensiva e me pergunta:

- E depois?

Com pesar lhe respondo...

- Milady não sei, a senhora não poderá cria-lo de forma alguma talvez o pai da criança possa ficar com ele...

Ela me diz que o filho que carrega é do seu grande amor, um dos guardas que foram designados para cuidar da sua segurança enquanto voltava para cá da França onde fora estudar.
Eles armavam encontros escondidos floresta a dentro enquanto peregrinavam o caminho de volta ao castelo.
Que uma serviçal vestia-se com suas roupas e ela com as dela para que pudesse sair com ele.

Pergunto-a se ela não teme pela serviçal contar quem é o seu amado em troca de alguma fortuna.

Calmamente ela me diz que a serviçal está cega e sem língua pois ela tivera todo cuidado quanto a isso.

Uma onda de arrepio invade meu corpo, mas eram assim que os poderosos mantinham seus segredos a salvo de qualquer traição.

Na mesma hora me recordo da mulher que me cedeu o capuz para que eu pudesse sair do castelo na noite de Sabah, era cega e apenas me entregou as vestes sem nada me falar.
 
Diálogo 74º

Peço para que se deite e eu possa sentir a criança, o bebe se move ainda levemente provocando pequenos espasmos, a criança está bem e saudável.

Ela continua a me contar as loucuras de amor que fez por ele, senta-se e pega em minhas mãos olhando dentro dos meus olhos diz que sente que pode confiar em mim e me conta o nome de seu amado.

Ao mesmo passo a dama de companhia que é sua meia irmã adentra o quarto, sei que ela ouviu.

- Milady seu almoço...

A Duquesinha a fita apreensiva sem saber o quanto ela pode ter ouvido, ainda mais por saber que várias vezes fora aconselhada a tirar a criança.

A atitude dela foi retirar-se do quarto o que julguei estranho nos deixando novamente sozinhas.

- Será que ela nos ouviu?
- Certamente Milady, certamente....

Saio do quarto e vou procura-la, mas a encontro indo direto aos aposentos da Duquesa.
Não tenho como intervi-la apenas observo entrar nos aposentos da Duquesa apressadamente.

Passado exatos 15 minutos ela sai de lá radiante, não nota que eu a observo de longe e parte para seus aposentos.

Ouço meu nome sendo clamada pela dama de companhia da Duquesa, uma senhora de meia idade ainda muito bonita.
Me diz que a Duquesa me aguarda em seus aposentos.

Gelada sigo até lá, sabendo o que está por vir...
Diálogo 75º
Entro logo após a dama de companhia da Duquesa, olhos nos chão o tempo todo.

Ouço sua voz precisa e marcante....

- Sei que minha filha única está grávida de um bastardo, a mandei para os melhores colégios para que um dia pudesse se casar aumentando nossa riqueza, já nasceu mulher deveria no mínimo ter pensando nisto antes de fazer tal burrada, vamos me diga de quanto tempo ela está?

Respondo que de quatro luas, sendo muito arriscado provocar um aborto, ela me olha analisando e conclui seus pensamentos.
Me diz que vai casa-la com o filho do conde Berenguer somando assim suas riquezas, mas que ele não pode saber que ela está grávida.

A reflito que não há como ela se casar sem que ele veja seu estado, e sugiro que ela permita a menina dar a luz longe dos olhos de todos e assim regresse para que possa se casar.

A Duquesa anda pelo quarto de um lado para o outro refletindo meu pedido e por fim consente, mas diz que quer que a criança seja morta ao nascer.

Com o rosto endurecido digo a ela que suas ordens serão seguidas fielmente...

Saio de lá com o gosto do fel por ter mentido e manipulado a Duquesa, mas não teria outra alternativa se não a que tomei perante ela para poder salvar a criança.

A noite cai e com a permissão agora da Duquesa posso sair do castelo para providenciar um esconderijo para a menina poder dar a luz longe dos olhos da cidade.

Passo pela cozinha e pego o capuz com a mulher cega que agora sei que é muda também, vou em direção aos portões e o cavalo celado pelo guarda já me aguarda, vou a cidade encontrar minha meia irmã para lhe pedir ajuda....

Diálogo 76º

Sigo a cavalo até o centro da cidade.
Passando de frente a igreja toda estrutura da matança de hoje montada em praça pública o clima é denso, triste e pesado...
Até os guardas que se embebedam estão mais calados.
Em todo lugar o cheiro fresco da morte embriaga as narinas dos mais sensíveis.
Encontro o acampamento dos peregrinos onde minha irmã está com o marido.

Quando ela me vê corre em minha direção para um longo abraço caloroso, choramos por um tempo uma nos braços da outra...
Enfim nos olhamos e sorrimos, ela me bate e diz que quase a matei de susto pois achou que eu havia morrido.
Saímos para caminhar um pouco, eu ela e seu marido.
Eles me contam como ficou minha cabana e me entristeço por saber que está destruída  e abandonada, e nada mais resta lá.
Conto o que me aconteceu, a violência a dor e tudo mais.
Minha irmã se revolta, mais seu marido diz que Deus em sua infinita bondade não me abandonou pois estou viva para lhe contar o que houve, sorrio para ele e confirmo.

Eles não entendem como alguém me encontrou pois meu antigo lar ficava no meio do nada, perdido num pequeno paraíso cercado apenas pela natureza e de difícil acesso, longe de qualquer estrada, e de passagem para qualquer caminho.
Confirmo e os digo que se tratavam de malfeitores e que vi um deles perambulando pela cidade, fato é que passaram por lá e fui apenas mais uma vítima deles...

Meu cunhado se levanta nos deixando a sós para buscar algo para comermos.
Junto de minha irmã digo a ela que eles não foram os únicos a pisarem nos jardim das rosas escarlates.
Ela me olha angustiada e me abraça dizendo que eu não merecia tanta maldade contra mim, a afasto para olhar em seus olhos e digo que não se trata de outro malfeitor.
Lhe conto que encontrei a outra metade que completa minha alma, aquela que foi forjada aos olhos da Deusa mãe que completa a minha metade.
Aquele para quem dei meu coração ainda menina.

Em seus olhos vejo toda a felicidade dela por mim, e me agarrando me pergunta quem é e onde ele está.

- Minha irmã ele é um templário e foi para a Terra Santa.

Assim que termino a frase meu cunhado se aproxima com tigelas de sopa e diz que fez uma promessa.
Me contando revela que se minha irmã lhe der um filho ele fará a peregrinação para agradecer o milagre recebido, ele abraça minha irmã e vejo todo amor que um tem pelo outro.

Meu cunhado que ouviu com toda atenção o que eu acabara de dizer, não me recrimina por amar um servo de Deus, ele diz que o coração não escolhe a quem devemos amar.
- O amor move montanhas...
E me promete que se ele for encontrará o meu amado e lhe dirá que meu coração continua a pertencê-lo.

  
Diálogo 77°
Pergunto ao meu cunhado se ele talvez poderia me ajudar a reconstruir meu antigo lar, dentro de pouco tempo.
Ele me olha tentando entender por que preciso reconstruir a velha casa, e explico que minha intenção e levar a menina para que possa dar a luz ao filho que ela carrega lá, e lhes conto toda a história sobre a filha do Duque  da Duquesa...

Eles se espantam mas nada comentam, apenas dizem que irão me ajudar e minha irmã se oferece para ficar comigo enquanto cuido da menina.

Explico sobre a falta de tempo e que deveríamos apenas nós mesmos reconstruir o lugar para que ninguém saiba precisamente onde fica meu esconderijo, meu antigo lar.

Eles irão ficar na cidade por mais dois dias e partirão para lá para a reconstrução do lugar, me sinto feliz e nostálgica por poder voltar a minha casa, tenho saudade das minhas rosas que provavelmente não restou nenhuma, mas irei replantar todas para que perfume os novos dias que virão...

A noite perdura no céu iluminada pela lua chorosa depois das mortes despropositais do dia anterior.
Me despeço de meu cunhado e dou um longo abraço em minha irmã, monto o cavalo e volto ao castelo passeando pela cidade.
Perdida em meus pensamentos tristes por toda dor sofrida com a inquisição.


A cidade hoje está pomposa e logo a fama irá se espalhar como o vento por ser uma cidade abençoada pelos católicos.
Livres de todas as bruxas e popular por ter um inquisidor tão competente e conhecedor.

É triste ver a corrupção e a troca de interesse, de saber o quanto vale uma vida.

Passo em frente ao lugar macabro onde as matanças aconteceram e me vejo ali no lugar delas, é quase hipnótico e aterrorizante.
Parada ali perco a noção do tempo e só volto quando ouço os uivos de um lobo bem distante dali.
Regresso para o castelo camuflada pela a capa e observo logo a diante a dama de companhia com o ferreiro.
Ela parece discutir com ele, está disfarçada mas eu a reconheceria em qualquer lugar.

Dou a volta pela a entrada estreita onde o guarda do portão me aguarda ...

Diálogo 78° 
Amanhece sou chamada a sala principal junto a Duquesa e o Duque.
Estamos todas a menina eu e a dama de companhia. O Duque diz que não vê a necessidade da filha deixar o castelo para que possa aprender a ser uma esposa e diz que é algo natural e pronto, que já bastou o tempo que ela fora estudar fora, e aos berros diz não ser cabível.
 
Mas a duquesa é eloquente, de voz macia e precisa conseguiria convencer o mais rude dos homens, diz que a menina precisa de boas maneiras pois o casamento entre as famílias será de melhor convívio se a menina estiver de acordo com a família de seu noivo. 
O Duque resmunga porque ela não lhe deu um filho homem e só pode ter apenas uma filha, mas a Duquesa aprendeu com o tempo como deveria se manter quando o Duque a cobrasse por outro filho e de maneira sutil o convence que será melhor para a menina que ela vá passar um tempo fora.
 
O Duque pergunta quanto tempo será necessário e ela responde 7 meses será o suficiente.
E mediante a todo argumento ele nos olha e consente, amoroso com a filha lhe chama para um beijo e lhe diz para que se prepare para ser uma boa mulher e dar um filho homem ao seu marido. 
Com um sorriso falso ela diz ao pai que este seria seu maior desejo. 
Saímos do salão e vamos para os jardins do castelo e lá lhes digo que preciso ir na frente para preparar o lugar para o qual vamos.
A dama de companhia me pergunta para onde vamos e digo apenas que  será para um lugar simples e reservado.
Mas ela mantém as perguntas firmes dizendo que a menina não pode ir para qualquer lugar. Endurecida a olho e pergunto o que ela fazia do lado de fora dos portões com o ferreiro, ela fica nervosa e tenta desconversar. 
A menina porém reforça a pergunta e ela desconversa de forma hábil e com uma desculpa de que irá providenciar algo refrescante para a duquesinha se afasta de nós.
 
A menina me puxa para o lado e me pergunta como fiz para convencer sua mãe a deixa-la partir por este tempo, e se para onde vamos ela poderia avisar ao seu enamorado, e num sussurro lhe digo:
 
- Sua mãe sabe que você está grávida...
 
Seu semblante despenca e ela se torna fria e parece temer por algo. 

Diálogo 79° 
O dia passa leve e a noite chega, a menina está agitada com a ideia de sua mãe saber que ela está grávida de um filho bastardo.
 Seu medo é normal, pois foram proferidas palavras contra a criança que ela carrega em seu ventre. Nada digo para que possa ter um período tranquilo, mas o dia seguinte ao nascimento será o mais difícil. Preparo minha bagagem pois partirei amanhã para reconstruir minha casa que servirá de abrigo para a menina.
E no ato de guardar minhas coisas me recordo de como sai de lá machucada e ferida no corpo e na alma. Mas sou outra hoje e a pobre menina bruxa frágil está mais mulher e mais mágica hoje e o passado não mais me assombra. Enquanto arrumo minhas coisinhas meu coração se despede de mais um círculo que se fecha ali, se abrindo ao novo estágio da minha vida.
  A inquisição está na porta ao lado pronta para me pegar e queimar me transformando em pó, mas não antes que eu poça fazer algo contra ela, isso não... 
Sou levada a um passado distante onde brincava com minhas pedras e ouvia minha mãe cantar que eu era um ser mágico e especial, que brotei do ventre da Deusa para colorir a vida das pessoas que cruzarem meu caminho.
  E ouço o chamado da Deusa que me vem com o vento cálido que entra em meus aposentos, como a música mais linda que já ouvi e entendo o que ouço.
E sinto o que ela me pede, e sou eu e a vida de tantos em minhas mãos.
 
Não estarei só e nem desamparada, a luz mágica preenche meu corpo fazendo meu coração bater mais rápido me fornecendo toda força que preciso para os próximos dias que virão...

Diálogo 80°

Bem cedo estou pronta para partir e vou ao encontro da menina para me despedir.
Ao chegar aos aposentos da menina ela me recebe alegre e diz que sua vida está em minhas mãos, e faço reverência a ela mas ela se chega perto de mim eme dá um abraço e posso sentir seu medo.
Me despeço também de sua meia irmã, seus olhos parecem esconder algo.

Ela não é uma pessoa ruim, mas seu egoísmo é maior que ela própria. 
Talvez a vida que teve e o dissabor de tudo que viveu tenha endurecido seu coração e ela passou a viver colocando seus interesses na frente.
Posso ver em seus olhos que a traição dela para com a irmã não parou em só ter revelado a Duquesa o estado de gravidez da menina.
Com certeza ela recebeu algo em troca e sua devoção para que possa ter mais é visível.
Tenho pena dela mas devo me defender.
 
Porém o momento me diz para atuar assim como ela atua, pois será melhor para a segurança da menina, visto que ela gosta da irmã e não fará mal a ela enquanto eu estiver fora.

Enquanto estou saindo a menina me pede para procurar o chefe da guarda e pedir o cavalo  a ele, que este será um presente dela para mim por toda devoção a qual presto a ela.
Me viro a ela e digo que sou apenas uma escrava e minha obrigação é servi-la.
 
E sussurrando em meus ouvidos me diz que sou mais que isso, que sou uma boa amiga e que eu devo aceitar o presente.
Indo aos estábulos encontro o chefe da guarda que já me aguarda com um belo Andaluz branco, é uma égua de batalha altiva e majestosa.
Sua longa crina alva lhe dá toda imponência.
Jamais montei um animal tão poderoso. 
Ansiosa monto e sinto toda a musculatura dela, de guia fácil e obediente.
O chefe da guarda me olha sem entender e me pergunta o que fiz para merecer um cavalo real e o respondo apenas perguntando o nome da égua.
E entre dentes com ar petulante me diz que ela se chama Mirra.  



Diálogo 81°

Saio do castelo e vou direto procurar uma das pessoas que poderão me ajudar na reconstrução da minha casa.

Hugo foi o primeiro a me dar a mão mesmo sabendo que sou uma bruxa, independente de termos tido alguns problemas ele sempre me quis bem, e sei que posso confiar nele.
Vou até a fazenda com Mirra que é veloz e possui grande destreza, nunca havia tido uma montaria como ela, não isso não são para os plebeus.
Me sinto livre e forte com ela, logo ela se completa a mim e eu a ela nos interligando assim como a deusa nos permite.

Interação homem e animal, ela me dá a velocidade que peço e salta os obstáculos com facilidade, somos uma neste momento.
Logo chegamos á fazenda de Hugo e sou recepcionada pela pequena Eleonora, que ao me ver faz alarde a todos.
Hugo vem ao meu encontro e  espantado me olha e pergunta rindo:
- Quantos teve de enfeitiçar para ter um animal como esse?


O recrimino sorrindo fazendo sinal a ele.

Sua mãe nos observa ranzinza da varanda da casa, e com cara fechada entra puxando a nora e o menino que está bem grande e bonito mesmo  eu só o vendo de longe.
Ele manda a menina buscar algo para bebermos e me convida para irmos ao estábulo para podermos conversar..
Desmonto e guio Mirra até a água fresca do estábulo de Hugo.
Sorrindo me abraça e me olha da cabeça aos pés, diz que estou diferente mais mulher, e me diz que fica aliviado por eu não mais morar ali com ele, pois a tentação não é algo que um bom cristão possa ter por perto.
Rindo da brincadeira e entendendo muito bem o que ele me quis dizer.

Mas logo meu semblante muda e digo-lhe que preciso de sua ajuda.


Eleonora entra com o refresco e entrega, nos interrompendo com suas frases alegres e tagarelas, me contando como vai seu canteiro de rosas.
Mas Hugo preocupado com o que começo lhe contar pede á menina que vá ajudar a avó.
Logo estamos a sós novamente e lhe conto um pouco do que aconteceu comigo na cidade.

Diálogo 82°

- Então menina você esteve em apuros quando resolveu morar com aquela bruxa, todos desconfiam de seu movimento na cidade.

Mas fato é que ninguém tem coragem de falar nada, mas agora com a inquisição ela será um alvo fácil.
E o mais terrível pode te entregar direta ou indiretamente, visto que o inquisidor precisa de quantidade e não saber se as acusações procedem mesmo ou não.
Ouvir isso de Hugo é realmente assustador e muito próximo, pois a verdade é essa mesma o inquisidor é caro para a igreja, mas sua presença tem o apoio de todos.
Quanto mais pessoas forem dizimadas em nome de Deus, mais competente ele será, e isso penetra no meu coração e me acende mais a chama de justiça em meu peito.

Conto a Hugo sobre a menina Duquesa e ele se alarma, todos sabemos o quanto sofre um bastardo e ainda mais o quanto reverbera uma história como aquela.
Vivemos nas melhores terras do Rei, e o condado hoje é um coração pulsante da igreja católica se tornando a cada dia mais conhecido por todos.

Conto que preciso da sua ajuda na reconstrução do meu antigo lar, que fica próximo de onde ele me encontrou, para que a menina possa dar a luz ao seu filho.
Ele me questiona sobre o que farei quando a criança nascer visto que a Duquesa exigiu a  morte do bastardo.
E o respondo de todo meu coração, que das minhas mãos apenas trago a vida e não a morte.
Ele me entende e com a mão em meu ombro diz que irá me ajudar.

O dia passa tranquilo e rápido visto que estamos discutindo todos os planos antes da partida de amanhã, que é quando minha irmã e cunhado irão também.
Ao cair da noite, Hugo vai se preparar para partir comigo ao amanhecer e terei uma boa noite nos estábulos.
Mas jamais partiria sem ver o lobo, e com Mirra entro na mata até nosso lugar especial, mas não o vejo em parte alguma.
Acredito que foi caçar, assobio o mais alto que consigo para que saiba que estou ali e sem tardar ele aparece.
Ficamos ali eu e ele por um tempo entre afagos, e digo a ele que precisarei dele mais que nunca.
Que nossa história está apenas começando.
Diálogo 83º

Partimos em nossa pequena comitiva, eu e Hugo e logo nos encontramos com minha irmã e cunhado.
Lobo está próximo mas caminha pela mata fechada.

O trajeto é longo e cansativo, vamos a beira do rio numa velocidade boa apesar dos cavalos de minha irmã e cunhado serem animais de porte inferior, são animais para uma fazenda.
Hugo tem um bom animal apesar de não ser puro como Mirra, mas se trata do filho do seu cavalo quando usava nas cruzadas antes de se apaixonar pela mãe de sua filha.
A menina não vem conosco, não é seguro.

Não temos grandes problemas no caminho, encontramos alguns peregrinos e alguns fugitivos mas nada que provocasse o nosso alarde...
A noite chega e estamos longe ainda de nosso destino, mas devemos parar para nos alimentarmos e dormir um pouco, minha irmã e cunhado armam um acampamento improvisado eu e Hugo vamos caçar algo para comermos.
Hugo é excelente com a flecha eu nem tanto mas com sua orientação consigo acertar um coelho, mas assim que o acerto lobo aparece enorme e divinal sobre a mata quase matando Hugo de susto por ver um lobo gigante.
Ele mira em lobo e grito para Hugo que ele está comigo e vou em direção do meu amigo, quando me aproximo ele me acaricia.
Hugo ainda se mantém com medo de lobo.
Estamos todos em volta da chama ardente da fogueira e satisfeitos da refeição, assim como eu minha meia-irmã não teme aos animais da mata, ela prefere as corujas mas acha lobo um animal bonito.
Ela se abaixa perto dos olhos do lobo e o fita por alguns minutos, nada falo...
Os homens estão mais distantes profundos numa discussão acirrada sobre a inquisição e não nos ouve.
Minha irmã me olha e diz:

- Você sabe que este animal é um canal entre vocês não é?
Ele está com você minha irmã...
Apenas aceno em sinal positivo para ela, sei o quanto é difícil esta revelação pois ela abandonou a magia para acompanhar seu marido.
- Ele nunca partiu Alma, ele está a todo tempo com você, sou mais velha e sei mais que você mesmo não querendo ouvir a voz celta dentro de mim ela grita e precisava lhe falar.
lobo fica inquieto com os olhos da minha irmã, e ela se afasta indo até o marido para que possam dormir.
Eu me deito abraçando lobo, e adormecemos sob as estrelas que brilham mais esta noite...  




Diálogo 84 º

Ao amanhecer seguimos nossa jornada lobo agora conosco o que deixava Hugo muito desconfortável...
Dois dias a mais de viajem sem muito pelo caminho, tirando a parte que alguns ladrões passaram por nós mas na companhia de lobo nada tentaram, afinal quem mexeria com um lobo gigante?


Quando subíamos a colina que dava para a entrada do meu antigo lar não pude me conter e fiz Mirra disparar, precisava matar minha ansiedade.
Onde tudo começou, onde fui feliz e triste, onde pude ter tudo e nada.
Ouço o som produzido pelos galopes de Mirra e meus próprios gritos a incentivando a dar mais de si.
O lobo ao lado acompanhando o galopar apressado, acredito que tão ansioso quanto eu para chegar.


Passamos direto pela casa quebrada e rumamos aos jardins de rosas, meu coração batendo mais alto que o galopar do meu animal.

A boca seca o cabelo ao vento, a lágrima que teima em fugir de meus olhos.


Paro bruscamente diante do jardim morto, desmonto Mirra saltando dela  e caminho descalça por onde a beleza não mora mais.
O coração ainda acelerado numa mistura de emoção de passado e presente diante dos meus olhos,  e o choro quente que teima em me molhar a face.


Na esperança de ainda  ver meu amado diante de mim me viro para onde o  encontrei pela primeira vez, mas apenas encontro os olhos amarelos do lobo que se deita me observando.
Sorrio quando noto mais a frente entre as rochas uma rosa vermelha magnificamente bela me mostrando a renovação, e dali decido reconstruir tudo como era antes.


Os dias se passam e trabalhamos do nascer do sol ao cair da noite na reconstrução da casa e do jardim.
Minha irmã borda as almofadas enquanto treino com a flecha e a espada lá fora.


Ainda ouço Banelae e seu canto triste e lamurioso...
Consigo acertar um alvo a uma boa distancia e domino bem a espada, parto desta vida mas não sem lutar por ela.
Leio e escrevo muito bem agora, então escrevo tudo no meu livro das sombras, magias, rituais, passagens...
Espero deixar algo para quem o encontrar para que a magia não morra, esse é o dever de uma bruxa.
Vários dias se passaram e tudo enfim reconstruído, minha irmã e cunhado voltam ao seu antigo lar.
Eu, Hugo e lobo para a cidade.
Vamos trazer a menina para ter seu filho aqui neste lugar de paz onde as rosas perfumam o ar....


Diálogo 85º

Alguns dias se passaram na estrada e enquanto seguimos a cidade, fazemos planos eu e Hugo.

Quando chegamos há um verdadeiro festim.

Era a inquisição que sacudia os rumos da vida de todos, devastando tudo por qualquer motivo que o julguem justo.
O condenado  muitas vezes estava sendo responsabilizado por uma "crise da fé", pestes, terremotos, doenças e miséria social, sendo entregue às autoridades do Estado, para que fosse punido.
As penas variavam desde confisco de bens e perda de liberdade, até a pena de morte, muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena como o esmagamento de crânio e mãos e o pêndulo.
Alguns afogados outros mutilados tudo em troca de uma confissão que muitas vezes eram até mesmo dispensadas em busca de culparem alguém pelo infortúnio causado por algum problema.

Lobo está na mata longe dos olhos da cidade, mas me protege.
Hugo volta para a família no campo, louco para ver a filha novamente.
E eu enfim chego ao castelo e sou recebida pela Duquesa, que me pergunta direto e seco quando partiremos...
Respondo que a dois dias e ela parte sem me olhar a passos pesados pelo castelo.

Logo vou ver a menina que está em seu quarto deitada, quando me vê sorri largamente e se levanta e me abraça.
Sou sua esperança, alguém que a entende, mas sou eu também que tenho algo bem difícil nas mãos.
Estamos as duas a sós e ela me puxa pelo braço, para uma das cadeiras perto da janela e me aponta um guarda jovem lá for
a
.
Quando a olho nos olhos ela segura suas lágrimas e sorri pra mim, e pergunto-lhe quando ele chegou ao castelo.
Ela me responde que ele veio junto com alguns soldados da guarda de seu prometido noivo, pois eles veem para reconhecer o melhor caminho para que ele possa vir em segurança.

Mas ao me revelar isso a pobre menina fecha o cenho como um luto.

Seguros suas mãos e sorrio lhe transmitindo calma, e vos digo que partiremos dentro de dois dias, e de joelhos ela me pede para ajuda-la a fugir.
Quando nos viramos vejo os olhos de sua meia irmã, que sorri como se não estivesse ouvido nada, mas sei que estava lá a algum tempo
.

Ela nos serve limonada com um sorriso congelado de boneca, me arrepio ao mesmo instante.
Pergunto como ela está e me responde que maravilhosamente bem, está de casamento marcado com o ferreiro e a pouco irá conseguir um bom valor para viverem bem.
A frase me assusta, mas amavelmente ela me convida a descansar por conta da viagem
.


Me banho e devoro tudo que me é oferecido, enfim coloco uma roupa limpa e me deito e durmo, me perdendo em meus sonhos.


"Estou novamente nos jardins onde colho minhas rosas e me assusto em ver o cavaleiro em seu belo garanhão negro ao longe que vem ao meu encontro.
Lhe ofereço uma rosa e ele me envolve em seus braços.
Onde enfim me sinto em paz e protegida."

Com o tempo a saudade do meu amado fora se tornando algo intocável, algo que estava além das minhas forças, parei de lutar comigo mesma em relação a ele, mas nunca o esqueci um minuto sequer...
Estava finalmente pronta para aceitar meu destino, embora restasse no fundo da minha alma o desejo de te-lo em meus braços em nosso lar agora reconstruído com todo meu amor
.

Mas sinto que isso seria algo que parecia pouco provável de acontecer...


Diálogo 86º

O dia amanhece fervilhado, a movimentação fora dos meus aposentos está demais alterada com falatórios e ir e vir de todos os lados.
Rapidamente me troco, e faço uma longa trança nos cabelos.

Vou procurar a dama de companhia de minha senhora, mas não a encontro em parte alguma. Cozinha, lavanderia, varais lá fora, pergunto aos outros criados que não trocam mais que acenos comigo me respondendo que não a viram.
O ar pesado e tenso das pessoas, o vento morno, um pio agudo de uma coruja de manhã.
Não é algo provável mas ouço o que me deixa sem ar....
Prelúdio de morte injusta.
Começo a correr para ver se a encontro e nada, esbarro nas pessoas em seus afazeres. Chego aos jardins, paro estática e congelada com a cena que vejo...

Estou logo abaixo dos aposentos da Duquesinha e a fito na janela, congelada sem nenhuma reação.
Os olhos parados em direção a mim e aos soldados que arrastam o corpo do homem que ela tanto amava, de uma forma cruel e descuidada.
Aperto as mãos contra o peito sentindo a dor dela.
Ele está morto, cruelmente morto...

Volto a olha-la e ela se afasta da janela.
Desesperada corro ao seu encontro, passando entre todos como o vento.
É quando paro diante da porta dela sem saber o que vou encontrar lá dentro.
Empurro a pesada porta bruscamente e a fito colocando suas sedas dentro do baú.

- Milady?
- Quando partimos Alma?
- Amanhã senhora...
- Prefiro que seja hoje mesmo, logo após o almoço.
- Como queira minha senhora...
- Agora saia, me deixe comigo mesma!

As respostas frias e mecânicas me estremecem nada posso fazer para conforta-la.
Sei que não fará nada contra si mesma pela criança que carrega.

Assusto-me ao sair do quarto dela dando de cara com sua meia irmã, que vem sorrindo distraidamente.
Pergunto-lhe de onde ela vem, pois não havia encontrado, e meio que cantarolando diz que dos aposentos da Duquesa.
Passa por mim e entra nos aposentos da menina.

Me retiro indo aos estábulos para preparar nossa partida que fora adiantada.
Lá fora ouço os falatórios sobre o que acontecera, falam de traição a coroa e um delator.
Começo a entender tudo sobre o triste fim do pobre rapaz.
Preparo a carruagem onde ela vai e os homens que irão nos acompanhar até certa distância na estrada.
A tarde chega depressa e a menina já está pronta, parece uma boneca sem reação, sua dama de companhia não irá uma decisão da Duquesa sua mãe.

Nem precisei pedir-lhe para me poupar da companhia desta mulher, o destino mesmo se preocupou com isso.
Um dos homens fora levar para Hugo o recado de estarmos partindo antes do esperado.
A comitiva é pequena, afinal uma das minhas exigências fora que eles nos servissem até um determinado ponto do caminho e assim o fazemos.

A ida é mais lenta com aquela carruagem.
Anoitece e ainda estamos longe do nosso destino, montamos acampamento e nos alimentamos.
Longe de todos, recostada numa árvore somente eu e Hugo lhe conto do acontecido.
Ele engole a seco me olha e responde que foi melhor assim.

A resposta fria me leva a me retirar dali e ir para a mata onde lobo está, e lá eu e ele dormimos sob a lua a espreita das estrelas...


Diálogo 87º

Levantamos acampamento cedo, lobo pela mata e nós pela estrada.
Avançamos bem durante o dia e ao entardecer e logo chegamos no ponto determinado onde os outros voltam e vamos apenas nossa pequena comitiva.
 
A menina está ainda mergulhada em sua dor sem nenhuma reação quer seja tristeza ou revolta, nem dor.
Seus olhos longe esperando o novo amanhecer.
Seguimos adiante ao nosso destino, estamos todos a cavalo avançando mais rápido e mais leve.
Lobo se junta a nós o que me deixa mais aliviada.
Se afastando apenas para comer e beber água.

Na estrada encontro três dos mal feitores que me violentaram naquela noite escura da minha vida, a ira me sobe ao sangue eles se entreolham e riem.
Grito a Hugo para proteger a menina e faço Mirra disparar a frente, dois deles disparam atrás de mim numa perseguição intensa...
Um deles parte pra cima de Hugo e ouço as espadas sendo branidas com violência.
  
Mirra é rápida e logo estou longe dos outros dois, salto dela e a toco para que volte.
Consigo me esconder entre as arvores e acertar um bem no pescoço com uma das minhas flechas, mas não vejo o outro em lugar algum...
Sinto apenas ele me puxar pelo cabelo e o fio da sua espada em meu pescoço e o cuspir em minha face, luto contra ele mas ele é muito maior que eu.
Ele me joga no chão com violência, com a ponta da espada rasga minha blusa, estou ofegante e em desespero.
Uma enorme sombra se cria em cima de mim, é lobo que em um salto parte para cima dele dilacerando o rosto, me esquivo dali e corro em direção onde Mirra estaria, ao me virar vejo o enorme lobo acabando com aquele homem.

Monto Mirra e vou em direção a Hugo que está bem e a salvo com a duquesinha, logo a pouco mais lobo aparece.
Hugo aflito me pergunta se estou bem, e respondo que graças a lobo e ao templário, pois foi ele que me deixou  lobo para me proteger.

Não tivemos mais problemas no caminho e em mais alguns dias chegamos nos campos de rosas que estão ainda em botões, mais o tênue perfume já exala. 




Diálogo 88º

Enfim chegamos ao nosso destino, o bosque das rosas.
A menina ainda em meio estado de choque pela perda do seu amor verdadeiro, cuido dela com todo carinho sei o quanto seu coração está sofrido.
Ela passara toda a gravidez falando o mínimo que podia, eu e minha irmã fizemos tudo por ela, mas quanto a esta dor que ela sente nada podemos fazer.
Todas as luas ofereço a ela os rituais para que brande sua dor, mas sei que só ela pode aceitar sua nova vida.

A roda gira,e é chegado o dia de ela dar a luz.
Hugo me acha no bosque das minhas perfumadas rosas, treino com a flecha e lobo está comigo.

È um dia adorável, o clima fresco e o som das aves migrando dá a essa data um toque especial.
O parto corre tranquilo, sua dor é branda e ela dá a luz a um belo menino.
Quando vou coloca-lo em seus braços ela o recusa dizendo que é melhor para ela que não veja o rosto do menino que berra em meus braços, ainda com o sangue do parto.
Ela me pede para tira-lo de lá, pois não quer ouvir o choro da criança.
Minha irmã acaba de cuidar dela dando os pontos enquanto levo o menino enrolado em suas mantas.

Hugo vem ao meu encontro e me pergunta para onde estou levando o menino.
Eu o respondo que vou para o rio, ele imediatamente para e não me segue.

A beira do rio, somos apenas eu a criança e lobo.
Entro na água com o menino e o banho com a água mais pura aos olhos de Gaia, da Deusa e do Deus Pan.
Ao voltar para a cabana, a menina dorme profundo e descansa das suas horas abençoadas do parto.
Com o menino em meus braços digo a minha irmã tudo que me fora ordenado, que era meu dever acabar com a vida dele, mas que isso eu jamais faria.
Das minhas mãos apenas vida, assim como  me ensinara a velha bruxa.
Ela sorri, se lembra bem das palavras daquela quem nos criou.
Ele chora sente fome, minha irmã ordenha uma cabra e com o leite alimentamos o menino, enquanto o embalo em meus braços e o alimento me sinto completa.

Ele se parece com a menina, tem os olhos e a cor dos cabelos dourados dela.
Os dias se passam e ela se recusa a ter qualquer contato com a criança.

Já está bem e recuperada, porém triste

Caminhamos apenas eu e ela entre o bosque e ela me pede para criar o menino.
Me pede também para que no dia certo eu lhe revele quem ele é, que o crie para que seja justo e nobre, para que busque o trono ao qual terá direito.
Me diz que fará de tudo que for possível para que ele possa revindicar o que lhe foi tirado.
Ela retira o colar onde tem o brasão de sua família e me entrega.
Nos abraçamos em lágrimas e sentimento.
Pergunto qual nome devo dar o menino e ela me responde que eu devo escolher.
Me diz que ele será meu filho e dela somente quando ele for homem feito, me pede apenas que seja um nome digno de Rei.

Ela parte, Hugo e meu cunhado estão orientados a leva-la.
Ela me promete jamais revelar onde estou e dirá a todos que não sou mais escrava pois cumpri o que me fora pedido e ela assim desejou que eu fosse liberta.
Me deixa uma carta assinada comprovando o que diz.

Uma quinzena se passa depois de sua partida, eu e minha irmã nos revezamos para manter tudo funcionando em minhas terras.
Ao retornar da cidade, Hugo traz a filha e mais alguns homens e mulheres.
Me conta que a santa igreja os rondava e eles estavam sobre a mira da inquisição.
Em seus olhos vejo o temor e a sinceridade.
A notícia corre entre os borburinhos pelos que partiram em busca de uma vida de paz no bosque das rosas, sempre ordeno aos meus que visitem as cidades e veja se alguém precisa de amparo.
Os ofereço abrigo, e logo meu bosque tem outras casas onde vivem aqueles que estão sobre a mira da inquisição.
Alguns wiccanos, outros da própria religião mas por não concordarem com a inquisição se veem sobre a mira dela.

Diálogo 89º

- Calel você deve erguer as mãos querido, fica quieto que ela virá até você.
Pense nela como um pedacinho de você que ela pousará em sua mãozinha.
- Olha mamãe quantas cores ela tem!
- Foram as fadas que a pintaram Calel, os deuses permitem que a beleza esteja em todas as partes para que saibamos quão bom é ter a alma calma e serena e ver beleza em tudo e todos. Agora vá com a sua tia para a missa que eu e lobo vamos para a mata treinar.

Alguns anos se passaram, e Calel me chama de mãe.
É um menino adorável, recebe de mim toda educação wiccana e de minha irmã e cunhado educação cristã.
Nossa comunidade hoje é um misto de todos que se veem perseguidos pela inquisição, todos que aqui permanecem se tornam soldados para proteger o nosso lugar, nosso bosque das rosas.
Fomos vítimas de vários ataques aos longos dos anos, a inquisição nos quer todos na fogueira.
Há várias recompensas espalhadas para quem conseguir a minha cabeça e de mais alguns irmãos que vivem aqui.
Algumas notícias sempre nos chegam, pois para nos protegermos temos irmãos infiltrados lá.
Sabemos que a Duquesinha se casara com o Conde tornando suas terras de um alcance inenarrável, estando apenas abaixo da coroa.
Ouvimos boatos que ela mesma envenenou os pais por vingança da morte de seu amado.
Quanto a sua meia irmã a dama de companhia, teria se casado com o ferreiro porém foi delatada como bruxa, sofrendo a inquisição e logo sendo levada a fogueira junto com o marido que fora acusado de protegê-la.
Minha velha senhoria também foi vitima da inquisição.
Com tudo isso várias histórias surgiram sobre o bosque das rosas, muitos os procuram por ser um lugar de refúgio, porém apenas os de alma pura o encontram.
Uma das histórias mais engraçadas que ouvi, foi que eu voava em minha vassoura e enfeitiçava os que tentavam encontrar o lugar afim de fazer algum mal, e então morriam tentando encontrar o lugar.
Lobo também ganhou uma história bem curiosa, onde falavam de um lobo gigante que governava os outros animais afim de dizimar quem tentasse entrar em nosso bosque.
Fato é que esses mitos levantados afastavam alguns malfeitores mas não todos pois a recompensa pela minha cabeça e a do lobo eram altas.
Acredito até que algumas histórias tenham surgido da própria Duquesa para proteger o menino.
Sobre ele nada é dito, o que me dá certo alívio.

Hoje em nosso bosque tenho a companhia de vários bruxos e bruxas e fazemos nossas celebrações contando com a presença de todos em nosso covén.
Temos uma capela onde meu cunhado e irmã celebram a educação cristã para os não wiccanos, quanto a Calel ele recebe as duas.

A roda da vida gira fazendo os anos se passarem e os mitos se fortalecerem, com o tempo me tornei uma excelente arqueira, e monto guarda revezando com os que aqui vivem.

Diálogo 90º

Calel cresce forte e guerreiro, ele sabe que não sou sua mãe de sangue mas é dono de um coração tão puro como o da menina era...
Ele brinca com as outras crianças igual a todas sem saber quem ele realmente é, da importância que tem.
Hugo o faz treinar com a espada todos os dias, um irmão bruxo o ensina falar a língua dos animais, eu o treino com a flecha e a se esconder na mata.
Assim como outras crianças que vivem conosco.
Quando ele souber quem ele é terá a oportunidade de revindicar o que lhe pertence ou não, no futuro a escolha é e sempre será apenas dele.
Sua mãe teve filhos com seu marido, Calel tem
três meias irmãs que ainda são bem novinhas.
Nunca ousei leva-lo a cidade, seria perigoso de mais.
Mesmo ele me pedindo todos os dias.
Minha irmã mesmo com bastante idade enfim gera uma criança em seu ventre, meu cunhado está tão feliz que mal se cabe dentro de si.
Diz que irá fazer a peregrinação na terra santa para agradecer tamanha benção como havia me dito a anos atrás.
Minha irmã pede que ele abandone esta ideia, pois Deus está em vossos corações e não em um lugar específico na terra.
Mas ele é irredutível e diz que irá e lá procurará o Lobo Templário para lhe dizer que nós esperaremos por ele aqui em nosso vale das rosas.

Todos os dias eu e lobo tiramos algumas horas do dia para irmos no local onde eu o vi pela última vez, apenas ficamos lado a lado olhando as águas deixando o vento bater e sentir o cheiro da saudade entranhada em nossas peles.
Na maioria das vezes ele grune baixinho e eu deixo minhas lágrimas rolarem limpando a alma.

Hoje porém sinto dor palpável em todo o corpo, me sinto febril e enjoada.
Como tivesse sido vítima de mil espadas, lobo também não se sente bem seu grunir é doloroso e seu uivo prelúdio de morte.

Voltamos ao bosque para nos despedir de meu cunhado que está pronto para cumprir a peregrinação nas terras onde meu amado está.
Minha irmã está de 5 luas novas e pede para que ele não vá pois quando regressar talvez a criança já tenha nascido e ele não estará lá para recebe-la.
Porém ele se mantém irredutível e assim o levamos até o mais próximos que podemos para ele poder encontrar outros peregrinos com o mesmo destino que o seu.

Com a partida de meu cunhado sinto que não o verei novamente, a despedida é gélida e triste, tento não deixar minha irmã perceber o que posso ver.
Porém ela está muito emocionada e nada percebe.

Os dias se passam com mais alguns ataques as nossas terras, porém apenas aos extremos pois a localização precisa ninguém ainda conseguiu descobrir.
Sou conhecida como a bruxa do norte, senhora das rosas.
Aquela que domina e entorpece as flores afim de embaralhar os sentidos dos guerreiros que tentam invadir nosso vale.


Diálogo 91º


Estamos no Sabbat de Beltane e Realizamos ritual em honra à Deusa e ao Deus, seguido da celebração da Natureza, que consiste de banquetes, antigos jogos pagãos, leitura de poesias e canto de canções sagradas.
São realizadas várias oferendas aos espíritos elementais
Os membros do Convém dançam de maneira muito alegre, no sentido destrógiro, em torno do Mastro (símbolo fálico da fertilidade).
Eles também entrelaçam várias fitas coloridas e brilhantes para simbolizar a união do masculino com o feminino e para celebrar o grande poder fertilizador do Deus.
A alegria e o divertimento costumam estender-se até as primeiras horas da manhã, e, ao amanhecer do dia, o orvalho da manhã é coletado das flores e da grama para ser usado em poções místicas de boa sorte.
As rosas estão mais lindas e perfumadas do que nunca.
Vendo todos celebrarem a união do feminino e o masculino, sou invadida por uma onda de tristeza e lamúria em minha alma.
Monto Mirra e a forço a subir um morro íngreme, mas quando ela já não atende mais ao meu comando subo sozinha escalando até onde não mais consigo.·.

É noite e a lua lustrosa brilha junto às estrelas, e eu grito, e grito com todas as forças dos meus pulmões toda a dor angustiada de meu peito, toda solidão, toda saudade.
Abro um circulo mágico, estou irada, triste e amargurada, a saudade dói em minhas entranhas.
A chuva começa cair junto aos raios, minhas lágrimas se misturando á água da chuva encharcando meu vestido.
Dentro do circulo grito até perder os sentidos, me flagelo perguntando porque mereço tamanha dor.
Invoco a Deusa em tom de cobrança, com dor e desespero, giro treze vezes, quero respostas, preciso ouvi-las.
Logo perco os sentidos, nãos estou mais na no alto daquela montanha, estou no nada, no escuro.
Apenas ouço uma voz, que primeiro tem uma voz de menina-moça e ela me chama:

"- Alma o que quer ? Tudo que tem é reflexo do que você mesma escolheu."
Reconheço é a voz da Deusa em sua face de Donzela (representando a pureza e a busca pelo conhecimento)
Abaixo o rosto pois não sou digna de olha-la, mas me mantenho forte e lhe digo:
" - Oh grandiosa Donzela eu encontrei minha outra face ainda menina, mesmo antes de ele saber quem eu era e ali naquele monte ofertei meu coração em forma de uma pedra mágica para que eu pudesse encontra-lo quando nossos dias nos forem propícios, mas não entendo como não pude tê-lo. "
" - Alma você o teve, seu encantamento o levou até ele. "
Sinto o chão embaixo dos meus pés girarem e logo não estou mais diante da face da Donzela.

"- Alma o que quer? Tudo que tem é reflexo do que você mesma escolheu."
Reconheço  é a voz da Deusa em sua face.
Ela é a Mãe (representando poder, proteção e carinho maternal).
Abaixo o rosto pois não sou digna de olha-la, mas me mantenho forte e lhe digo:
" - Oh grandiosa Mãe eu pude encontrar minha outra face já moça, senti que ele era minha metade aquele quem me completaria, aquele ao qual meu coração pertencia, mas não entendo como não pude tê-lo comigo por mais tempo.
" - Alma você o teve pelo momento que se permitiu tê-lo menina, você conhece A lei tríplice tudo que intencionamos recebemos três vezes de volta, ele disse que partiria e você nada disse em troca para que ele pudesse ficar, e ele partiu sem ter a oportunidade da escolha a qual você não deu a ele, guardou as palavras apenas em seu coração assim como já fizera antes em outras histórias, e você sempre volta ao ventre da vida tendo sua despedida em forma passada.
Deixar de dar a escolha de ele ficar ou partir foi uma decisão sua, por isso colhe três vezes mais a saudade em vosso peito e o arrependimento de não ter dito as três palavras que moram ainda dentro da sua essência. "

Entre soluços e choro me dirijo a ela em sua fase mãe:
" - Grandiosa mãe, ele tinha uma missão. Precisava ir as terras distantes, pois seu coração estava lá.
Ele serve ao Deus dele e precisava partir, eu não poderia dizer que o amava. "

Com a voz macia ela me responde:

" - Filha minha, esta decisão era dele não sua, não há um Deus para ele e outro para você apenas crença diferente.
Todos são filhos e não cabia a você decidir a escolha dele, você não lhe deu pelo o que ficar assim como não o fez antes em outras vidas.
Enquanto isso não entrar em sua essência todas as voltas serão assim, da mesma forma.
Você sacrifica-se e espera, espera pelo dia em que poderão enfim viver juntos espera calma e serena, pois assim é seu coração, espera sem cobrança, pois sabe que o coração dele é seu e sempre será.
Por isso sempre se encontram, mais sempre se perdem.
Como disse você não lhe deu pelo o que decidir, e mais uma vez se viu entre a lei tríplice.
De joelhos e com
 as mãos no rosto, choro as lágrimas mais quentes que moram em meu peito.

Diálogo 92º

O choro crescente, o soluço copioso por ouvir tudo que eu mesma já sabia em meu coração, eu tremia, as lágrimas caiam molhando as minhas mãos tremulas.

Sinto o chão embaixo dos meus pés girarem e logo não estou mais diante da face da Anciã.

 “- Alma o que quer? Tudo que tem é reflexo do que você mesma escolheu.”
Reconheço é a voz da Deusa, Ela é a Anciã (representando sabedoria, conhecimento e renovação).
Abaixo o rosto, pois não sou digna de olha-la, mas me mantenho forte e lhe digo:

" - Oh grandiosa Anciã eu pude encontrar minha outra face mais deixei que parti-se sem dizer o quanto o amava, sem lhe dar a chance de ficar ou partir, sem lhe dizer - Eu te amo.
Agora temo ter o perdido para sempre "

" - Alma você o teve e sempre o terá em vosso coração, sabe agora o que no íntimo já sabia e então colha de bom agrado aquilo que plantaste, você é e sempre será aquilo que quis ser. Terá e tem aquilo que sempre quis ter e sabe disso, brande seu coração, felicite-o por ter tido nem que seja por pouco tempo nesta vida.
 Nem todos podem reconhecer sua outra face, nem todos tem a oportunidade de lhe entregar o coração e você o teve menina.
O aprendizado é evolutivo e em sua essência, você é aquela que abre a mão para e deixa partir pois não se julga digna de lutar pelo que merece.
Aprenda nesta ou em tantas outras que virão, pois o coração dos dois é puro e sempre irão se encontrar para que um saiba onde o outro está, pois um depende do outro para trilhar seu próprio caminho.
Até que enfim o dia em que você decida dar a ele a escolha, que é somente dele e não sua. Até lá deverá se despedir dele como seu amor de outras vidas. "

Entre soluços e choro me dirijo a ela em sua fase anciã:

" Amada anciã acalente meu coração para que eu possa seguir meus dias, traçando os caminhos onde eu deva pisar.
Brande meu coração machucado, me traga o conforto.
Pois foi eu, apenas eu que assim decidi meus caminhos "

Não sei por quantos dias permaneci ali no alto daquela montanha em transe, mas acordo abraçada a uma velha arvore que não pode oferecer mais nenhum fruto.
Estou fraca e suja, sinto que foram dias ali pois a terra embaixo de mim está fofa .

Minhas vestes molhadas da chuva.
Ouço o lobo uivando logo abaixo e a voz de alguns irmãos gritando por meu nome, dois deles conseguem subir onde estou, e quando vejo Hugo me atiro em seu pescoço e choro.
Eles me ajudam a descer e logo estamos no bosque onde me alimento e me banho.
Durmo em meus lençóis os sonhos mais revigorante em anos.



Diálogo 93º

Acordo com Calel afagando meu rosto, me sento e me perco em seus olhos azuis preocupados.
Abro os braços para recebe-lo, ele olha para os lados para confirmar que estamos a sós e mergulha em meu abraço.
E sussurrando me diz que um guerreiro não deve ser visto assim, então eu rio e afago seus cabelos dourados.
Ele me diz que lobo não saiu nem um minuto de perto, que estava ali a todo tempo que eu dormia.
Me levanto e me troco, convido a Calel para um passeio com o lobo.
Ele animado já está a porta, a passar por todos somos cumprimentados.
Seguimos até os limites onde estamos a sós num monte onde gostamos de olhar a lua, e onde lobo chama sua companheira.
Lá lobo uiva para ela e logo ouvimos seu chamado de volta, e ele dispara ao seu encontro me deixando junto com o menino.

- Mamãe porque você se afastou de todos? Ficamos preocupados, achamos que...
O interrompo colocando o indicador em seus lábios pois sei que ele falará dos inquisidores.
- Calel você deveria ter ouvido seu coração, não sou sua mãe de sangue como sabe mas temos uma ligação muito forte se eu tivesse partido você seria um dos primeiros a sentir.

Ele acena com a cabeça sabendo que o que digo é verdade, deita a cabeça em minhas pernas e me pergunta porque Sol não vive na comunidade conosco.
Lhe explico que ela é um ser da mata e sempre viveu livre já lobo ainda filhote foi viver com os homens então tamanha fidelidade dele para com a gente.
Ele diz que sabe que ele era do Templário, que também recebia o título de Lobo Templário e ri brincando com as palavras sabendo que elas chegam saudosas ao meu coração.
Ele me fala que não se lembra quando Sol apareceu e lhe respondo que foi a alguns anos atrás e ele ainda era menor, talvez por isso não se lembre.
Estávamos fazendo guarda na mata pois mais uma vez a inquisição tentava localizar onde estávamos.
Embrenhados mata a dentro junto com lobo conseguimos afastar nossos perseguidores, mas uma das flechas atingiram a Sol na mata que gemeu de dor e em resposta lobo disparou na frente nos guiando onde ela estava.
A levamos para casa e cuidamos do ferimento, mas ela sempre fora um animal livre e assim que podia caminhar ela se afastou.
E uivava para lobo e ele em resposta uivava em retorno, mas permanecia ao meu lado.
Não era justo priva-lo dele ser um animal Calel, e eu sabia que quando ele fosse ser um lobo normal não poderia mais ter a conexão com o templário.
Foi então que eu lhe disse " Vá lobo, não é justo mais de um ser privado de viver o seu amor. "
E então ele correu em direção ao sol atrás da loba, por isso a chamamos de por este nome.
E quando lobo voltou três dias depois, quando eu praticava uma celebração.
Olhei nos olhos de lobo e vi apenas o animal saciado e feliz.
Ele já não era mais puro para servir de conexão para o templário, mas sei que se fosse ao contrário ele teria feito o mesmo.
Um tempo depois Sol se aproximou para dar a luz a primeira cria de lobo, depois outra e outra, mas assim que eles crescem um pouco ela se afasta e os deixa conosco.
O seu é a primeira cria de Lobo com Sol, e assim como lobo me segue o seu te acompanha por onde você vai.
Assim que termino de falar olhamos para Lord, a cria de Calel que se aconchega perto de nós.

Calel me pergunta segurando a minha mão:
- Você sente falta do templário mãe?
e eu lhe digo:
- Todos os dias da minha vida Calel, todos os dias....


Diálogo 94º

Eu sabia que era como uma pedra no sapato para a inquisição, isso era um fato que crescia a cada dia e logo tudo se findaria pois o que vai contra um governo ou uma ideologia logo é dizimado.
Nossos contatos na cidade traziam notícias aterrorizantes que o próprio Rei cederia seus melhores homens para dizimar nosso bosque antes que todos os plebeus ficassem sabendo que poderiam fugir da inquisição e irem para lá.

A igreja necessita de fiéis assim como o governo necessita da massa, a dominação por medo sempre foi e sempre será a forma mais fácil de dominar o povo, por isso se cria os mitos e tabus.
Pessoas comuns não treinadas pela consciência ativa, não enxergam o poder de decisão. Assim são treinadas para aceitar o que lhe é imposto ou o que a grande massa aceita, aceitando como correto sem julgar se realmente é ou não.

Histórias sobre peste, ou que nos vales das rosas são praticados rituais de magia negra era espalhado aos quatro cantos amedrontando assim a todos e aumentando a ira do povo.
Se não houve colheita era suposto que as bruxas e bruxos voaram por cima das colheitas de madrugada acabando com a colheita.
Se os animais não procriam não havendo carne, a culpa é das bruxas que enfeitiçaram os animais.
Ou ainda se alguém adoece ou morre o motivo é que todos estariam condenados, pois o vale ainda não havia sido destruído.
Portanto o cerco estava cada vez mais perto do nosso bosque.

Nossos homens e mulheres que compunham nosso quadro de guerreiros eram na maioria plebeus da terra, wiccanos, pessoas comuns que fugiram da fogueira ou ouviram falar do nosso recanto e para lá foram.
Nossos animais eram cavalos de carga longe de puros sangues de guerras, nossas armas simplórias em vista dos que tentavam contra nós.
Forjadas nos próprios bosques por nossos armeiros.

Tínhamos a magia ao nosso lado porém eu sabia que nosso vale poderia ter fim, a inquisição se levanta forte e dourada.
Somos vistos como o mal e a vida de todos estava condenada.
Mas o perfume das rosas aquecia meu coração, era a renovação o desabrochar a vida...

Quando eu passeava por dentro do campo das rosas, ouvi a voz estridente de Calel me chamando.
Era chegada a hora de minha irmã que em uma das cabanas sentia as dores do parto, com meu cunhado tendo partido ela não teria a companhia dele.
Fora um parto difícil, minha irmã já possuía idade avançada mas a menina nasce bem.

Alguns dias depois minha irmã embala a filha em seus braços, me sento ao seu lado e no fundo dos seus olhos lhe digo:
- Cuide de Calel por mim?
- Porque minha irmã?
- Porque meus dias findam, e ele pode ser a liberdade de todos.
A mãe dele trilhou o caminho dele até a coroa, e eu a consciência, mas meus dias podem ser curtos e talvez eu não o veja se tornar homem.
Mas você porém o verá.
- Sim eu prometo....
Mas Alma você não pode partir desta vida sem viver o seu amor !
- Eu já vivi minha irmã, e vivo e viverei mais.
Os dias não são para os olhos de uma existência, o tempo da Deusa não é o tempo da carne, o espírito ama mesmo que a alma volte ao ventre da mãe.

Lado a lado ficamos ali olhando todos em seus afazeres, crianças brincando, animais indo e vindo, homens e mulheres em seus dias de magia, respeito e fé.
Diálogo 95º

Alguns anos se passam sem alardes maiores ou guerras mortais.
Alguns mais se juntam a nós fugindo da inquisição e de acusações contra a igreja, os encontramos na mata próxima e os trazemos para junto dos que aqui vivem.
O aumento do transitar de todos me deixa com pouco espaço, e como naquela noite necessito de um pouco de paz decido me afastar de todos.

Um pouco antes do crepúsculo neste dia eu peguei Mirra e cavalguei até uma montanha próxima dos jardins de rosas, a mesma onde pude ver as três faces da Deusa.
Escalei-a e montei acampamento.
Precisava refletir sozinha, devia gratidão por me mostrar tudo que me fora revelado.
Sempre conseguia acalmar meu coração e achar respostas quando sozinha dentro de um círculo mágico.

A noite estava escura, tomada por um mar de estrelas bailando sob meus olhos fixos no céu. Abro um circulo diferente com as rosas vermelhas ainda em botão e me deito no centro com a rosa mais bonita e perfumada entre as mãos.
Com meu corpo a repousar naquele círculo perfumado pude me entregar a mim mesma, um sentimento de poder, de força e fé.
Sempre minha alma inundava de magia quando eu estava repousando entre minhas rosas.
E inspirada pela grande mãe proferi esta oração, que era para mim mesma e para o meu amado....

Oração Celta

Que jamais, em tempo algum, o teu coração acalente ódio.
Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como lições de vida.
Que a música seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa, que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente, para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço, e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores, o teu viver e a tua passagem pela vida, sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica, só se sente.
Que esse amor seja o teu acalanto secreto, viajando eternamente no centro do teu ser.
Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração, e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum, tu esqueças da presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz!

Quando terminei a prece senti um leve toque no meu ombro, abri os olhos e nada havia ali que não fosse eu mesma...
Abro o circulo de rosas e chegando o mais próximo ao beiral de pedras as atiro de lá, formando uma chuva de pétalas.
Que o perfume delas atravesse os mares e vá ao seu encontro meu amado Templário.
Com as lágrimas em meu rosto proclamo:
- Não se sinta triste guerreiro pois não me sinto, e um dia nos veremos novamente.
Mesmo que não seja o dia desta carne, mesmo que não seja o dia desta vida.

Diálogo 96º
Passamos um perigo bem próximo.
Um caçador de recompensa chegou a entrar em nossas terras com alguns poucos homens e perdemos alguns homens e mulheres que estavam na guarda.
Por sorte conseguimos capturar o chefe deles, os outros foram mortos no combate.
Os fazemos falar, e consigo arrancar dele que o esposo da Duquesinha sabe da existência de Calel e está usando a inquisição para chegar a nós e acabar com a vida do menino.
Pergunto sobre a Duquesinha e ele me diz que com a morte dos pais ela hoje vive praticamente refém do marido, e que não sai do castelo.
Apenas cuida das meninas e vai as missas.

Me entristeço pela menina, e pela vida que teve.
Porém a admiro que mesmo sobre tortura não tenha revelado os caminhos precisos que levam a corte até seu filho que aqui vive.

O nosso refém tem tanto medo de nós e das histórias que contam sobre os bruxos que ao se soltar das mãos de Hugo, perfura o próprio estomago com a espada que consegue pegar das mãos de uma de nossas guardas, morrendo logo diante de nós.

À tarde faço uma reunião com todo povoado dos vales das rosas, e explico as necessidades de fazermos armadilhas em torno de nossas terras.
Círculos de proteção devem ser feitos em volta do povoado, para que passem por nós e não nos vejam, aos cristãos peço que suas orações sejam voltadas para a proteção do povoado.
Necessito da ajuda de todos que podem partir pela mata a fim de montarmos desvios e armadilhas, precisamos de armas novas e de animais.

Divido os grupos para que possam ir as cidades conseguir o que precisamos.
Uns vão para a pequena cidade onde minha irmã vivia para comprar animais e algumas poucas armas, mas o outro vão bem para o olho da inquisição para conseguirmos armas e materiais.

Eu ainda divido quatro grupos para criarmos as armadilhas em torno do nosso vale.
Cada grupo é acompanhado pelas crias de lobos, pois eles nos ajudam na mata.
Deixamos alguns no centro do vale das rosas com as mulheres que deram a luz a pouco, os mais idosos e crianças.
E alguns homens que ficam na proteção.

Minha meia irmã administra o nosso lar e ajuda a olhar as crianças das mulheres que seguem na mata conosco.
Advirto as crianças para que não se afastem do centro, permaneçam sempre em grupo e perto dos lobos.
Falo separado com Calel, para que obedeça a tia e não saia do vale e nunca se separe de Lord.

Parto em direção à mata levando comigo minha égua Mirra e Lobo.
À medida que avançamos na mata percebo que sua companheira Sol está próxima também.

A noite chega eu e os que levo comigo ainda estamos trabalhando, arduamente.
Fazemos buracos, cortamos árvores a fim de dificultar o acesso, usamos espelhos para criar labirintos.
Cansados, acendemos uma pequena fogueira apenas para nos aquecermos.
Assamos um coelho, e nos deliciamos felizes e revigorados por um dia produtivo.
Todos conversam animados em volta da fogueira onde fazemos planos.
Uma das moças dançam em volta da fogueira, logo o vinho que nos aquece dá a animação aos outros que aqui estão que começam os cantos celtas e usam a natureza como instrumentos.

Somos 13 no meu grupo, entre homens e mulheres, logo todas as mulheres levantam a voz num lindo cântico da mata.
Uma das irmãs me puxa para a comemoração, tento recusar, mas elas insistem.
Em volta de mim, soltam meus longos cabelos negros, e me conduzem alegremente.
Uma delas colhe uma bela flor branca na mata e coloca em meus cabelos.
E sou novamente eu, dançando e cantando com elas.
Danço durante algum tempo alegrando meu coração, dançar e cantar revigora a alma e o corpo.
Lobo deita e coloca a pata na frente dos olhos.
Rio o riso solto, olhando para ele.

Mas à medida que todos estão compenetrados, me afasto e se esgueirando corro para a mata, Lobo logo ao meu encalço.
Encosto-me a uma velha árvore, e ele coloca a cabeça em minhas pernas.

- É meu amigo, eu cuido de você e você cuida de mim.
Até que nossos dias se findem...

Ouvimos o uivo de Sol um pouco mais a frente, e abruptamente lobo ergue a cabeça e me olha nos olhos, sorrio e digo para ele ir...
E levanta e parte atrás de sua amada.
Sorrio e falo sozinha:

- Pois é, somos apenas eu e ele até que seu sol o chame e ele vá em direção a ela...

Diálogo 97º

Fico ali contemplando lobo, e é impossível não pensar em meu Lobo Templário...
Fica em paz meu amado porque estou bem.
Cercada de amigos fieis e seu irmão Lobo é meu guardião.
Acreditai meu nobre Cavaleiro ele honrou teu nome, protege-me com todas suas forças.
Não te preocupes comigo aqui do outro lado das águas profundas, tens teu destino a cumprir junto aqueles que estão ao teu redor.
Assim eu liberto teu coração para que sigas em paz a jornada que os deuses escolheram para ti nessa vida.
Mesmo que a noite termine, tenho certeza que nos reencontraremos antes de um novo amanhecer.
Adormeço, mas em meus sonhos vejo a face de Balenae, junto com suas lamúrias.
Me assusto ao ser tocada, o céu ainda escuro e Hugo com o rosto transfigurado que me fala quase sem fôlego.

- O menino não está no bosque das rosas ele e outros saíram escondido e levaram cavalos.
- Estamos há três dias fora do bosque, quando deram por falta do meu filho?
- Há três dias, desconfiam que saíram logo atrás de nós.
No inicio achavam que brincavam próximo, mas a noite findou e se colocaram a procurar.
Mas com o passar do tempo e não o encontrando-os mandaram dois homens nos avisar.
- Eles devem estar longe há três dias, mas eu sei para onde Calel foi...
Sei que está na cidade.

Calel sempre fora louco para ir conhecer a cidade, seu sangue o chamava.
Monto Mirra e assobio para lobo que trota ao meu lado.
Hugo vem logo atrás em seu cavalo com mais dois homens, o resto fica e continua a tarefa de proteger o vale.

Digo para Hugo voltar, mas ele insiste em partir comigo, ao meu lado galopando digo que tudo pode acontecer hoje, imploro para que volte para sua filha.
Mas ele me diz que ela já é moça e fizera tudo por ela, já está prometida e ensina as crianças a ler.
São dias de viagem, nos esgueiramos a fim de não encontrar ninguém no caminho.
Caçadores de recompensa, religiosos fanáticos que possam nos identificar.
Eu e Hugo, temos nossos rostos espalhados aos quatro ventos por todas as terras.
Nossa viagem acontece sem alarde pelo caminho, mas quando chego próximo à cidade aviso a Hugo que irei me entregar à inquisição.
Ele me repreende e diz que devemos pegar o garoto e voltar.
Abro os seus olhos e lhe mostro o quanto é louco seu plano, e que assim todos morreremos.
Ordeno aos dois homens que vieram conosco ficarem nos limites da cidade onde ainda podem se esconder, um é excelente com a espada outro um arqueiro e um bruxo poderoso.
Me abaixo e falo com Lobo:
- Aqui termina sua missão comigo meu companheiro, está liberto de sua promessa para com o Templário meu amigo, há cumpriu até o dia de hoje.
- Peço a ti meu amigo que faça uma promessa a mim, que cuide de Calel e que não deixe nada de mal acontecer a ele e nem ao bosque das rosas.

Me despeço e eu e Hugo, e partimos ao nosso encontro mortal.
Ao chegar aos limites somos recebidos por toda a guarda real, que nos cercam.
Inabalada jogo minhas armas ao chão, Hugo segue o mesmo.
Somos levados aos calabouços da corte, passando por toda a cidade que nos fitam.
Alguns assustados, outros aplaudem, e gritam xingamentos e injúrias contra nós.
Trancados em celas separadas, sou jogada no fundo de uma por um guarda que cospe em mim.
Muitas horas depois aparecem em minha cela o inquisidor, e uma comissão religiosa.
Assim bem como a menina, hoje mais velha, mais impassível, e de olhar duro.
Apenas digo-lhes:
- Pronto já tem o que querem, soltem as nossas crianças e comecem a inquisição...

Diálogo 98º

Eles gargalham enquanto se entre olham, mas ela se mantém implacável.
Parece até mesmo não respirar, por fim os olha e diz:

- Soltem as crianças, não temos acusações contra eles...

Todo o burburinho começa, e dizem que os meninos carregam o mal que devem ser julgados.
Um julgamento justo.

Ela repete a frase e acrescenta que eles já têm o que querem e enquanto seu marido estiver fora às decisões mais importantes cabem a ela.
Todos saem da minha cela, me deixando ali no chão frio, amarrada, com sede e fome, apenas o som de ratos me acompanha.
O uivo do lobo ao longe mantendo a guarda como pedi, ele e Sol num cântico quase hipnotizante não me deixando enlouquecer.
Perco a noção do tempo, não sei se é dia ou noite.
De tempos em tempos recebo a visita da santa inquisição, que me obriga a ajoelhar e pedir perdão a Deus.
Me mandam negar minhas visões e admitir que falo com o próprio demônio.
Me flagelam, sou mergulhada em tonéis de águas geladas, espancada, chicoteada e tenho o corpo perfurado e mais uma vez introduzida às questões religiosas.
Meus cabelos são cortados, estou suja, faminta e acho que ficando louca.
A loucura a um ponto da sanidade.

Estou no canto da cela escura, onde os ratos não temem mais a minha presença e alguns até avançam em mim.
A cela se abre e uma chama adentra.
O capuz é abaixado e vejo o rosto da menina que me traz pão, sopa, vinho doce e carne salgada.
Como desesperada, me tornei um animal faminto e acuado.
Ela me toca e olho em seus olhos, e neles vejo a gratidão.·.
- Me perdoe Alma das Rosas, por favor, me perdoe senhora das rosas escarlates...

Respondo que se eu tiver que morrer para que alguns tantos possam viver então a troca é válida e justa.
Ela me diz que não pode fazer muito, mas como o marido está longe ela ainda tem algum poder na voz.
Pegando as minhas mãos diz que as crianças estão bem, e fazendo de tudo para que elas não sejam julgadas, e me pergunta qual deles é seu filho.
A respondo que o mais nobre, os de olhos cor de paz e cabelos da cor do sol mais brilhante.
Pergunto-a se ele sabe que estou aqui, e ela nega.
Pergunto sobre Hugo e ela diz que ele foi morto há alguns dias, pois não revelou onde ficava o bosque.
O peito dói por perder um amigo tão fiel.
Peço para que me deixe só e assim ela o faz, mas deixa a chama acesa.

Me deito e tenho um tipo de sonho perturbado e desesperador, lobo uiva o choro mais alto e rasgado que já ouvi.
Meu coração bate acelerado e sinto dor por todo meu corpo.
Grito e choro ao mesmo tempo.
Logo entram em minha cela guardas e o inquisidor.
Gritam e me acusam de visões, magia negra, que chamo os demônios para me ouvirem.
Sim é uma visão, ou pior falta dela.
Nada vejo mais...

Os dias se passam, estou doente e me deixam a morte, mas meu corpo teima em resistir.
Sei que a menina faz tudo para adiar meus dias, meu julgamento perante praça pública, mas se eu continuar viva para o inquisidor é uma prova da bruxa que sou.
Muitos já teriam morrido naquela cela, mas meu coração teima em resistir.

Quando ela pode recebo sua visita, quando não alguma serviçal.
É uma parte do que me mantém sã.
Fico sabendo por ela que as crianças menores não foram julgadas, mas sim soltas na floresta a própria sorte.
O lobo de Calel fora abatido, mas ele estava dentre as crianças livres e que a menina enfim conheceu seu filho e rever seu colar, pois Calel nunca se separa do brasão.
Outros dois meninos por terem mais de 10 anos foram julgados pela inquisição e mortos.·.
Há dias não ouço lobo, espero que tenha guiado as crianças até os dois homens que montavam guarda nos limites da cidade e voltado em segurança para o bosque.

Há alguns dias quando revelei a uma das serviçais que a realidade se misturava com a minha mente, ela me trouxera um caderno e tinta para que eu pudesse escrever.

Esse não é o meu livro das sombras, escrevo para não enlouquecer...

Me disse que eu deveria escrever todas minhas lembranças para que assim não me esquecesse de quem sou, e é isso que faço agora.
Mas à medida que as folhas se findam sei que minha hora chega às lamúrias da Deusa antes ouvidos de tempos em tempos agora é melodia que me acompanha do abrir dos meus olhos até o fechar deles.

O inquisidor vem todos os dias em minha cela, hoje ele perfurou todas as manchas de nascença, por várias horas até eu não sentir mais meu corpo, sou chicoteada, esmurrada, tenho o braço torcido e sinto febre delirante.
A dor insana e insuportável me obrigando a admitir que sou bruxa.
Sabendo que já deve haver tempo suficiente para que todos estejam a dias de viagem enfim desisto e admito.

E de lá sai triunfante com a minha confissão.

Diálogo 99°

É a ultima vez que escrevo algo.
Não sinto medo, pois não estou só.
Não sou como eles que creem em apenas uma história, como sempre me disse minha mãe à velha parteira.
“Voltamos ao seio da grande mãe embalada com seu suave cântico, e assim como ela voltamos como uma árvore continuando o ciclo "

Entram em minha cela algumas serviçais e o inquisidor.
Com deboche me diz que tenho sorte, pois poderei morrer como uma princesa, que a própria condessa me garantira uma ultima refeição, banho, e cuidados.
Ele sai e sou levada, meu corpo dói, não é mais meu corpo...
Estou limpa, o cabelo antes longos hoje cortados de qualquer forma, marcas de agressão formando camadas roxas e putrificadas pelo corpo, alguns cortes, feridas e mordidas de ratos.
Mas a túnica longa o cobre, negando aos olhos de todos a verdadeira forma de se arrancar de alguém uma confissão, seja ela real ou não.

Antes de sair daquela cela, o inquisidor entra e diz que devo ser uma mulher muito especial, pois até  Lady RedFord está ali para me ver.
Não sei quem ela é além dela receberei a visita de um religioso que faz uma oração para mim a pedido da menina.

O inquisidor parece bastante irritado por conta desta mulher.
O padre sai, assim como as serviçais, apenas o inquisidor e alguns guardas permanecem.
Logo ele faz reverencia a bela mulher que entra.
Ela me olha e caminhando em minha direção e me abraça.
Fico parada imóvel, sentindo o abraço e dor pelo meu corpo flagelado.
E num tom alto olhando para trás de si ela pede que saiam.
Na mesma hora os guardas saem, ficando apenas o inquisidor.
Ela então o olha e diz que os minutos que tem comigo foram permitidos e que estes deveriam ser a sós.
Ele sai com a expressão de ódio pisando firme em suas botas.
Ela me diz que veio o mais rápido que pode, e só está ali, pois encontrara meu cunhado no barco que seguia para terra santa.
Meu coração acelerado não mente pra mim...
E me conta como acontecera a partida do meu amado deste mundo.
Que lhe fora permitido o regresso mais para proteger os peregrinos da armadilha, deu sua própria vida por muitos.
E que ela mesma foi uma das que se salvaram graças a este ato dele e de seus companheiros.
E que ele me amava.

Ela ainda me diz que tentara de tudo para que a inquisição não me abraçasse com a morte, toda sua influência e a do seu nome, mas eu já havia confessado e que me negara dizer onde era o bosque das rosas.
Sorrio e pego suas mãos, para tranquiliza-la.
- Fiz tudo que eu deveria ter feito, sou tudo que escolhi ser, amei e fui amada, sorri, chorei, vivi.
Peço a ela que fique comas minhas memórias que estão escritas em um caderno que está em minha cela escondido e que escrevesse as histórias que o templário lhe contou, para que nas palavras estejamos juntos.
Ela me abraça, e me coloca o crucifixo que vi em seu peito no dia em que meus olhos pousaram em meu amado Lobo Templário pela primeira vez.
O toque do crucifixo em minha pele me faz voltar ao passado, onde dormi aninhada a seu peito enquanto você me beijava os cabelos enterrando o rosto em meu pescoço, roçando sua barba em minha pele.

Porta adentro com o bater mais abrupto que poderiam fazer os guardas entram e sou levada a praça pública, onde gritam o povo e os religiosos e clamam pela minha morte.
O inquisidor lê as minhas acusações, e diz que me perguntará novamente, se eu confessar posso ser poupada
Me pergunta se há um bosque onde vivem pagãos bruxos.
Nego e digo que isso é um mito.
Me pergunta se sou protetora de algum bruxo que pode em breve destruir a cidade.
Nego e digo que viviam comigo apenas aquelas crianças que por fome acabaram vindo até a cidade.
E me perguntam se sou uma bruxa.
Digo que sim, que sou uma bruxa!
Aqui em cima entendo a irmã que vi há anos atrás queimar, e como ela perdida em mim entoo um cântico de paz murmurando.

Os olhos de  Lady Redford se encontra aos meus.
Logo sou vendada, e uma corda é passada pelo meu pescoço.

 “Milord meu Lobo Templário, perdoai por não conseguir ser mais forte meu eterno amado, logo estaremos juntos, meu coração pertence a ti por toda eternidade,”.

Alma das Rosas

Lobos uivaram durante sete dias e sete noites.
Me fora permitido cuidar do corpo dela sem vida, era o mínimo que podia fazer por eles dois.
E assim o fiz.
Ela fora enterrada no bosque das rosas, onde se conheceram.
Ali ficaram juntos,
 ela em seu corpo sem vida e ele em espírito pelo colar em seu peito.

" E foi assim que eles se uniram o Lobo templário e a Princesa Bruxa do bosque das Rosas seguindo a caminho do amor eterno "

Lady RedFord
  
  








Diálogo 100

Desde menina nunca me encaixei bem com os outros ao meu redor, com outras crianças era a estranha no ninho. 
Eu era diferente e gostava de ser diferente, muito clara e com cabelos e olhos negros sempre chamei a atenção, algumas diziam que eu era sombria.
Minha diversão era transformar minha aparência em mais sombria ainda, enquanto todas se divertiam com cores alegres e queriam ser princesas eu queria ser a bruxa.
Nas unhas eu usava cores escuras, isso antes de criar o esmalte preto misturando tinta de caneta preta com esmalte incolor.

Outra coisa  que sempre tive paixão, criar e modificar as coisas.
Minha mãe católica lutou para que eu fizesse a comunhão, por fim desistiu quando disse que aquele lugar não era pra mim.
Logo após este fato ocorrido uma professora explicava em uma aula sobre a inquisição acho que eu tinha por volta dos 9 anos, foi como se eu estivesse voltado no tempo tudo fazia sentido e explicava minha fascinação pelos elementos, minha coleção de pedras, leitura de mão, signos, estrelas e tudo mais.
Quando ela disse que os esquerdos ( canhotos ) eram queimados na fogueira pois isto era visto como bruxaria, as crianças começaram a me chamar de bruxa na escola. Tendo em vista que eu era a única da classe que era canhota.
Mas aquele fato explicara tudo em anos.
O tempo foi passando e minha fascinação pelo ocultismo aumentando, e depois de tanto tentar me encaixar encontro a wicca.
Tudo que citei ao longo da história escrita, tem base wicca, rituais, orações, deuses e deusas citados, são todos reais.
Escrever é um dom que descobri a pouco através de minhas poesias, escrevo a pouco mais de dois anos.
Alma das Rosas é o pseudônimo que adotei por ser quem sou e ele me veste com a melhor roupa que posso escolher
Alma por que antes de ser corpo eu sou alma e das Rosas pois sou fascinada por essa flor maravilhosa, tanto que a trago como tatuagens pelo o corpo.
Foi pra mim uma honra e um prazer escrever este dueto, por poder falar um pouquinho do meu mundo.
Falar sobre a inquisição que não foi um ato meramente religioso e sim político onde pela força se domina os que dependem dos governantes.
Homens e mulheres religiosos foram mortos junto com os pagãos, apenas por que era preciso condenar alguns afim de doutrinar milhares.
Agradeço a todos que me leram e a um amigo especial que me incentivou a escrever esta bela obra.

ONDE DORME O LOBO

Lá onde dorme o lobo, caminhei cautelosa...
Passo a passo, 
Senti medo não nego,
Senti um arrepio...
Lá onde dorme o lobo, eu quis ir, quis toca-lo...
Passo a passo, 
Pé ante pé,
Coragem me faltava...
O cheiro do lobo me enebriava, 
Transformava o medo em conquista,  
Lá onde dorme o lobo, me ajoelhei...
Nossos olhares se encontraram,
E eu o entendia,
Ele me entendia,
Então pude toca-lo, e beija-lo...



* Eu sou tudo que sempre quis ser!
 Luna Araujo - Alma das Rosas
    



6 comentários:

  1. Que história linda *-*
    To lendo e to amando, retrata tão bem a dor de uma paixão perdida e a época faz com que nos bruxas, nos identificamos com a personagem, estou no diálogo 13 e tô adorando !

    | http://magiaempensamentos.blogspot.com.br |

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    1. Grata Bonny, você não tem ideia da alegria que me deu com seu comentário. Abençoada seja irmã )O(

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  2. Gata estou adorando a leitura, muito obrigado que as forças do universo ti abençoe...

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  3. Acabei de ler e estou encantada.
    Algumas vezes confesso que meu coração disparou e em outras as lágrimas. desceram.
    Parabéns amiga!!

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    1. Fico feliz que tenha gostado, sua opinião é muito importante para mim...

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